Daíra no Rio de Janeiro
Foto: Floriza Rios

Tocar música dos outros é algo peculiar. Pode ser uma surpresa no repertório, uma curta homenagem ou até mesmo uma brincadeira… Mas, qualquer seja a natureza da cover, geram-se comparações. É inevitável lembrar da original e, a partir daí, julgar se a versão ficou boa ou não. Existem casos em que a versão é boa, mas incomparável à grandiosidade da original. Não é o caso de Daíra, que, além de entregar impressionantes covers, ainda deixa os espectadores boquiabertos com seu talento musical.

Daíra lançou, em 2016, o álbum Amar e Mudar as Coisas, composto inteiramente de releituras de canções do saudoso compositor cearense Belchior. Com a turnê desse lançamento, a cantora já percorreu o Brasil e voltou ao Rio de Janeiro recentemente para reapresentar seu imersivo e potente show aos cariocas.

A apresentação aconteceu no último dia 23, no Teatro Fashion Mall. A produção do show ficou por conta de Rodrigo Garcia (que já trabalhou com Cássia Eller e Júlia Vargas), e teve assessoria da PRISMA.

 

Belas e respeitosas versões para as músicas de um dos maiores compositores nacionais

Antes de qualquer análise, vale destacar que a beleza da apresentação não está apenas no fato de que são clássicos do repertório de um renomado compositor nacional. O modo como as músicas foram vestidas, cada arranjo e cada instrumentação, tornaram as versões ainda mais especiais.

A roupagem, que mistura gêneros nordestinos com elementos de folk e blues, foi essencial para destacar o talento não só de Daíra, mas como também de sua banda. O grupo, formado por Augusto Feres (guitarra/violão), Magno Souza (baixo) e Lucas Videla (bateria, tocando pela primeira vez nesse show), foi quem deu vida aos novos arranjos, que ao mesmo tempo destacavam o talento individual de cada um e demonstravam respeito pela obra atemporal de Belchior.

Carismática, Daíra mostrava interesse pelo interesse do público, que, por sinal, acompanhava a cantora conforme cantava as já consagradas letras. Ela ainda provou seu talento instrumental além, é claro, do performático. Ela completou as canções tocadas com instrumentos variados, desde violão até triângulo e charango (um instrumento de cordas da família do alaúde).

Da esquerda para a direita: Augusto Feres, Daíra, Lucas Videla e Magno Souza. Foto: Floriza Rios

O repertório

Em pouco mais de uma hora de apresentação, Daíra e sua banda entregaram 18 canções. Nelas a cantora demonstrou firmeza ao interpretar as canções de Belchior e um desavisado poderia facilmente achar que as músicas eram composições da própria artista. Sonhadores poderiam até falar que era como se o falecido compositor tivesse escrito as músicas justamente para a voz da carioca.

A setlist passeou por toda a discografia de Belchior, desde o álbum de estreia (de 1974), que marcou presença com músicas como “Na Hora do Almoço” e “Mote e Glosa” (a primeira faixa da estreia). Todos os álbuns, mais especificamente os primeiros, tiveram espaço semelhante no repertório, com uma média de 2 a 3 músicas para cada. Foi uma viagem aos saudosos tempos de Belchior.

Foto: Floriza Rios

As participações

A potente voz de Daíra impressionou a todos no teatro, mas não foi a única voz a ser ouvida. O show contou também com as participações dos compositores Claos Mozi e Lucas Fidelis, ambos artistas independentes. Com Claos, Daíra cantou a canção “Água Morta“, canção-protesto que menciona os acontecimentos da cidade de Mariana, em 2015. Logo depois, a dupla cantou “A Palo Seco“, canção do homônimo álbum de estreia de Belchior lançada originalmente em 1974. “Agora, Claos vai cantar comigo uma do Belchior, porque toda participação em show meu tem que cantar uma dele”, brincou Daíra.

Logo depois, Lucas Fidelis subiu ao palco. Juntos, fizeram um dueto para “Aguapé“, colaboração entre Belchior e Fagner lançada em 1980 no álbum Objeto Direto. Ainda cantaram uma canção autoral de Lucas, “Pouco Troco“.

 

Destaques

Vale destacar alguns pontos específicos além, é claro, da organização do evento e do carisma de Daíra.

Como já dito, os diferenciados arranjos foram pontos positivos. “Meu Cordial Brasileiro“, faixa originalmente lançada no álbum Era uma vez um homem e seu tempo, de 1979, não chegou a entrar em Amar e Mudar as Coisas, mas ganhou uma versão bela e cheia de groove na setlist do show. Depois desse momento dançante, Daíra sentou no chão com seu violão e, acompanhada apenas por Augusto, deu voz à uma versão impressionante da bela “Divina Comédia Humana“. Depois, sozinha, a cantora deu continuidade ao voz e violão com “Comentário a Respeito de John“, outra faixa que não entrou em seu disco.

Além de tudo isso, a irmã mais nova de Daíra subiu ao palco durante a performance da cantora com Lucas Fidelis. Obviamente, tanto a banda quanto o público receberam muito bem o inusitado momento.

Apenas um Rapaz Latino-Americano“, uma das mais famosas composições de Belchior, fechou a apresentação com chave de ouro, da mesma forma que fecha Amar e Mudar as Coisas.

Foto: Floriza Rios

Segue abaixo a setlist da apresentação. Vale lembrar que Amar e Mudar as Coisas está disponível em todas as plataformas digitais.

1. “Paralelas”
2. “Alucinação”
3. “Conheço Meu Lugar”
4. “Pequeno Mapa do Tempo”
5. “Como o Diabo Gosta”
6. “Meu Cordial Brasileiro”
7. “Divina Comédia Humana”
8. “Comentário a Respeito de John”
9. “Coração Selvagem”
10. “Princesa do Meu Lugar”
11. “Na Hora do Almoço”
12. “Água Morta” (música de Claos Mozi, com participação do próprio)
13. “A Palo Seco” (com participação de Claos)
14. “Aguapé” (música de Lucas Fidelis, com participação do próprio)
15. “Pouco Troco” (com participação de Fidelis)
16. “Jornal Blues ou Canção Leve de Escárnio e Maldizer”
17. “Mote e Glosa”
18. “Apenas um Rapaz Latino-Americano”

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