Dustin Kensrue, do Thrice
Foto: Stephanie Hahne

Existem diversas bandas que passam anos entregando para os seus fãs trabalhos muito competentes, canções inspiradas, melodias cuidadosamente pensadas, letras inteligentes e bem compostas, mas que parecem nunca atingir a glória dos estádios lotados ou do topo de um pôster de festival entre grandes headliners.

O Thrice é um desses grupos. Após 20 anos de estrada e uma discografia impecável, o grupo de post hardcore formado em 1998 em Irvine, California, apesar de manter o seu público nichado muito fiel, passa aparentemente despercebido para o restante dos amantes de boas bandas de Rock. Mas, no fim das contas, isso importa mesmo?

Se depender dos 1.000 fãs apaixonados pelo Thrice que esgotaram os ingressos da apresentação da banda no Fabrique Club em São Paulo na noite do último sábado (25/08), não importa nem um pouco.

O Thrice estava vindo do Rio de Janeiro, onde fez uma apresentação visceral e impecável para os fãs cariocas no Teatro Odisséia, e São Paulo recebeu a segunda data da turnê inédita da banda no Brasil. A fila ainda era longa e dava a volta no quarteirão do clube no bairro da Barra Funda pouco antes das 19h, horário marcado para o início do show, produzido pela Solid Entertainment e que não contou com nenhuma banda de abertura.

Com o Fabrique abarrotado de fãs ansiosos e que já antecipavam que aquela seria uma noite pra realizar um sonho a muito tempo aguardado, a trilha sonora de faixas de bandas como PennywiseDead KennedysGoldfinger Anthrax foi responsável por aquecer os ânimos dos presentes.

Até que por volta das 19h20, Dustin Kensrue (vocal e guitarra), Teppei Teranishi (guitarra), Eddie Breckenridge (baixo) e Riley Breckenridge (bateria) entraram no palco para a explosão da pista em êxtase que via os seus ídolos frente a frente pela primeira vez.

Assim como no Rio, o Thrice abriu o show com a intensa “Hurricane”, faixa que também inicia o último disco do grupo, o excelente To Be Everywhere Is To Be Nowhere. A música foi cantada em uníssono nos refrães pela plateia e também foi seguida na dobradinha com a mais agressiva “Silhouette”, acompanhada por “Of Dust and Nations” e “All The World Is Mad”, do álbum Beggars.

Foto: Stephanie Hahne

A entrega do Thrice no palco é um dos pontos dignos de nota e aplausos para a banda. Com essa sequência de abertura com sons antêmicos e refrães grandiosos, ao mesmo tempo acompanhados por momentos de peso e velocidade, a banda se mantém em constante movimento pelo palco, passando a sensação de que eles criam exatamente o tipo de som que gostam de ouvir, transmitindo uma honestidade sobre o que sentem ao tocar essas músicas de uma forma com que poucas bandas fazem.

Nesse ponto do show, o vocalista Dustin Kensrue agradeceu os fãs paulistas por terem esperado tanto tempo por um show do Thrice e prometeu não demorar outros 20 anos para retornar ao nosso país. A banda então emendou uma das melhores sequências do repertório, com o potente single “Black Honey”, que apesar da pouca idade já mostra ter forças pra ser uma das músicas favoritas dos fãs da discografia do Thrice. A belíssima “In Exile”, uma das melhores faixas do disco Beggars veio acompanhada de “Daedalus”, e as músicas serviram para mostrar a alternância de dinâmica no set da banda, que sabe quando é hora de tirar o pé no peso e mostrar toda a sua capacidade melódica, a voz versátil e afinada de Dustin e o entrosamento do quarteto como um todo no instrumental.

Em resumo, o Thrice é uma daquelas bandas que consegue não só emular o que gravou em estúdio ao vivo, como supera os registros em disco, entregando versões estendidas e com uma qualidade surpreendente das suas músicas para os fãs que comparecem aos shows.

O guitarrista Teppei Teranashi é um destaque à parte e um dos principais responsáveis por criar ambiências, cenários e por preencher as músicas com seus riffs criativos. Ele faz um belo trabalho na hora de criar os efeitos utilizados em seus pedais e demonstra possuir muita técnica, como em certa parte da música “Daedalus”, onde executou o seu solo utilizando o tapping (também conhecido como two-hands, quando o guitarrista usa 2 ou 3 dedos para tocar as notas diretamente no braço do instrumento).

Foto: Stephanie Hahne

A banda seguiu o repertório (idêntico ao do Rio) acelerando novamente o passo e dando peso ao show com “Hold Fast Hope”, responsável por abrir uma série de rodas punk ao longo da pista. A primeira nota de “Stare At The Sun” foi suficiente para animar muito o público que reconheceu imediatamente uma das músicas mais clássicas do repertório da banda.

O Thrice está prestes a lançar o seu 10º disco de estúdio, intitulado Palms, no próximo dia 14 de Setembro e aproveitou para tocar a recém-lançada “The Grey”, que já foi bem recebida pelo público que sabe cantar o refrão como se fosse uma música antiga. “Firebreather”, pertencente ao elogiado disco The Alchemy Index, foi uma das melhores músicas do show e ganhou um final extendido com o público cantando em coro o “ÔôôÔÔôÔôôÔÔô” que encerra a faixa, tirando aplausos e sorrisos dos músicos no palco.

Para encerrar a primeira parte do show, o quarteto ainda executou “Death From Above”, “Yellow Belly” (a única música do disco Major/Minor que entrou para o repertório) e a ótima “The Long Defeat”, que ao final também ganhou um coro orquestrado por Dustin da frase “together we’ll fight the long defeat” (que pode ser traduzido como “juntos lutaremos contra a longa derrota”).

Foto: Stephanie Hahne

Aos gritos apaixonados da torcida organizada do Thrice presente no Fabrique (“Olêê, olê, olê, olêê, Thricêêê, Thricêêê”) o grupo saiu do palco para o bis, e retornou seguindo o protocolo de clichês da primeira vez no Brasil: com Teppei, Eddie e Riley devidamente uniformizados com a camiseta da seleção brasileira de futebol, o que fez a plateia prontamente esquecer de qualquer tropeço futebolístico recente contra a Bélgica e começar a gritar e aplaudir. Dustin foi o único que não vestiu a camiseta, mas começou a última leva de músicas do show encoberto pela bandeira nacional.

Da mesma forma que aconteceu no Rio um dia antes e para a alegria dos fãs que se aventuravam surfando por cima da plateia no mosh, o Thrice encerrou o seu primeiro show em São Paulo lá em cima com “The Artist In The Ambulance”, “Deadbolt” e “The Earth Will Shake”.

Testemunhamos por aproximadamente 1 hora e meia um show impecável, dinâmico, feito por uma banda que claramente vive o auge do seu entrosamento e não mede esforços na na hora de entregar a sua obra ao vivo para todos os seus fãs. Talvez esse tempo não tenha sido suficiente para quem esperou bons anos para vê-los e queria mais, mas definitivamente serviram para acalmar o desejo de ver o Thrice ao vivo pela primeira vez.

Pessoalmente, senti falta de boas canções do grupo como a nova “Only Us”, a apaixonante “Stay With Me” e a dramática “Red Sky”. “Anthology” também teria sido uma faixa memorável para encerrar a apresentação, mas quem sabe na próxima vez? Cobraremos a promessa que Dustin fez no início do show de não demorar mais duas décadas por esse segundo encontro.

Setlist:

1.  Hurricane
2.  Silhouette
3.  Of Dust and Nations
4.  All the World Is Mad
5.  Black Honey
6.  In Exile
7.  Daedalus
8.  Hold Fast Hope
9.  Stare at the Sun
10. Blood on the Sand
11. The Grey
12. The Weight
13. Firebreather
14. Death From Above
15. Yellow Belly
16. The Long Defeat

Bis:
17. The Artist in the Ambulance
18. Deadbolt
19. The Earth Will Shake

TMDQA! entrevista Dustin Kensrue

Às vesperas dos shows no Brasil, Dustin Kensrue nos contou sobre os 20 anos do Thrice, seus discos favoritos e sobre a experiência que esperava levar do nosso país.

Clique aqui para ler na íntegra.

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