Foto: Flora Pimentel

Conhecido por seu trabalho dentro do samba, João Cavalcanti expande seu trabalho em um novo lançamento. Quem o conheceu pelo seu trabalho com o Casuarina ou em parceria com seu pai Lenine, se surpreenderá com o disco Garimpo, que ele acabou de lançar em parceria com o músico Marcelo Caldi.

O álbum foi produzido pelo duo e trouxe novas parcerias e caminhos líricos diferentes; se o poder criativo dos versos de Jorge Drexler surge em “Consumido”“Domingos” é uma bela homenagem para Dominguinhos. O músico português António Zambujo participa da faixa “A Causa e o Pó”, uma parceria de João com Lenine. Já o destaque do disco, “Indivídua” ganhou um belíssimo clipe.

Conversamos com Cavalcanti por e-mail sobre essa nova fase na carreira, seus desafios e planos e – claro – se ele tem mais discos que amigos.

Confira nossas conversa e o disco abaixo.

TMDQA!: Como surgiu o nome do disco?

João Cavalcanti: “Garimpo” é o nome de uma canção que está no disco, feita com minha amiga Antonia Adnet, e me pareceu uma síntese perfeita do conceito – e do processo – desse trabalho, que é, de fato, um garimpo das canções mais preciosas e urgentes dentre as que compus e que não havia gravado.

TMDQA”: Como acha que o processo de criar canções é quase uma busca pro esse ouro escondido?

João Cavalcanti: A analogia é válida, até porque nem sempre há ouro! No Brasil a canção popular tem um papel literário que, arrisco dizer, não encontra paralelo em outros lugares do mundo. Até por isso o sarrafo é muito alto! Compor aqui, por isso tudo, é buscar maneiras novas, instigantes e que soem atuais de contar histórias – e isso é, sim, como garimpar entre as ideias. Como criar canções no país de Chico, Cartola, Caetano, Gil, João Bosco, Aldir, Wilson Moreira, Nei Lopes, Sérgio Sampaio, Dona Ivone, Delcio Carvalho, Joyce…? É um pouco assustador, mas muito estimulante.


TMDQA!: Esse disco abre parcerias interessantes como o Drexler e até o próprio Marcelo. Como surgiram essas parcerias?

João Cavalcanti: Cada parceria tem uma história bem singular. Marcelo é um amigo de mais de 20 anos, contemporâneo meu. Temos muito em comum e uma tremenda admiração mútua – era natural que nos tornássemos parceiros. Já o Drexler é uma referência minha, antes de ser meu amigo e parceiro. É um dos grandes baratos dessa nossa profissão, a possibilidade de virar amigo e parceiro de ídolos, como são o Pedro Luís, o Zé Renato e o Mario Adnet, por exemplo.

TMDQA!: A sonoridade desse disco é bem diferente do seu anterior solo. Você já está pensando em um próximo passo? O que podemos esperar do futuro do seu trabalho?

João Cavalcanti: Meu único filtro é dar voz ao que me interessa, é fazer do meu canto veículo do que acredito. Isso, inclusive, abarca canções que não tenham sido compostas por mim, mas cuja mensagem me interesse amplificar. Devo lançar outro disco já em 2019, com produção do meu amigo Tó Brandileone.


TMDQA!: Na primeira faixa, a parceira com o Drexler, já traz uma mensagem forte: não existe artista completo que não tenha sido consumido. Você sente que está completo agora como artista, como a música diz? E se sim, qual foi o preço por isso?

João Cavalcanti: A rigor, o statement é “não há artista consumado que não tenha sido consumido”. E consumido remonta tanto ao fato de alguém comprar o que o artista faz, como o próprio artista ser consumido, no sentido de usado. Acho que nunca vou me sentir completo, porque o maior estímulo para seguir criando é perceber o que falta. O preço de ser artista no Brasil é altíssimo, cheio de renúncias, de incertezas, sobretudo em tempos como esse, em que o falso moralismo chucro tenta nos pintar como vilões, aproveitadores ou o que o valha. A eles eu digo: não há civilização bem sucedida que não tenha colocado sua própria cultura no centro de seu vetor de desenvolvimento.

TMDQA!: E para fechar: você tem mais discos que amigos?

João Cavalcanti: A briga é dura! Mas acho que sim.

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