Coletivo Native Tongues
Coletivo Native Tongues

Quando Afrika Bambaataa, mesmo sem saber,  idealizou o hip hop, também não poderia imaginar as dimensões que o movimento tomaria.

Nas comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas do centro de Nova York, durante os anos 70, Bambaataa difundiu os principais elementos que dão forma à cultura hip hop: DJing, breakdance, grafite e rap. Este último, um caldeirão de sonoridade e livre expressão. Rap: rhythm and poetry (ritmo e poesia).

O Bronx, bairro nova-iorquino, era tomado pela pobreza, violência e o tráfico de drogas que assolavam as ruas onde gangues protagonizavam embates violentos na luta por território. Majoritariamente habitado por imigrantes do Caribe, principalmente vindos da Jamaica, o local via nascer uma alternativa revolucionária frente ao caos estabelecido: o sound system, muito incentivado pelo DJ Kool Herc, um dos jamaicanos que imigraram para NYC com doze anos de idade. O sound system acontecia em carros equipados com sistemas de som e até então estava associado à música jamaicana. O principal porta-voz era o
toaster, que cantava de maneira fraseada com rimas, abordando normalmente assuntos políticos e acompanhado por um instrumental reggae. O toaster pode ser considerado o primeiro MC que, junto ao DJ, animava a multidão com discursos rimados. Com a influência do DJ Kool Herc, aos poucos, a base reggae era substituída pela batida do funk. Além das mudanças nos sound systems, algumas expressões artísticas já poderiam ser associadas ao rap. O grupo Last Poets e o artista Gil Scott Heron declamavam suas poesias sobre temas ligados exclusivamente aos negros com acompanhamento musical.



Em toda a sua complexidade e multiplicidade sonora, a música afro-americana tem paralelos entre seus principais elementos, como as semelhanças entre funk, jazz e posteriormente o rap, que bebeu dessas fontes através dos
samples que os rappers incluíam em suas composições. Samples são pequenos trechos de outras músicas, incorporados às melodias e letras originais de um rap. Desde sua ligação ao hip hop, até o seu desenvolvimento e novas faces, como o gangsta rap com o icônico grupo N.W.A, o rap criou novas ramificações e buscou novas inspirações, entre elas, o jazz.

Entre o final dos anos 80 e início dos 90, a influência jazzística ficou mais forte no rap. Ao passo que o jazz era homenageado como uma nova fonte criativa para os rappers, o movimento hip hop expandia seus horizontes com uma nova vertente musical. Dentre todas as ramificações do jazz, as mais influenciadoras foram jazz cool, soul-jazz e hard bop. As relações entre jazz e rap vão além da música. Culturalmente, os dois gêneros desempenharam papéis transformadores que refletiram em suas sociedades contemporâneas. Ambos transgrediram padrões sociais e incomodaram, e muito, por meio da arte e expressão politizada na música.

São muitos os nomes que deram vida ao jazz-rap, como ficou conhecido. Em 1985, a banda Cargo, com Mike Carr a frente, lançou o single “Jazz Rap, Volume One”. Três anos depois, o Stetsasonic lançava “Talkin ‘All That Jazz”, com um
sample do jazzista americano Lonnie Liston Smith. No mesmo ano, o  influente grupo Gang Starr estreou com a música “Words I Manifest”, utilizando um sample de “Night in Tunisia”, de 1952 e composta pelo trompetista Dizzy Gillespie. Um ano depois, o então duo manteve as influências jazzísticas no seu primeiro disco, No More Mr. Nice Guy, com a faixa “Jazz Thing”, que entrou na trilha sonora do filme “Mais e Melhores Blues” (1990), do diretor Spike Lee. Já na década de 90, um dos principais nomes do jazz-rap surgiria com um álbum histórico: A Tribe Called Quest e seu The Low End Theory, lançado em 1991. Outros nomes importantes são De La Soul, Digable Planets e Jungle Brothers. O Digable Planets passou a realizar apresentações com instrumentação de jazz ao vivo, enquanto o  Jungle Brothers, junto ao De La Soul e A Tribe Called Quest , formou o coletivo Native Tongues, um dos pioneiros na utilização de samples variados com influëncias de jazz, entre o final dos anos 80 e início dos 90. Além da notoriedade americana, o grupo Dream Warriors, de Toronto, também contribuiu imensamente para a ascensão do estilo.

https://www.youtube.com/watch?v=r9qwU0FYc8g

A busca do rap por elementos de jazz, em certo momento, passou a ser uma troca, quando o jazz passou a se inspirar na cultura hip hop. O último disco da lenda Miles Davis, Doo-Bop ((1992), produzido por Easy Mo Bee, conta com batidas de hip hop, enquanto artistas de jazz como Lonnie Liston Smith, Freddie Hubbard e Donald Byrd participaram do projeto Jazzmatazz (1993), de Guru, membro do Gang Starr. O grupo também gerou outro projeto ligado ao jazz-rap, com o DJ Premier, que produziu discos do Gang Starr. Trata-se do Buckshot LeFonque (1994), que teve colaboração do jazzista Branford Marsalis.



Funk, jazz, breakdance, grafite, rap, rima, poesia, enfim, são muitos os conceitos que se uniram para gerar uma cultura, de certa forma, infinita e transformadora. A música tem peso quando é revolucionária e produz novas ideias. As revoluções e ideias do hip hop não acabam aqui.

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