Foto: Reprodução/Flickr

Por Nathália Pandeló Corrêa

Quando Emerson, Lake & Palmer se uniram, em 1970, o conceito de supergrupo poderia não ser tão cool quanto é hoje — mas não deixou de gerar expectativas.

Keith Emerson, pianista que tocava com o The Nice, e Greg Lake, guitarra do King Crimson, convidaram o jovem baterista Carl Palmer para esse projeto único. No ELP, eles poderiam testar os limites do rock, trilhando linhas tênues que iam do sinfônico ao progressivo, passando pelo experimental.

Palmer era um baterista respeitado desde a adolescência, quando começou a tocar profissionalmente. Aos 20, iniciou esse período de produção intensa num formato de trio nada convencional, fugindo ao tradicional guitarra-baixo-bateria. Seus shows enérgicos e complexos geraram ainda cinco discos apenas nos primeiros quatro anos da banda. Após um hiato, o trio lançou mais um disco antes de se separar. Nos anos 90, se reuniram para dois outros álbuns. Em 2016, a história do ELP chegou ao seu ponto final, com ambos Emerson e Lake falecendo naquele ano.

Em todo esse tempo, Carl Palmer se manteve na ativa. Iniciou um novo supergrupo, reunindo membros do Yes! e do King Crimson, chamado Asia. Entre os encontros e desencontros da vida, o músico se descobriu enquanto artista plástico, desenvolvendo um projeto inovador que transforma seus movimentos na bateria em luz e, consequentemente, em imagens. Algumas delas podem aparecer nos shows que Palmer realiza no Brasil em breve.

Com sua banda ELP Legacy, ele retorna ao país com a tour Emerson, Lake & Palmer Lives On!, um resgate do repertório do trio ao lado dos músicos Paul Bielatowicz (guitarra) e Simon Fitzpatrick (baixo). As apresentações serão em São Paulo (Espaço das Américas, 24 de maio), Rio de Janeiro (Vivo Rio, 25 de maio) e Niterói (Teatro Municipal de Niterói, 26 de maio).

A turnê marca ainda o lançamento internacional do DVD e CD Pictures at an exhibition, o tributo a Keith Emerson; e do CD Live In The USA, ambos pela BMG Music, que também relançou o catálogo da banda. Conversamos com Carl Palmer por telefone sobre a vinda ao Brasil e a conquista de um novo público para o ELP.

Confira após o player!

TMDQA!: Sr. Palmer, obrigada por seu tempo. Primeiramente, essa turnê me parece uma chance única para os fãs ouvirem ao vivo canções que você não toca há algum tempo. Sei que está trazendo uma nova abordagem pra elas, novos arranjos. Mas essas músicas estão na cabeça do público — e na sua — há uma vida inteira. Como você as recria ao lado de Paul e Simon, garantindo que terão algo novo, mas ao mesmo tempo mantendo sua essência?

Carl Palmer: Na verdade, é bem simples: não usamos teclados, e sim cordas. Paul Bielatowicz utiliza um chapman stick, que é um instrumento de 10 cordas que, se desejarmos, consegue nos dar a sonoridade do teclado. Nós nunca tentamos copiar a sonoridade de Emerson, Lake & Palmer, e sim renová-la para uma nova geração de fãs. Por isso deixamos de lado o piano e focamos nas cordas. O show tem duração de 1h55 com muito material, inclusive muitas coisas que não apresentamos na última turnê, claro. Vamos tocar “Tank”, a primeira composição que fiz na vida. E do álbum Welcome back my friends, algumas das favoritas dos fãs de ELP. Teremos o Paul Bielatowicz na guitarra e chapman stick, e Simon Fitzpatrick no baixo de seis cordas. Além disso, teremos a parte visual, um filme que vai inserir a plateia no clima do show.

TMDQA!: Falando em recriar, o mercado da música muda muito desde que foi inventado. A geração de hoje parece mais interessada em artistas que lançam trabalhos constantemente, mas o ELP já fazia isso há décadas — vocês lançaram cinco discos em quatro anos! Por que e como vocês estavam criando, gravando e lançando com tanta rapidez naquela época? E como o senhor compara com outros projetos em que pôde produzir com mais tempo, seja na arte ou na música?

Palmer: A maior diferença entre os artistas que lançam muitas coisas hoje e o Emerson, Lake & Palmer antigamente e os meus projetos atuais… Bem, o que eu estou tentando fazer agora é redesenhar essas canções para uma nova geração, para que eles possam se apossar delas. Queremos é que as pessoas notem que ELP não é apenas uma coisa — que há muita qualidade associada às nossas músicas, há profundidade. Não era apenas música progressiva, mas mesclando também com clássico, jazz, folk. Minha missão é continuar mostrando o valor dessas músicas para o público de ontem e de hoje também, já que sou o único que ainda continua aí.

TMDQA!: Como baterista, o senhor deve ter encontrado muita música brasileira por aí, pela sua natureza percussiva. Nas suas gravações solo, dá pra notar que não há uma limitação de gêneros, apesar de ter sido nomeado “Deus do Rock Progressivo” no ano passado! Como foi colocar a bateria no primeiro plano do rock naquela época, e depois se distanciar dessas caixinhas em que os músicos são colocados com tanta frequência?

Palmer: Bem, eu não sou necessariamente um baterista de rock. Meu trabalho sempre foi variado e tive a oportunidade de ter uma carreira longa, em que já pude influenciar outros músicos, e isso me deixa feliz. Mas eu nunca quis ter limitações, apenas desejo escrever as melhores músicas que conseguir. Emerson, Lake & Palmer eram conhecidos por sua abordagem de música clássica e incorporá-la à moderna. Dessa forma, nos tornamos diferentes de tudo que havia, e com isso servimos de influência para outras pessoas. Não me especializo em rock, ou jazz, ou música brasileira, latino-americana. Meu ponto principal, o grande lance pra mim, é fazer boas músicas.

TMDQA!: Como diz o nome da turnê, Emerson, Lake & Palmer continuam vivos — e continuarão assim por um bom tempo. O que faz um álbum ou uma banda superar o teste do tempo e se manter relevante?

Palmer: Quando um grupo é original, as músicas que cria são originais, sua abordagem dos instrumentos é original… bem, isso é válido preservar. Eu não tento copiar o que fazia com Emerson e Lake e acho inútil quem tenta copiar alguma coisa — e nem mesmo os membros originais, como eu, conseguem fazer isso. Com essa turnê, quis mostrar expertise e versatilidade do nosso repertório e me uni a músicos que conseguem executar essas músicas com primazia. E hoje eu vejo o público dos nossos shows já abrangendo três gerações diferentes — há pessoas da minha idade; pessoas mais de meia idade, com uns 40 anos; e já levam seus filhos, com 12 ou 17. Não importa a idade, o que importa é valorizar música feita com qualidade.

TMDQA!: A sua atuação vai além da música — há um trabalho artístico único, em que de alguma forma traduz o ritmo em imagens. Como o senhor combina música com essa abordagem visual? Me parece que foram desenvolvidas algumas peças para essa turnê. Como elas se encaixam no show?

Palmer: Do ponto de vista do meu trabalho em artes plásticas, você vai poder ter uma ideia mais concreta se entrar no site, pois lá tem todas as imagens, vídeos e tudo mais. É http://carlpalmerart.com/. Mas basicamente em 1973 eu desenvolvi essa técnica de usar as baquetas com luzes em suas pontas, e elas formam arcos de cores na medida que meus braços se mexem. Agora, temos a possibilidade de fazer isso de forma digital, com computadores e tudo mais. Tudo que eu fiz foi tentar me expressar de uma outra forma. Então toco Emerson, Lake & Palmer e deixo que a imagem se forme com a luz, reflexos e sombras. Quero mostrar que quando a música se forma, ela também se materializa de outras maneiras, e a arte é uma ótima plataforma para que as pessoas visualizem isso. Mas eu não uso necessariamente minhas artes nos shows. Ao invés disso, mostramos um filme no telão que tem uma relação com as músicas. Às vezes, entre uma música e outra, aparece uma peça minha, mas não é regra.

TMDQA!: Entre as muitas coisas a que se dedicou ao longo dos anos, sei que uma delas são as oficinas e palestras sobre o mercado da música e direcionamento de carreira na Solen University. Levando isso em conta – e o fato de que muitos dos nossos leitores também trabalham com música — qual é o melhor conselho que o senhor daria a quem deseja transformar essa paixão em uma carreira duradoura?

Palmer: Eu faço palestras talvez uma vez por ano sobre o mercado da música e carreira neste meio, na Solen University, aqui na Inglaterra. Esse negócio em que atuamos está em constante mudança e é bastante complexo, porque leva em consideração muito mais do que a música em si — desde as invenções tecnológicas que vão surgindo, até as relações sociais. E hoje há tantas formas de um artista desenvolver seu trabalho! Há pessoas que gravam em seus quartos e começam a formar um público porque lançam um podcast uma vez por semana, ou por mês. Aqui na Inglaterra temos um ditado, que é “Não deixe de revirar nenhuma pedra”. Ou seja, não deixem nada passar. Investiguem todas as possibilidades e oportunidades e aproveitem a tecnologia ao seu favor. Esse é o melhor conselho que posso dar a quem entra na música hoje.

TMDQA!: Obrigada, Sr. Palmer, pelo seu tempo. Espero que se divirta aqui no Brasil!

Palmer: Eu certamente tentarei (risos)!

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