Foto: Márcio Salata

Tungstênio é o nome do mais recente lançamento de estúdio do Inquérito.

O grupo de rap de São Paulo lançou o sexto disco da carreira no início deste mês de Abril, e contou com um baita time de participações especiais. Entre os diversos nomes estão Zeca Baleiro, Tulipa Ruiz, Rashid, o rapper angolano MCK e a neozelandesa LAWN.

 

Falamos um pouco com Renan Inquérito, líder do grupo, sobre o mercado atual do rap e o novo trabalho dos caras.

Confira!

TMDQA!: O rap nacional vive uma fase incrível e muito disso se dá à quebra de barreiras: não há limites para os gêneros musicais explorados, as colaborações e parcerias. O novo disco do Inquérito é cheio de participações como de Zeca Baleiro, Tulipa Ruiz e Rashid. Como vocês abordaram esses convites e o que acharam do resultado final? Como seria o disco sem essas participações todas?

Renan: Eu sempre tive vontade de fazer essas fusões, tanto que no disco anterior, Corpo e Alma (2014), trouxemos o Arnaldo Antunes e o Natiruts, no novo álbum não foi diferente. Buscamos convidar artistas que admiramos e que têm uma mensagem que dialoga com a nossa. Sentar no estúdio e compor com o Zeca foi uma grande realização, ver ele criando a letra, as melodias, poder opinar, fazer junto, e depois ele pegando o violão e tocando também, foi mágico! O resultado não poderia ser diferente, acho que conseguimos criar música acima de rótulos e gêneros e que o resultado foi capaz de respeitar as características de cada um, essa música poderia estar em um disco do Zeca tranquilamente, confesso que não vejo o álbum sem as participações, elas deram toda a plástica do disco.

TMDQA!: A origem do nome do álbum é muito interessante, e tem relação com o material usado na bolinha que fica na ponta da caneta e de onde saíram tantas rimas e versos que vocês já escreveram nessa jornada. Como surgiu a ideia do título e como é, em pleno 2018, traçar as suas ideias no papel, na coisa física, visto que tanta gente hoje se limita às tecnologias e ao mundo virtual para suas tarefas?

Renan: O título surgiu quando eu reparei que haviam várias citações a palavra caneta nas letras desse disco: canetar, meter a caneta, cafuné com caneta, caneta como arma, como ferramenta. Aí pensei em por o nome do disco de Caneta e Coragem, mas achei muito novela das oito. (risos) Então, quando fui pesquisar mais sobre a história da caneta descobri que a bolinha que vai na ponta da esferográfica era feita de um material específico, muito forte e resistente, chamado tungstênio, e que ele também estava em diversos outros objetos, como a lâmpada, aliança, armamentos, munições e explosivos, a partir disso a associação do tungstênio com o nosso rap foi automática.

TMDQA!: O Brasil vive um dos seus piores momentos sociais e políticos da história. Com um governo tampão e em ano de eleição, estamos vendo a polarização burra, na maioria das vezes, entre pessoas com visões supostamente de esquerda e de direita. O rap foi ligado à política desde o seu nascimento e canções de protesto estão longe de ser raridade nesse estilo musical. Qual é o papel do artista nesses tempos tão difíceis, tanto para ajudar a mudar o mundo quanto para ajudar as pessoas a atravessá-los?

Renan: O Sergio Vaz diz que o artista é a última linha da sociedade, quando ele desiste é porque tudo está perdido, e eu acredito nisso, acho que a arte mexe com a emoção das pessoas, com o íntimo de cada um, só por isso já tem um grande potencial transformador, se essa força for usada pro bem, pra uma causa, bum!, temos dinamite.

TMDQA!: Um símbolo trágico dessa polarização que vivemos são as reações na Internet após o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro, onde pessoas escancararam o ódio que vivemos hoje em dia e espalharam notícias falsas a seu respeito por não concordarem com as suas ideias. O povo pede por um Brasil sem corrupção, mas muita gente chegou ao absurdo de comemorar a morte da legisladora, conhecida pela lisura, por conta do seu posicionamento à esquerda. Como vocês enxergam esse cenário e como veem que seria possível uma mudança efetiva no país já que esse tipo de mentalidade parece tomar conta de uma parte imensa dos eleitores?

Renan: No meio do caos, do ódio generalizado, acontece o “efeito linchamento”, as pessoas não querem nem saber quem está apanhando, só querem bater, é como uma bola de neve. A internet potencializa isso, não à toa surgiu o site Sensacionalista, cujo lema é criar notícias falsas e absurdas a ponto das pessoas acreditarem e compartilharem como verdades, seria cômico se não fosse trágico. Os jornais brasileiros parecem o Sensacionalista, você vê as notícias da educação, da saúde, segurança, tudo parece piada, isso traz uma descrença muito grande na mudança, na esperança, e gente sem perspectiva fica vulnerável, à deriva, tem a mente facilmente ocupada pelas promessas desses canalhas.

TMDQA!: Quais são as maiores influências que vocês resgataram para lançar esse novo trabalho? Qual é um disco que, se não existisse, faria com que o novo álbum não soasse da mesma maneira?

Renan: O disco tem de tudo um pouco, cantos tribais, boom bap, trap, reggae, rock’n‘roll, muita guitarra e até um pouco de fado português, ele é forte e suave ao mesmo tempo, como a imagem da bigorna sobre o veludo que aparece na capa. Agora… o disco Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais, é um disco que se não existisse, faria com que A MINHA VIDA não soasse da mesma maneira

TMDQA!: No ano passado a nossa lista de melhores discos do ano teve presença forte do rap nacional, e isso tem acontecido já há alguns anos. Como vocês enxergam a cena nacional e quem são os/as rappers favoritos/favoritas de vocês hoje em dia? Quais são os nomes que ainda não estão no radar mas não podem passar despercebidos?

Renan: Enxergamos a cena atual como um irmão mais velho que vê o talento do irmão mais novo e fica todo orgulhoso, mas que também reprova e torce o nariz quando o moleque faz uma cagada e desrespeita a parada. Além dos clássicos, gosto muito do Atentado Napalm, do Xamã, do Diomedes Chinaski, do Ogi e do Rashid, ainda tem muito monstro que merece uma atenção maior, como o Xará (RJ), Nitro Di (RS) e o Gasper (GO).

TMDQA!: Já são seis álbuns na bagagem e muita história para contar. O que motiva a banda a seguir em frente? Quais são os passos para o futuro?

Renan: O amor pela música é nosso combustível, só o amor faz você se mover tanto tempo com tão pouco recurso, ou quase nenhum, nosso rap é movido a isso, e toda vez que esperança entra na reserva a gente trata de encher o tanque. Quanto ao futuro, só quero um passado lotado de discos.

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

Renan: No celular sim, mas são discos amigos. (risos)

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