Franz Ferdinand
Foto: Divulgação / David Edwards

Entrevista por Nathália Pandeló Corrêa

O Franz Ferdinand olha para a frente. Depois de liberar três de suas novas canções, a banda escocesa se prepara para divulgar o quinto álbum, Always Ascending. O trabalho resgata o lado dançante do quinteto ao mesmo tempo que moderniza suas influências eletrônicas e incorpora a melancolia que a banda nunca escondeu.

Canções como “Lazy Boy”, “Feel The Love Go” (ambas já reveladas) e “Glimpse of Love” lembram bons momentos do Franz das baladas indie; enquanto “The Academy Award”, “Slow Don’t Kill Me Slow” e “Lois Lane” trazem o lado mais introspectivo dos músicos. Boa parte dessa sonoridade veio das teclas de Julian Corrie, que entrou na banda após a saída de Nick McCarthy, um dos membros fundadores do Franz. Nick foi substituído pelo guitarrista Dino Bardot. Ambos circulavam na cena de Glasgow e foram recomendados por amigos de outras bandas.

Por fim, o produtor francês Philippe Zdar os acolheu em seu estúdio parisiense. Zdar é metade do duo de synthpop Cassius e também conhecido por trabalhar com Phoenix e The Beastie Boys. Tudo isso colaborou para que o Franz chegasse a essa sonoridade que não deve decepcionar os fãs antigos, ecoando canções de um passado não muito distante. Always Ascending é, mais que isso, uma tentativa de seguir adiante, em uma progressão que parece natural para quem não se contenta em ficar parado no tempo.

O Tenho Mais Discos Que Amigos! teve a oportunidade de ouvir o álbum com algumas semanas de antecedência e de conversar com o baixista Bob Hardy sobre esse novo momento da banda. Confira abaixo nossa conversa:

TMDQA!: Olá, Bob, obrigada por seu tempo. Estava ouvindo o novo disco e ele soa… diferente. Mas no bom sentido. Parece que essa nova leva de músicas está menos urgente, apesar de que há uma pegada pop em várias delas. Penso em “Paper Cages” e “The Academy Award”, por exemplo. Parece que vocês não tiveram pressa com esse disco, sem pressão. Foi essa a sensação que tiveram quando começaram a montá-lo?

Bob Hardy: Sim, foi um bom processo! Acho que quando começamos a escrever… Bem, éramos só eu, Paul [Thomson] e Alex [Kapranos]. O Nick tinha saído da banda. Então meio que deu uma sensação de liberdade, de que podíamos fazer qualquer coisa. Até porque não tínhamos 100% de certeza de que ainda teríamos uma banda ou disco, sabe? Isso nos libertou. Foi exatamente isso, sem pressão e sem pressa. Fomos pro nosso estúdio na Escócia, ficamos trabalhando naquele ambiente do campo, em paz, e sem criar grandes expectativas também. Sentimos como se fosse um recomeço, de certa forma.

TMDQA!: Exato, essa é a primeira vez que vocês têm Julian e Dino na banda. Claro que já comentaram sobre a saída do Nick e o encerramento dessa fase, mas fiquei curiosa sobre o quão diferente foi essa experiência, de entrar em estúdio com pessoas novas. O que você acha que eles acrescentaram ao processo?

Bob: Na verdade, o Dino entrou na banda após a gravação do disco. Mas o Julian veio assim que terminamos de compor. Ele foi uma parte muito importante para que esse disco soasse dessa forma, trouxe grande ajuda nos arranjos… Ele foi muito bem recomendado pra gente, na verdade. Vários amigos de outras bandas, tipo do Mogwai e The Delgados, falaram que ele ia se encaixar direitinho. E aí marcamos de jantar com ele, tomamos alguns drinks e fomos para o estúdio tocar algumas coisas. Fluiu muito bem, foi algo extremamente natural pra todos nós. Temos uma grande semelhança até em gostos pessoais, referências e tudo mais. Além disso, ele é um músico muito talentoso. Às vezes estávamos ali trabalhando nas partes dos sintetizadores e ele só chegava e fazia com a maior facilidade. Ele tem uma bagagem de engenheiro de som e produtor também, então o modo como ele analisa música é algo muito impressionante, é um cara inteligente.

TMDQA!: E há também, claro, Philippe Zdar. Nós o conhecemos de outros projetos, de produzir Phoenix e Beastie Boys. Mas por que vocês acharam que ele seria o produtor certo pra essa empreitada?

Bob: Quando estávamos começando o “Right Thoughts, Right Words, Right Action” [o disco anterior, de 2013], chegamos a conversar com ele, mas nunca rolou porque já estava comprometido com algo do Beastie Boys, então compreendemos. Mas quando chegou a hora de gravarmos esse, já tínhamos uma lista de nomes que queríamos tentar e o dele era o primeiro. Vínhamos ouvindo algumas coisas que ele produziu, tanto as mais recentes quando as mais antigas, e são coisas que se destacam muito. Ele tem uma sonoridade muito característica, que traz o elemento humano que queríamos botar nesse disco, para que não parecesse artificial. A mixagem dele é fantástica. Enfim, o Philippe traz uma energia excelente para a sala de gravação, faz tudo com muito entusiasmo. Ele é impressionante e foi indispensável para a sonoridade do disco.

TMDQA!: Mas pensando na parte visual que vocês vêm trabalhando, as artes e até mesmo aquele vídeo com o áudio de “Feel The Love Go” têm uma mistura de cores envoltas em escuridão. O Alex comentou como vocês só estavam compondo sobre o que os cercava, sem uma plataforma definida. Mas, bem, o mundo tá essa loucura agora – muita coisa boa misturada às sombras. Vocês até gravaram “Demagogue” [parte do projeto 30 Days, 30 Songs, que antecedeu a eleição americana com canções anti-Trump] e ela não entrou no disco, mas ainda toca no fato de que as coisas andam muito surreais atualmente. Você tem essa sensação de que o disco seja um toque de cor no meio disso tudo?

Bob: Possivelmente, sim. Quando as coisas no mundo real estão indo tão mal e há essa sensação de mal iminente, a música é o lugar para onde as pessoas procuram fugir. Há também temas pesados no disco, que foram surgindo nas nossas conversas e aparecem nas músicas. Até mesmo quando não é algo explícito, há na instrumentação algo que entregue uma esse clima. Claro que há também músicas animadas… Esse é o meu tipo favorito de música, de você ter essa dualidade de melancolia e alegria. As bandas que mais gosto, como The Smiths, Joy Division e New Order, todas trazem isso.

TMDQA!: Digamos que são boas referências! Mas então, esse é o disco número cinco pra vocês. Dá pra sentir que estão… sempre ascendendo? (Risos) Desculpa, não pude resistir!

Bob: (Risos) Uau! Bem… sim. Escolhemos esse título porque apesar de ser sim um disco do Franz Ferdinand com tudo que tem direito, também teve aquela sensação de voltarmos ao início da banda. Estávamos procurando novos músicos, sugerindo nomes para as coisas… Meio que não sabíamos no que ia dar. E escolher esse nome para o álbum pareceu animador, pois estávamos de fato empolgados com essa nova fase e gostamos do resultado. Acabou que ficou assim, bem otimista.

TMDQA!: Eu sei que vocês já estão em turnê. Vão pro Japão em breve, depois voltam pra casa, e aí tem Estados Unidos… Você sabe que eu tenho que perguntar, né? Cadê o Brasil nisso tudo? Há planos de voltar em breve? Há alguma memória mais marcante das vezes que vieram aqui?

Bob: Vamos voltar! Nossa, todos os nossos shows foram incríveis no Brasil. Teve um lugar que nós tocamos no Rio que era super pequeno, e tinha uma tenda…

TMDQA!: Circo Voador, talvez?

Bob: Acho que é isso mesmo! Nossa, esse foi épico, que público incrível!

TMDQA!: Bom, eu pergunto até porque nunca fui num show de vocês, mas ouço histórias do nível: vocês terminaram o show de cuecas no palco. Procede?

Bob: Nossa, sério? Eu particularmente não me lembro de ter feito isso, mas pode ser que tenha acontecido sim (risos). O Brasil sempre rende shows incríveis, sempre amamos ir para aí. Não temos uma data fechada ainda, mas teremos com certeza, você ainda vai poder ver um show nosso!

Nota – Um breve depoimento do nosso Daniel Corrêa, que estava presente no show:

Todo mundo que estava naquela noite no Circo se lembra como algo histórico. A banda tava no auge do hype e eles eram muito maiores que o Circo. O calor estava surreal e o público berrava e pulava cada sílaba que o Alex cantava. A sensação que tive é que aos poucos parecia um transe coletivo. Poucas vezes vi uma banda curtindo e surtando tanto com o próprio público. Todos os shows que vi deles por aqui foram assim e sempre acabavam com eles escalando coisas, moshando ou saindo para dançar em festas próximas. Os caras são mais cariocas que boa parte dos meus amigos.

TMDQA!: Finalmente, nós sempre perguntamos o que os artistas andam ouvindo. Queria trocar essa ideia com você, mas numa espécie de “edição escocesa”. Eu sei que você, particularmente, não é escocês, mas vive nesse cenário, certo? É claro que a gente conhece um monte de bandas da Escócia [Primal Scream, Biffy Clyro, Travis, Belle and Sebastian, Nazareth], mesmo sem nos darmos conta de onde são, mas eu queria que você me apresentasse algo novo da cena de Glasgow ou Edimburgo.

Bob: Claro, vamos nessa! Bem, tem muita coisa boa! O Catholic Action lançou um disco no ano passado [“In Memory Of”]. Eles são de Glasgow, são ótimos. De Edimburgo tem a Happy Meals, que com certeza vale procurar. Agora, tem um monte de banda que a gente gosta de lá e que nem lançaram seus discos ainda, vale ficar de olho. Tem a Hairband, que é uma banda de garotas, incrível. E também a West Princes… Até acho que deve ter um single deles já lançado, não sei. Vale muito procurar. Esses são os mais recentes que a gente tem curtido muito ouvir.

 

TMDQA!: Já tá ótimo, vamos procurar pra escutar! Obrigada, Bob, e divirtam-se nessa turnê.

Bob: Obrigado a você. Nos vemos aí no Brasil, hein?

 

Always Ascending será lançado em 09 de Fevereiro.

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