Há exatos 15 anos, em 22 de Dezembro de 2002, Joe Strummer nos deixou.
O músico sofreu uma parada cardíaca em casa e, cedo demais, morreu com apenas 50 anos de idade e quando vinha produzindo muito material através de diversas parcerias com sua banda, o amigo Mick Jones, o Pearl Jam e mais.
Celebramos aqui a vida e a obra de um dos maiores ícones do Rock And Roll relembrando fatos que marcaram a sua prolífica, diversa e contundente carreira desde o início.
Obrigado, mestre!
John Graham Mellor, nosso querido Joe Strummer, nasceu em Ankara, na Turquia, no ano de 1952.
Ele era filho de uma enfermeira com um diplomata britânico, e por conta do trabalho do pai, nunca teve uma infância “normal”, tendo morado no México, no Egito e na Alemanha enquanto era jovem.
Aos 9 anos de idade, ele e seu irmão, David, foram colocados em um colégio interno e Joe passou os sete próximos anos vendo seus pais apenas uma vez por ano:
Aos nove anos de idade eu tive que dizer adeus a eles porque eles foram para a África ou algo assim. Eu fui para um internato e a partir daí só os via uma vez por ano – o Governo pagava para que eu visse os meus pais uma vez por ano. Eu fui deixado por conta própria e mandado para uma escola onde as pessoas ricas colocam seus filhos ricos. Outra vantagem do emprego do meu pai – era um emprego com várias vantagens – todos os custos eram pagos pelo Governo.
Em 1970 seu irmão, que havia se juntado ao grupo fascista e de extrema direita National Front, se suicidou, e isso teve grande impacto na vida de Strummer.
Ao passar por essas adversidades todas, o líder do The Clash viu muita coisa de perto que iria ajudá-lo a entender o mundo e combater as injustiças através da música.
Não estamos entrando na discussão sobre o vegetarianismo ser um lado positivo ou não, mas é importante ressaltar que Joe Strummer parou de comer carne em 1971, quando tinha apenas 19 anos de idade e era bem mais difícil encontrar alimentação alternativa, e continuou mantendo seus hábitos até os últimos dias.
Antes de formar o The Clash, em 1974 Joe Strummer teve uma banda chamada The 101ers, fazendo referência ao endereço do squat onde ele vivia, que ficava na 101 Walterton Road.
O grupo tocava pelos pubs de Londres e fazia covers de bandas norte-americanas de R&B e blues, tudo isso somado às suas influências declaradas que vinham de nomes como Little Richard, Beach Boys e Woody Guthrie.
A banda chegou a compor canções próprias, mas os próximos anos mudariam a vida do músico, que em 1975 pediu para passar a ser conhecido como Joe Strummer, sendo que “strummer” tinha a ver com o modo como ele tocava guitarra em seus shows.
Em 1976 algo incrível aconteceu em Londres quando uma banda então desconhecida chamada Sex Pistols abriu para o 101ers.
Lá Joe Strummer encontrou o empresário Bernie Rhodes e o guitarrista Mick Jones, que tinha outra banda chamada London SS e queria que o músico se juntasse a ele de outra forma.
Nascia ali o The Clash, que ganhou esse nome do baixista Paul Simonon, e ainda completavam o grupo o baterista Terry Chimes e o guitarrista Keith Levene, que deixaria a banda mas formaria o também influente PiL.
O resto é história.
A dupla Mick Jones / Joe Strummer certamente não ficou tão conhecida quanto Lennon e McCartney, mas foi fundamental para a história do Rock And Roll.
Juntos, os dois líderes do The Clash que também alternavam os vocais da banda escreveram músicas que ao mesmo tempo em que chocavam com a agressividade do Punk, também faziam as pessoas pensarem a respeito de questões das mais diversas.
Desemprego, abusos da polícia, racismo, repressão política, guerras e mais estavam sempre na pauta da banda em suas músicas e tudo era dito com muita propriedade, já que seus autores iam para as ruas, vivenciavam aquilo sobre o que falavam e não tinham medo de deixar as suas opiniões bem claras ao mundo.
Ao contrário de bandas como o Sex Pistols, que apostavam no choque pelo choque, Joe Strummer sempre fez questão de apresentar com o Clash canções que iam além da crítica pura e simples.
Se você pegar a discografia do The Clash irá perceber que nenhum disco é parecido com o outro.
Se o começo foi com o punk rock cru e direto, a banda passou a experimentar com reggae e ska já em London Calling (1979), apresentou um disco triplo conceitual e cheio de experimentações com Sandinista! (1980) e mudou completamente a sonoridade em Combat Rock (1982), adotando o post-punk e a new wave com suas características próprias.
Muito disso é influência de Joe Strummer, que conviveu com diversas culturas desde moleque e incorporou sons da África, Caribe, América do Sul e mais à sonoridade do grupo ao lado dos seus colegas de banda.
Após o fim do The Clash em 1986, Joe Strummer passou a experimentar com diversas atividades diferentes.
Ajudou Mick Jones a produzir um disco do Big Audio Dynamite, atuou em alguns filmes de Alex Cox, e compôs músicas para a trilha de filmes como Sid And Nancy.
Com a banda The Pogues, porém, ele teve uma relação especial, já que nunca escondeu que achava Shane MacGowan, líder da banda, um dos principais compositores da sua época.
Em 1987, quando a influente banda de celtic punk saiu em turnê, precisou encontrar alguém para substituir o guitarrista Philip Chevron, que estava doente, e Joe Strummer aceitou o convite na hora. Ele excursionou com a banda e criou um vínculo que apareceria novamente em outros anos.
Em 1990 Strummer produziu o disco Hell’s Ditch e em 1991 substituiu o vocalista Shane MacGowan em uma turnê quando esse deixou a banda.
Há registros profissionais de um desses shows onde o grupo toca, inclusive, o mega hit do The Clash, “London Calling”.
A carreira solo de Joe Strummer começou oficialmente em 1989 com o disco Earthquake Weather, mas ele não foi muito bem recebido pelo público e o músico acabou até perdendo seu contrato com a Sony após o álbum.
Dez anos depois, em 1999, ele se uniu a uma banda batizada como Mescaleros e aí sim começou o período mais prolífico da sua jornada pós-Clash.
O disco de estreia, Rock Art and the X-Ray Style, foi bem recebido, mas o segundo, Global a Go-Go (2001) colocou definitivamente o nome da carreira solo de Strummer no mapa e ele começou a excursionar e participar de festivais pelo mundo.
No álbum, ele misturou elementos de estilos musicais do mundo todo para fazer folk, reggae, world music e new wave, tudo em um lugar só.
Vale lembrar que ao invés de procurar uma grande gravadora para lançar seus álbuns, o músico preferiu se juntar a alguém que o entendia como poucos: Tim Armstrong, vocalista e guitarrista do Rancid, era também o dono da HellCat Records, e foi pelo selo que os três discos com o Mescaleros vieram ao mundo.
O último, Streetcore, foi um lançamento póstumo em 2003.
Foi nesse último álbum, Streetcore, que apareceu uma versão belíssima de Joe Strummer para “Redemption Song”, hino de Bob Marley.
A canção foi gravada pouco tempo antes da morte do músico e conta com o produtor Rick Rubin no teclado e piano. Rubin, que vinha trabalhando com outro mestre, Johnny Cash, acabou produzindo uma outra versão onde Strummer e Cash fazem um dueto histórico, lançado na caixa póstuma de Johnny, Unearthed.
Joe Strummer morreu cedo demais, aos 50 anos de idade, em 22 de Dezembro de 2002. Ele foi cremado e seu patrimônio avaliado em 1 milhão de libras ficou com a esposa Lucinda.
Ele sofreu um ataque cardíaco na casa onde morava em Londres, e depois descobriu-se que ele tinha um problema no coração que nunca havia sido diagnosticado anteriormente.
Após sua morte, o músico foi celebrado por vários colegas que vão de Bono, do U2, a Billy Bragg.
Em 2003, o The Clash entrou para o Hall da Fama do Rock And Roll e no mesmo ano, no Grammy, “London Calling” foi tocada por um time de primeira composto por Elvis Costello, Bruce Springsteen, Steven Van Zandt, Dave Grohl, Pete Thomas e Tony Kanal, tudo para homenagear o músico.
Quando morreu, Joe vinha trabalhando no terceiro disco com os Mescaleros, Streetcore, que foi lançado de maneira póstuma. Ele estava escalado para excursionar com o Pearl Jam na turnê de Riot Act, e havia se reaproximado de Mick Jones, alimentando boatos de que o Clash se reuniria pela primeira vez em 16 anos, o que nunca aconteceu.
Um mural foi erguido em homenagem ao músico em Nova York e seus amigos e familiares criaram a Joe Strummer Foundation, conhecida inicialmente como Strummerville, para empoderar jovens ao redor do mundo através da música.
Viva Joe Strummer!