Gamboa

Salvador é uma das capitais com imagens mais fortes no imaginário popular.

Imagem das festas, das comidas, da literatura de Jorge Amado. Gamboa, projeto do baiano radicado em São Paulo Ricardo China, vem para contestar essas imagens. Trazendo uma nova visão para a cidade, ele une cinema e música no recém-lançado EP e curta-metragem Cap 1 -Okum.

O disco traz melodias que parecem saídas de canções tradicionais, samba de roda ou cantigas envolvidas por uma produção forte de Sants, que criou uma ambiência única que dialoga com a cena eletrônica minimalista e as vertentes mais experimentais do hip hop. O resultado é algo que parece uma canção de Dorival Caymmi recriado por um Memory Tapes, Fout Tet ou Cornelius.

É um projeto que foi pensado unindo desde sempre na parte audiovisual e musical. O EP funciona muito bem sozinho, mas a compreensão completa da estética e mensagens de Gamboa só vem com o curta. O material foi dirigido pelo próprio artista ao lado de Rafael Souza.

O projeto une a estética do visual album – que ganhou força após o Lemonade da Beyoncé – com um verdadeiro manifesto visual das intenções do projeto. Além disso, solidifica o que está claro já no título do lançamento: é só o começo.

Gamboa é a nova aposta da slap, selo de música alternativa da Som Livre e casa dos nossos amigos da Scalene e de músicos incríveis como Silva, Maria Gadú e Plutão já foi planeta.

Confira abaixo nossa conversa com o artista e o EP no Spotify:

TMDQA: Como surgiu o projeto?

Gamboa: O projeto surge da minha parceria com o Sants, produtor musical aqui de SP, mas que já passou parte de sua vida morando na Bahia. Estávamos fazendo música juntos apenas pela nossa sinergia musical ser muito forte, mas ainda sem um projeto totalmente delimitado. E no meio das nossas reuniões pra compor, sempre surgia essa conversa sobre origens. De como colocar o Brasil dentro de uma sonoridade que não é original daqui. Assim que surgiu a música de Gamboa.

TMDQA: Sempre teve essa carga de unir o áudio e o vídeo?

Gamboa: Na concepção inicial não. Ainda faltava um elo pra tudo fazer sentido. Essa ideia veio com a maturidade das músicas. Assim surgiram os EPs sendo capítulos de histórias. Cada EP contando uma única história que depois é traduzida em filme (como no caso do curta de “Okum”) e performance ao vivo, que já está sendo trabalhada junto a meus amigos Marcos Mauricio e Guilherme Nakata (ambos integrantes da Nômade Orquestra) e Matheus Leston (idealizador de projetos sinestésicos como Orquestra Vermelha).

TMDQA: O que te inspira na música atual?

Gamboa: Ouço muita coisa diferente. Bebo justamente nessa coisa atual de não haver mais tantas gavetas definidas para as coisas. Música antes conseguia ser dividida em décadas… alguém imagina isso hoje? A musica hoje se define e se reinventa em diferentes colagens do que já foi feito antes. É ouvir Lincoln Olivetti e Robson Jorge, mas pensar Kaytranada. É ouvir as harmonias de Carlinhos Brown e pensar Machinedrum. Isso é o mais inspirador. Tentar ligar cada vez mais pontos sem se limitar ao tamanho do papel.

TMDQA: Você mora em São Paulo e fez esse projeto com uma espécie de olhar exterior sobre Salvador. O que estar em São Paulo mudou seu modo de ver sua terra natal?

Gamboa: Percebi muito sobre mim e consequentemente sobre minhas origens, e isso se reflete nas histórias que quero contar. Só saindo de suas raízes pra conseguir ver quão dentro do solo elas estão. Eu amo São Paulo e toda sua diversidade, mas sair de Salvador me fez sentir o quanto a questão humana nas relações se modifica, e como isso modifica a gente também. Esse negócio de se sentir e se fazer ser entendido, sabe? Só de mudar o sotaque, já muda muito. A forma de se expressar corporal e verbalmente. Só aí a gente percebe que precisa achar outros caminhos pra comunicar quem a gente é. Esse trabalho vejo como essa tentativa de comunicar Salvador dentro dessa sinergia criada por viver aqui.

TMDQA: Você pareceu querer mostrar um outro lado da cidade, mais noturno, menos clichê. É verdade? Se sim, qual foi sua motivação?

Gamboa: Não diria mais noturno. Mas com certeza não estritamente solar. Minha motivação é sim sair do clichê dessa visão que se tem de fora. A visão viciada da alegria, da festa e do sol como se fossem únicas. Salvador é tudo isso sim, e todo o oposto também. Felicidade e tristeza. Luz e sombra. Origem e Destino. Salvador é a cidade que nos lembra o todo o tempo sobre contrastes, mas que ao mesmo tempo viu nisso uma forma de celebrar a unicidade da Natureza.

FICHA TÉCNICA:

Cap. I – Okum EP

Produzido por Ricardo China e Sants
Letras por Ricardo China
Voz: Ricardo China
Vozes gravadas no estúdio flapC4 por Luiz Lopes
Vozes mixadas por Gabriel Bueno e Kafé
Mixado por Sants
Masterizado por JJ Slim
Arte de capa: Edson Ikê

Okum Shortfilm

Dirigido por Ricardo China e Rafael Souza
Escrito por Ricardo China
Direção de fotografia: Rafael Souza
Produzido por Bruna Leskowicz
Edição Rafael Souza
Pós-produção: Irvin Moura
Colorização: Edvaldo Santos Junior
Estrelando: Edvaldo Santos Junior, Fanuel Dias, Lucia Couto

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