Crystal Castles
Foto: Matt Salacuse/NME

Em 2014 a cantora Alice Glass anunciou que estava deixando o Crystal Castles, projeto que tinha ao lado de Ethan Kath e foi formado em Toronto, no Canadá.

Na época ela deu uma declaração dizendo que “por uma variedade de motivos tanto profissionais quanto pessoais” não poderia mais fazer parte da dupla, e garantindo que sairia em carreira solo, onde esperava que seus fãs a acompanhassem.

Muito se falou sobre o fim da banda, mas Ethan resolveu seguir em frente, recrutou outra cantora, Edith Frances, e em 2016 lançou um novo disco de estúdio, Amnesty (I), o quarto do Crystal Castles.

Pois bem, ao que tudo indica os motivos para a saída de Alice são bastante sérios e agora que diversas mulheres, principalmente no mundo do cinema, resolveram compartilhar histórias de abuso, ela utilizou seu site oficial para falar a respeito do assunto.

No texto, Glass diz que Ethan “tirou vantagem” dela e a abusou fisicamente, chegando inclusive a forçá-la a fazer sexo contra sua vontade:

Eu conheci ‘Ethan Kath’ (Claudio Palmieri) quando estava na décima série. A primeira vez que ele tirou vantagem de mim foi quando eu tinha 15 anos. Ele era 10 anos mais velho que eu. Eu entrei no carro dele extremamente bêbada (por conta de drinks que ele me deu aquela noite). Não conversamos por meses depois disso. Ele me procurou novamente, me perseguiu e dirigiu pela minha escola procurando por mim.

Ele me encontrou e apareceu em lugares em que eu estava e eventualmente nos reconectamos. Eu era muito jovem e ingênua e em uma posição comprometida de minha vida. Eu o via como um rock star local porque tinha visto sua banda, Kill Cheerleader, na televisão. Várias de minhas amigas da cena punk também haviam sofrido abusos de homens mais velhos, então para mim era uma situação normal.

Claudio era manipulador em relação a mim. Ele descobriu as minhas inseguranças e as explorava: ele usava coisas que aprendeu sobre mim contra mim. Em um período de vários meses, ele me deu drogas e álcool e fez sexo comigo em um quarto abandonado de um apartamento que ele controla. Nem sempre era consensual e ele estava sóbrio sempre que estávamos juntos.

Quando eu tinha 16 ou 17 anos ele me deu um CD com músicas e pediu para que eu escrevesse e cantasse em cima delas. Eu levei as músicas para casa, escrevi as letras e melodias e gravamos as faixas que eu gostava. Mas mesmo na música ele criou um ambiente tóxico que eu sempre senti que deveria encarar. Quando gravamos o nosso primeiro EP, o engenheiro do estúdio me assediou sexualmente. Claudio deu risada de mim e me pressionou para ceder. Ele chamou o nosso primeiro single de ‘Ensaio da Alice’ e disse que meus vocais eram só um teste de microfone. Ele disse para a imprensa que foi uma gravação ‘acidental’, diminuindo o meu papel na sua criação de forma intencional. Foi outra maneira de me colocar para baixo e de explorar as minhas inseguranças.

Logo depois fomos convidados para uma turnê pelo Reino Unido. Eu estava maravilhada com a forma como as coisas estavam andando rápido para a gente e Claudio me convenceu a largar a escola faltando apenas dois créditos para a formatura. Conforme começamos a ganhar atenção, ele começou a sistematicamente e de forma abusiva mirar nas minhas inseguranças e controlar o meu comportamento: meus hábitos alimentares, com quem eu poderia conversar, aonde poderia ir, o que poderia dizer em público, que roupas poderia usar. Ele me deixava longe das entrevistas e ensaios fotográficos a não ser que tivesse o controle da situação. A nossa fama cresceu com o Crystal Castles mas ele não sentia que estava recebendo a ação que merecia.

Ele se tornou fisicamente abusivo. Ele me segurou contra uma escada e me ameaçou, dizendo que me jogaria de lá. Ele me puxou pelos ombros e me jogou contra o concreto. Tirou fotos das lesões e colocou na Internet. Eu tentei sair e ele jurou que nunca aconteceria novamente, que ele nunca abusaria de mim fisicamente. No lugar vieram abusos psicológicos e emocionais mais severos.

Ele controlava tudo que eu fazia. Eu não podia ter meu próprio telefone ou cartão de crédito, ele decidia quem eram os meus amigos, lia os meus e-mails particulares, restringia meu acesso às mídias sociais, regulava tudo que eu comia. Ele gritava comigo, dizendo que eu era uma piada, que todas as pessoas que iam aos nossos shows só estavam interessadas no instrumental e eu estava arruinando a banda. Ele quebrou portas de vidro de banheiros para me assustar, me trancou em quartos. Ele me disse que o meu feminismo me tornou um alvo para estupradores e só ele poderia me proteger. Ele me forçou a fazer sexo com ele ou, como ele disse, eu não poderia mais estar na banda.

Eu estava me sentindo muito mal e as minhas letras falavam de forma indireta sobre a dor e a opressão que eu estava sentindo. Mas como é o caso às vezes em relacionamentos abusivos, a sua crueldade normalmente era seguida de coisas adoráveis. Ele era muito bom em manter seu terrível tratamento comigo escondido. Ele era encantador às vezes, super protetor e acima de tudo eu amava a banda que tínhamos juntos. Mas em várias ocasiões ele dizia que eu era facilmente substituível. Ele até me dizia que já estava procurando alguém para o meu lugar. Ele me mantinha insegura e aí dizia que era o único no mundo que acreditava em mim. Ele me dizia que era nós contra o mundo, porque todo mundo achava que eu era uma perdedora, uma piada, uma palhaça dançarina sem talento. Eu acreditei nele. Tive pensamentos suicidas durante anos.

Sair do Crystal Castles foi a decisão mais difícil que eu já fiz – a banda era tudo para mim. Minha música, as minhas performances e meus fãs eram tudo que eu tinha no mundo. Eu desisti disso e comecei de novo não porque eu queria, mas sim porque precisava. Por mais difícil que fosse, eu sabia que sair seria uma das melhores decisões que já fiz. Foram necessários anos para me recuperar da luta de quase uma década de abuso, manipulação e controle psicológico. Ainda estou me recuperando.

 

Mais recentemente Alice Glass esteve em turnê com Marilyn Manson, como parte da divulgação de um EP solo e homônimo lançado em 2017.

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