Banda_Mulamba_
Foto: Divulgação

Aqui no TMDQA! a gente curte enaltecer artistas novos que estão por aí fazendo música boa, e por esse motivo, a gente precisa te apresentar a Mulamba.

A maior das surpresas do Vento Festival, esse sexteto de Curitiba formado por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Fer Koppe (violoncelo), Naíra Debértolis (baixo) e Nat Fragoso (guitarra) está se preparando para lançar seu primeiro disco de estúdio e falou brevemente com a gente sobre mulheres na música e no rock, o feminismo, o começo de tudo e como elas imaginam que serão seus próximos passos.

Acompanhe!

Vento Festival - Mulamba
Foto por FLASHIT

TMDQA! – Como foi a experiência de tocar no Vento Festival?

Amanda: Cara, foi lindo. Na verdade a Caro, que é a nossa baterista, veio ano passado aqui no Vento, que era em Ilhabela, aí ela amou, disse que a gente precisava tocar aqui, que tinha um monte de banda que tinha tudo a ver com a gente, enfim, bandas que tocam coisas parecidas, que têm uma mensagem parecida com a gente – ah, chegou a Cacau ali, ó!

(Aqui, rola uma pequena festa para receber a segunda vocalista na sala da entrevista, que tinha saído para descansar um pouco após o show.)

Caro: Foi mesmo muito lindo!

Amanda: A gente soube que ia ter o concurso Open Mic e é claro que a gente se inscreveu. Aí deixamos rolar. Nós não esperávamos que tivesse toda essa repercussão, de mais de 10 mil pessoas votando, escutando no Spotify, enfim. Foi lindo ver as pessoas colaborando, nós também só estamos aqui por conta disso, não é? A gente também pediu muito, do tipo de parar as pessoas na rua e pedir para votar na gente, por favor, enfim… foi isso!

TMDQA! – Então, eu também queria falar um pouco do começo da banda… vocês começaram a tocar juntas por conta da Cássia Éller, certo? Me conta essa história direito!

Amanda: É isso mesmo! Eu e a Naíra (Debértolis, baixista do Mulamba) temos uma outra banda chamada Orquestra Friorenta, e no final de 2015, sabendo que a Cássia faz aniversário em Dezembro, queríamos fazer um tributo, um especial para ela. Aí lembramos de outras amigas que também já tocavam, como a Caro que tocava junto com a Fernanda (violoncelo) na Hounds em outras bandas, e aí nós resolvemos unir todas essas meninas e fazer uma banda só em uma homenagem. Com isso, nós temos um ano e meio de banda, em que fomos acrescentando outras mulheres, fazendo especiais de mulheres e para mulheres com releituras de Elza Soares, Gal Costa, enfim, colocando coisa de mulheres no rolê. Aí nós fomos expandindo isso, criando as nossas próprias músicas e estamos aí, unidas pela Cássia, abençoadas por ela.

https://www.instagram.com/p/BVtcBRADvdX/

TMDQA! – É isso aí! Que legal. Mas, e disco galera? Quando sai um disco próprio de vocês?

Amanda: Bom, por passar no Vento Festival ganhando o Open Mic, a gente ganhou um EP para gravar na Red Bull Station. Já estamos com todo o repertório pronto, arranjos prontos, tudo pronto para fazer esse EP. Estamos imaginando em torno de 6 faixas, uma coisa assim. Antes disso, queremos lançar alguns clipes, de singles isolados.

Naíra: Temos um já em processo, inclusive, que é Mulamba, que é um processo muito bonito. A Virgínia [De Ferrante, diretora do clipe], teve a ideia de chamar mulheres que se identificassem conosco e com a nossa mensagem para participar do clipe. Houve uma procura muito interessante e várias almas bonitas quiseram participar. De todas as inscritas, houve uma seleção muito variada de almas femininas, não necessariamente mulheres, para nos conhecer e compartilhar suas histórias em vários dias de processo, sabe? Disso tudo vai sair em breve o clipe de “Mulamba”, que vai ficar demais!

Amanda: É bom dizer que a Virgínia não queria que fosse só um clipe, queria que tivesse todo o processo da nossa vivência com essas mulheres, de ser dinâmico mesmo. Depois do clipe “P.U.T.A”, muitas mulheres vieram falar com a gente da questão da representatividade, então achamos por bem que essas mulheres com quem a gente tem esse contato às vezes não tão direto, só escrito, que a gente pudesse também entender um pouco da história delas. Daí, nesse clipe “Mulamba”, que vai sair em breve, a gente conseguiu trazer essas mulheres um pouco mais perto da gente e contar essas histórias e estar um pouco mais perto delas também! Foi muito emocionante, porque cada uma contou um pouco de sua trajetória e a gente entende que é essa troca é a nossa mensagem, a nossa forma de falar, mas se alimentar também do que essas mulheres têm pra dizer pra gente.

TMDQA! – Aproveitando que vocês falaram dessa questão de se aproximar das mulheres e compartilhar as vivências, eu queria falar um pouco de feminismo. Acho que a gente não precisa ir muito longe pra lembrar que a mulher não tinha uma série de direitos há pouquíssimo tempo atrás, e se agora nós temos esses poucos e bons direitos, é porque temos falado incessantemente a esse respeito e…

Naíra: É! Nós éramos corpos! Pouquíssimo respeitados, desvalorizadíssimos e sem voz, não é?

TMDQA! – Exato! Aí a gente chega nesse momento de ganhar espaço com música, com teatro, com política, com esporte, saúde, diversas áreas. Nesse sentido, eu queria saber qual foi a primeira vez em que vocês tiveram contato com o feminismo e perceberam que de fato precisavam lutar por essa causa.

Cacau: Eu acho que sem perceber direito, sem entender o que a gente estava fazendo, só sendo, nos exercendo e falando dos nossos dilemas, a gente fez “Mulamba” e já passou uma mensagem!

Amanda: Com histórias de vida e de cotidiano…

Cacau: Isso! Aí, depois, a Amanda começou a trazer outras inspirações, veio com essa, ‘Cacau, eu tô trabalhando uma música aqui, falando sobre violência contra a mulher e estupro’, surgiu do desabafo de uma amiga minha. Aí a gente foi ensaiar e ela mostrou, já tinha grande parte da letra…

Amanda: Que veio de um desabafo de uma amiga no Facebook…

Cacau: A gente também estava vivendo a situação da mulher esquartejada, teve isso também, né?

Amanda: Isso! Foi no meu bairro, no Centro Cívico de Curitiba, uma mulher foi esquartejada!

Naíra: Sim, foi absurdo! Mas “tá tudo tranquilo porque afinal de contas ela era uma ‘cracuda’”, entende? Levaram uma semana para descobrir o nome dessa vítima! Quando levaram o nome dela para a pauta, para os jornais, falaram assim: ‘A vítima esquartejada no Centro Cívico foi identificada como Fulana de Tal. Entende-se que era usuária de crack”. Ponto! E é isso! A gente sempre é esse corpo marginalizado, inutilizado, que não tem valor nenhum.

Caro: Era como se ela ser usuária de crack fosse justificativa para o que aconteceu, sabe?

Naíra: É esse o entendimento! Ela merecia! Como assim?

Cacau: E com tudo isso acontecendo, nós trabalhando essas injustiças, esse desespero, queríamos também falar da gente, pra gente, com a gente. Aí percebemos que não há problemas em falar de feminismo, de ser feminista… o problema é não ser! Porque o que o feminismo prega é um entendimento de igualdade de sexos, um reconhecer-se de ambos os lados. A gente não quer misandria, jamais! Mas a gente cansou da misoginia. Nós somos 11 para cada cara e morrem 17 por dia? E normalmente na estatística a mão que mata é a que eu pari? Isso significa que eu estou morrendo pelas mãos daqueles que eu sofri para dar à luz? Há décadas, há séculos, há milênios, eu venho sendo enforcada em praça pública, eu venho sendo jogada com pedra nos rios, eu venho sendo queimada como bruxa, eu venho sendo considerada louca por ser sensitiva, e eu sou esquartejada no Centro Cívico, o bairro político da cidade, em que acontecem as revoluções, e está tranquilo? Foi aí que a gente entendeu que não, vamos falar, eu posso falar, nós podemos falar, feministas sim, vamos falar de mulher sim, vamos falar o que a gente sofre, o que a gente gosta, como fazemos as coisas, como queremos ser tratadas, como a gente tem liberdade sim de fazer o que quiser, dar pra quem quiser, e exercer o direito de ser mulher. É claro que a gente tem muito mais mensagem pra passar, porque o feminismo é só uma ponta do iceberg. A gente vive num país que tem um nível de trabalho infantil e escravo absurdo, onde meninas são vendidas a R$ 40 com 12 anos e vão sendo trocadas de fazenda em fazenda, onde pessoas nascem e morrem sem nunca ter tido acesso à televisão e aí as pessoas me dizem que as coisas só estão como estão porque as pessoas não querem buscar o acesso? Que Brasil é esse? O meu é com S! Esse “Made in China”, esse com Z não me interessa. Nós vamos falar das crianças, vamos falar da violência, das mulheres, no que tiver para falar, de tudo o que tiver para falar. E claro, do que é bonito também!

Desculpa, eu me empolguei! (risos)

Amanda: Que nada, continua! Foi maravilhosa! (mais risos)

TMDQA! – Agora eu quero conhecer referências de vocês! Bandas, artistas que vocês ouvem e que vocês gostariam de recomendar para os nossos leitores…

Amanda: Acho que cada uma tem uma escola de referências musicais aqui e…

Fer: Francisco! Amo Francisco!

Amanda: Isso! A Francisco [El Hombre] é unânime porque é uma banda de referência pra gente, tanto musicalmente como de mensagem, as letras são incríveis, a musicalidade, a gente se espelha muito neles assim na atualidade. Mas tem muita coisa antiga que a gente gosta muito também, a gente sempre cita Elza Soares, a própria Cássia Éller que foi quem deu esse “start” pra gente… enfim, tem várias!

TMDQA! – Pra fechar… vocês têm mais discos que amigos?

Amanda: Aháaaa! Com certeza!

Nat: Eu tenho mais discos que amigos!

Cacau: Eu tenho muito mais discos que amigos, mas eu vou descobrindo amigos nos discos!

Amanda: É!

Naíra: E discos nos amigos!

Amanda: Eu tenho muitos amigos que me dão discos, e isso é maravilhoso!

Caro: E descobrir amigos nos discos também!

Naíra: E discos dos amigos, e amigos dos discos dos amigos…

Cacau: Ah, eu acho que eu tenho mais amigos que discos… por enquanto! Mas eu tenho muitos amigos que são discos e tá igualando, sabe?

Fer: Mais discos que amigos, mais amigos que têm banda e que fazem discos! (risos)

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