Amplifica Especial Goiânia

A cidade de Goiânia é o berço de muitas das principais bandas do rock independente nacional – e isso não é de agora. Além desse fato, é lá também que acontecem festivais importantes, a exemplo do Bananada, que em 2017 ocorreu recentemente no mês de Maio; do Goiânia Noise Festival e do festival Vaca Amarela, para citar apenas alguns nomes. E de explicações sociológicas, água batizada até elementos químicos diferentes presentes no ar, a verdade é que o local já se consolidou como uma referência no país quando se fala em boa música. O Amplifica, a nova coluna do TMDQA! que reúne discos nacionais e internacionais de gêneros e datas diversas, selecionou alguns discos goianos para quem quiser conhecer o que há de melhor nessa cidade afortunada. Além dessas, outras bandas poderão aparecer por aqui ao longo das nossas próximas publicações, basta nos acompanhar. E aí vamos!

Carne Doce
Créditos: Rodrigo Gianesi / Site oficial
Carne Doce
Disco: Princesa
Ano: 2016
Independente / Tratore

Se o Carne Doce é um dos nomes que mais se destacam no cenário nacional da atualidade, no disco Princesa de 2016 o grupo deixa de ser uma promessa para se consolidar como uma banda bastante talentosa e autêntica. Cada faixa do álbum possui o devido tempo que lhe cabe e o trabalho alcança inventividade sem necessidade de firulas ou extravagâncias. As emoções e os sentimentos são o tecido que o grupo usa para fazer suas composições, sob a marca do timbre de voz especial de Salma Jô, a força que guia o álbum. Princesa é, por fim, fruto de um esforço intensamente humano, percorrendo texturas delicadas e limpas, deixando rastros de impressões bem particulares. Para ouvir horas depois de acordar.

Para quem gosta de: Holger, St. Vincent, Baleia

DRY
Créditos: Divulgação
DRY
Disco: Enjoy The Fall
Ano: 2014
Independente

Mesmo sendo um disco de estreia, o DRY apresenta em Enjoy The Fall uma maturidade surpreendente, como se o grupo já tocasse por décadas. A produção é extremamente cuidadosa – e por cuidado aqui, entenda dar a devida ênfase ao peso e à sujeira que o som se propõe a alcançar. Passagens melódicas se intercalando ao peso do instrumental, que apresenta influências mais marcantes do grunge e outros grupos de metal alternativo. Outro destaque que chama bastante atenção é a voz de Marco Bauer (que já tocou no Black Drawing Chalks), servindo muito bem aos propósitos de cada faixa e de cada momento. Vale mencionar ainda a criatividade do baixo, que mantém liberdade para tocar, sem ficar preso aos outros instrumentos. Para ouvir correndo no paralelepípedo.

Para quem gosta de: Faith No More, Helmet, Alice In Chains

Boogarins
Créditos: Divulgação
Boogarins
Disco: Manual, ou guia livre de dissolução dos sonhos
Ano: 2015
Other Music

A suavidade misturada à ousadia do Boogarins não está apenas no conteúdo das músicas – ritmos oníricos, toques mágicos, arranjos delicados -, mas também na forma das composições – transições inesperadas, experimentos e diálogos com o ouvinte, destino incerto. Comparações com grupos que estão fazendo bastante sucesso como Tame Impala são inevitáveis, contudo, o grupo traz o seu próprio frescor. Um álbum nascido da paixão pelos efeitos da música e que deve conservar-se no tempo. Para ouvir tomando banho de cachoeira.

Para quem gosta de: Os Mutantes, Tame Impala, Lê Almeida

Mechanics
Créditos: Divulgação
Mechanics
Disco: 12 Arcanos
Ano: 2013
Monstro Discos

Talvez o representante goiano mais pesado dessa lista. O Mechanics possui um estilo incisivo de tocar e os riffs caem como relâmpagos. A banda transforma a cidade de Goiânia em uma espécie de deserto californiano. É ainda uma das poucas bandas brasileiras a tocar stoner cantando em português. Em diversos momentos de 12 Arcanos, o grupo praticamente se transforma em uma banda de metal, seja pelos já mencionados riffs, os vocais gritados ou pelo baterista que não tem muita pena do seu instrumento, enchendo a mão para enfatizar a agressividade e o peso da sonoridade do grupo. Para ouvir fazendo uma reforma na casa.

Para quem gosta de: Orange Goblin, Monster Magnet, Nebula

Brvnks
Disco: Lanches
Ano: 2016
Dull Dog Records
Brvnks
Créditos: Divulgação

O Brvnks é o projeto de Bruna Guimarães e Lanches é o primeiro EP do grupo. A ambientação garageira (ou, mais atualmente, do quarto de casa) remete ao descompromisso dos anos 90, bem como ao resgate de um som mais lo-fi feito por grupos que começaram a surgir no fim da primeira década dos anos 2000, como o Best Coast, bem como o Wavves. Com apenas quatro faixas e pouco mais de dez minutos, fica a expectativa ao final da audição de um primeiro disco completo. Para ouvir surfando em um dia chuvoso.

Para quem gosta de: Best Coast, The Growlers, Wavves

Hellbenders
Créditos: Divulgação
Hellbenders
Disco: Peyote
Ano: 2016
Independente

Se o Hellbenders, no primeiro disco Brand New Fear, lutava vale-tudo, em Peyote, segundo álbum do grupo, tornou-se um gigante que mal cabe mais no ringue, em relação ao peso da sonoridade do grupo. E a energia do grupo não exclui a preocupação com a harmonia das músicas, principalmente nos refrães. Um cruzamento entre os primeiros discos do Queens Of The Stone Age e Deftones, gravado no deserto californiano, dentro do mesmo estúdio de outras bandas como o próprio QOTSA e Foo Fighters, o Rancho de La Luna. Para ouvir com areia nos olhos.

Para quem gosta de: High On Fire, Clutch, Black Drawing Chalks

MQN
Créditos: Divulgação / Site Festival DoSol
MQN
Disco: Hellburst
Ano: 2002
Monstro Discos

O stoner sujo e distorcido do MQN fez do grupo uma das bandas mais celebradas de Goiânia. De algum modo, a grande parte das bandas de gênero semelhante da cidade (DRY, Black Drawins Chalks, Hellbenders, por exemplo) são filhos do MQN. Mas, ainda além disso, a banda foi um dos maiores exemplos e impulsionadores do rock independente no país. O primeiro disco, Hellburst, foi gravado em um estúdio estadunidense chamado Zero Return Studio. A veia mais tradicional do rock de garagem, principalmente Ramones, se encontra com o instrumental carregado e vocais gritados. O grupo atualmente encontra-se fora das atividades, mas alguns dos integrantes mantém atividades ligadas à música. Para ouvir bebendo cerveja.

Para quem gosta de: Kyuss, Fu Manchu, The Stooges

https://www.youtube.com/watch?v=86Ij-rMCDKI

Black Drawing Chalks
Créditos: Divulgação
Black Drawing Chalks
Disco: Life Is A Big Holiday For Us
Ano: 2009
Monstro Discos

Agressivo e melódico nas medidas certas, o Black Drawing Chalks é um dos maiores exemplos do quanto a cidade de Goiânia é capaz de produzir bandas especiais e extremamente talentosas. O grupo chegou a participar de festivais importantes, tanto no Brasil, como fora do país, recebendo ainda premiações da MTV Brasil e de revistas do segmento musical. A produção capta bem a energia do grupo e a proposta do disco de fazer músicas em clima de bagunça, uma espécie de homenagem ao divertimento e ao prazer. O Black Drawing Chalks segue uma boa tradição de bandas nacionais que cruzam o hard rock com elementos mais modernos, tendo como maior referencial, por conta da repercussão, o Forgotten Boys. Para ouvir nas sextas à noite.

Para quem gosta de: Eagles Of Death Metal, The Datsuns, Forgotten Boys

Peixefante
Créditos: Divulgação / Bandcamp
Peixefante
Disco: Peixefante
Ano: 2017
Dull Dog Records

O nome estranho da banda também se assemelha à sonoridade esquisita (no bom sentido) do Peixefante. Aquecido por reverbs, já nos primeiros momentos do disco é difícil não lembrar de outros nomes da psicodelia brasileira, como Ave Sangria, Mutantes, entre outros. O Peixefante, entretanto, é ainda mais pop, acrescentando uma pegada eletrônica ao clima naturalístico do álbum, o que em princípio parece uma contradição, mas acaba se tornando um paradoxo interessante das faixas. O disco de título homônimo aborda uma espécie de lenda maia. Para ouvir explorando uma floresta.

Para quem gosta de: Ave Sangria, Som Imaginário, Syd Barrett

Violins
Créditos: Divulgação
Violins
Disco: Tribunal Surdo
Ano: 2013
Monstro Discos

O Violins é outro exemplo de como Goiânia é capaz de produzir marcos para o rock alternativo brasileiro, sendo uma das bandas mais expressivas da cidade. Tribunal Surdo traz diálogos criativos entre as guitarras, sem medo de ser mais pesada em alguns momentos, principalmente nos refrões, quando as influências do grunge ficam mais nítidas. O instrumental afiado, que remete bastante ao Sunny Day Real Estate, explora a alternância entre alturas do som, acompanhado de letras irônicas que lembram as composições de Tim Kasher do Cursive e The Good Life. Trata-se, por fim, de uma banda diferente dos padrões tradicionais, mesmo para a cena alternativa nacional. Para ouvir esperando o semáforo.

Para quem gosta de: Udora, Sunny Day Real Estate, Quarto Negro

Cambriana
Créditos: Divulgação
Cambriana
Disco: House of Tolerance
Ano: 2012
Independete

House of Tolerance é o primeiro disco da banda Cambriana, contando com uma produção quase totalmente caseira. As harmonias delicadas remetem automaticamente a influências inegáveis de Grizzly Bear e Radiohead. Dessa forma, o álbum capta bem toda uma geração de bandas consideradas indie, levando em conta a infinita abrangência que envolve esse gênero. O grupo também captura o modo de produzir e distribuir música na época, bastante relacionado à internet e o advento de facilidades tecnológicas. Para ouvir quando chegar muito cedo em um lugar.

Para quem gosta de: Belle and Sebastian, Arcade Fire, The National

Atomic Winter
Créditos: Divulgação
Atomic Winter
Disco: Tsunami Survivor
Ano: 2016
Independente

Um dos exemplos de como a cidade de Goiânia não se resume a um gênero específico. O Atomic Winter foi fundado em 2007 e faz o que se costuma chamar de skatepunk: guitarradas rápidas, unindo velocidade, peso e melodia. Poucas músicas do disco – o segundo da carreira do grupo – passam de 3 minutos, tempo o bastante para o grupo apresentar um álbum enérgico e empolgante. Mesmo fazendo um estilo musical pouco popular atualmente, o Atomic Winters realiza um disco apaixonado e cheio de fôlego, destacando-se como um dos grandes nomes do hardcore nacional. Para ouvir caindo do skate.

Para quem gosta de: Reffer, Belvedere, Bullet Bane

The Galo Power
Créditos: Divulgação
The Galo Power
Disco: The Lysergic Groove
Ano: 2013
Monstro Discos

A capa de The Lysergic Groove já demonstra bem o que o The Galo Power gosta de fazer. Quem apenas ouvir o disco sem outras informações pode acreditar que se trata de alguma banda esquecida dos anos 70. Essa impressão não é à toa, mas fez parte das próprias escolhas do grupo em recorrer a modos de gravar o som com equipamentos analógicos e vintage. Da primeira à última faixa o álbum sustenta o mesmo nível, com solos lisérgicos que vão deixar qualquer fã de Deep Purple instigados. Uma banda que com certeza merece uma maior atenção. Para ouvir perdido na estrada.

Para quem gosta de: Plástico Lunar, Jimi Hendrix, Black Sabbath

Luziluzia
Créditos: Divulgação / Facebook da banda
Luziluzia
Disco: Come On Feel The Riverbreeze
Ano: 2014
Balaclava Records

O Luziluzia é fruto do cruzamento entre duas das bandas mais importantes de Goiânia na atualidade: o Boogarins e o Carne Doce. O disco Come On Feel The Riverbreeze não esconde a atmosfera espontânea de criação, na verdade, utilizando isso como uma matéria-prima importante. De um modo geral, é um som ideal para quem gosta de guitarras barulhentas com uma tintura psicodélica, mantendo ainda uma certa sensibilidade pop. Todas essas sensações são bem representadas pelo título que foi escolhido para o primeiro trabalho do grupo. Para ouvir se enxugando.

Para quem gosta de: Holger, Animal Collective, Catavento

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