Sábado passado, já nas horas finais da primeira edição do Festival Tenho Mais Discos Que Amigos!, esbarrei com o Tony, criador e editor-chefe do site, numa grade lateral. Compartilhávamos uma sensação completa de exaustão física e mental, um sorriso cúmplice ao presenciar o que acontecia à nossa volta enquanto testemunhávamos o BaianaSystem, penúltima atração do line-up, borbulhando a plateia.

“Tá cansado, né?”, perguntei. Tony estava em Brasília havia dias, trabalhando incessantemente ao lado da produção do evento para tornar real o primeiro festival inspirado no TMDQA!, um blog musical que ele criou despretensiosamente nove anos atrás. Tony acenou positivamente com a cabeça, e se falou algo, não ouvi. “Vem cá”, chamei. “Você precisa ver um coisa”.

Arrastei Tony pro meio da roda que tomava a frente do palco do Baiana, o amassamento geral de corpos, sorrisos e abraços suados, onde fãs, integrantes de outras bandas do line-up do festival e membros da produção se esbarravam num calor carinhoso. Catarse, catarse, catarse. Em 3 segundos ou menos, nos perdemos. Só fomos falar sobre ao fim do show, mas nem precisava: a sensação de felicidade tomava os arredores do Estádio Nacional Mané Garrincha.

Eu escrevi meu primeiro post no Tenho Mais Discos Que Amigos! há exatos sete anos, em abril de 2010. Na época, não levava a sério a possibilidade de ser jornalista, muito menos de música. Via meus textos muito mais como formas de desabafar minha tara obsessiva por música, ocupando qualquer brecha de tempo com notícias, críticas, entrevistas e mais notícias.

Sete anos depois, trabalhando como apresentador, jornalista e pesquisador especializado em música, muito graças ao trabalho que construí dentro da equipe do TMDQA!, vi aquele blog modesto virar um festival. O Festival Tenho Mais Discos Que Amigos!. E em Brasília, minha cidade natal, diante de mais de 2 mil pessoas.

Mesmo não envolvido diretamente com a produção do evento, que ficou a cargo da agência Rockin’ Hood e da Influenza Produções, senti um orgulho do caralho ao ver tudo aquilo de pé.

Amigos de adolescência rebolando sem pudores no maravilhoso show do Francisco, el Hombre, a maior banda punk-mesmo-que-não-toquem-punk-rock deste país. Show inesquecível. O sangue nos olhos de MDNGHT MDNGHT, Alarmes e Lista de Lily, bandas locais que subiram ao palco como se fosse a última noite da vida deles. A leveza californiana da goiana Brvnks, os caminhos alternativos do pop abraçado de maneiras distintas por Braza e Supercombo, a euforia do Scalene ao tocar em casa, e o suingue infeccioso do Muntchako, que recebeu a ingrata missão de tocar depois do BaianaSystem e fez um dos shows mais divertidos e comemorados da noite.

E tudo isso começou naquele bloguinho lá, em 2009.

Em um episódio-piloto da nova temporada dos Podcasts do TMDQA! (no ar em breve!), eu e Tony falamos justamente sobre o poder de construção dentro da nossa cena cultural. De ir além das eternas e enfadonhas reclamações e agir para abrir, ainda que lentamente, caminhos novos. Deixar para trás os duelos fervorosos no Facebook sobre o “excessivamente eclético” line-up do Rock in Rio, enquanto iniciativas independentes como Bananada, DoSol, Abril Pro Rock, Se Rasgum – e trocentos outros até menores que esses – fazem tanto e muito mais pela cena independente.

Seria foda se o BaianaSystem fosse headliner do Lollapalooza, em vez de tocar sob o ingrato sol das duas da tarde? Certamente. Seria foda se o Rock in Rio apostasse mais em bandas novas, por exemplo? Lógico. E é essencial fazer esses desejos chegarem aos Medina, à T4F e demais produtoras de alto calibre. Mas é importante, também, perceber que o que não temos, devemos inventar. Realizar.

Foi o primeiro passo de uma jornada promissora, que não ocorreu sem falhas ou percalços ao longo da estrada, mas muito mais lindo do que poderíamos imaginar. É daqui pra mais alto, mais longe. Voemos. E viva a música independente.

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