Oscar 2018

O grande favorito do ano era La La Land, filme com recorde de indicações na academia (14 ao total) que dividiu os grandes prêmios com Moonlight (Barry Jenkins), ao passo que o primeiro levou o prêmio de melhor direção para Damien Chazelle, e o segundo o prêmio de melhor filme. Situação antes não tão comum, mas que se tornou mais recorrente à medida que o número de indicados aumentou e as exigências sociais e culturais de ser mais moderno e relevante foram chegando.

Os dois grandes filmes da noite guardam ao menos uma semelhança. Passaram anos engavetados até que houvesse quem bancasse os projetos, ou que seus realizadores adquirissem a experiência necessária para levá-los pra frente. Moonlight foi baseado na peça nunca publicamente encenada “In Moonlight Black Boys Look Blue”. Ela contava simultaneamente a história de 3 personagens que na verdade eram a mesma pessoa em idades diferentes. Essa simultaneidade imprimia um dinamismo cinematográfico à peça, e por isso seu autor Tarell Alvin McCraney apresentou a produtores seu texto autobiográfico que só veio a ocorrer com a parceria com o diretor Barry Jenkins. Com este filme tivemos o primeiro ator muçulmano premiado com Mahershala Ali, primeiro filme premiado com um protagonista LGBT, e filme de menor orçamento já premiado.

Viola Davis ganhando o Oscar 2017

La La Land está planejado desde 2010, e após muitos nãos e trocas de elenco o filme saiu do papel depois do sucesso do excelente Whiplash, indicado em cinco categorias e vencedor de 3. Embora a direção de La La Land fosse mais desafiadora, Moonlight carregava consigo outra dificuldade. A necessidade de caminhar entre a delicadeza e a força para contar sua história. E cinema é, antes de tudo, narrativa. Desta forma, Moonlight só seria azarão por não ter ganhado a grande parte das premiações as anuais, normalmente consideradas termômetros do Oscar como o SAG e o BAFTA, seja pelo hype produzido, seja por envolvimento e lobby da indústria. Tal coisa não é inédita e em nada alerta sobre um possível não merecimento, já que filmes como Coração Valente e Apollo 13 tiveram o mesmo tipo de comportamento nas premiações.

Com situações importantes como a vitória de Viola Davis por Fences, principalmente após deu discurso ano passado no Globo de Ouro onde exigia não prêmios, mas oportunidades. Após um ano marcado por mudanças na Academia, agora com mais diversidade, e a polêmica do “Oscars So White”, a premiação alcança ao menos um de seus objetivos: relevância. Apesar de tudo, o risco de esta abertura ser efêmera é grande, já que a indústria cinematográfica é comumente arredia a mudanças.

Talvez, apesar destes avanços, a grande polêmica seja a indicação e premiação de Casey Affleck como melhor ator, após ter sido reiteradamente acusado de assédio sexual nos sets onde trabalhou. O merecimento do ator pelo seu trabalho é pouco discutido, mas sim o fato dele merecer ou não estar solto, bem como ter holofotes sobre sua persona o engrandecendo como ser humano. Na vida real o merecimento vai além do esforço profissional, pois com as pessoas com que somos obrigadas a lidar pessoalmente temos que ser cuidadosos, bem como buscamos agir com responsabilidade social/ética na hora de financiá-las pessoas. Tal complacência não ocorreria se fosse um criminoso comum, se a violência não fosse de alguém mais poderoso contra mulheres com poucos recursos de levar um processo como tal à frente. Isso não é colocar a vida pessoal do profissional em xeque, já que vida pessoal é aquilo que a pessoa faz com sua própria vida sem prejuízo a ninguém. Quando se onera a sociedade deixa de ser vida pessoal. É ao menos interessante refletir sobre onde colocar a admiração profissional acima do repúdio comportamental.

Infelizmente a cerimônia será mais conhecida pela gafe da troca de cartões, que aparentemente veio de uma distração do responsável pela logística de entrega dos envelopes que estava publicando fotos da Emma Stone (vencedora como melhor atriz, apesar da grande favorita pela crítica ser Isabelle Huppert). Tal gafe deve ser esquecida pelo bem da importância que Moonlight tem como cinema e representatividade social. Anteriormente a isso, o vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro por Apartamento (Asghar Farhadi), recusou-se ir à cerimônia devido às políticas imigratórias de Trump contra seu país, o Irã, entre os 7 barrados de entrar nos EUA este ano.

Infelizmente, o Oscar da mudança de mentalidade ficará marcado por coisas menores, apagando o brilho da importância das mudanças que ocorreram este ano para a indústria, que deve ver não só a responsabilidade como também a necessidade mercadológica de filmes mais representativos.

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