Nos últimos anos nós falamos bastante sobre a banda paranaense Tiregrito por aqui.

O grupo fez uma ação sensacional de engajamento na “vida real” para que pudesse ir ao Rock In Rio e em 2016 lançou um disco de estúdio chamado Laço Forte, que entrou em nossa lista com os 50 melhores discos nacionais do ano.

Agora, já que o grupo está se preparando para um 2017 movimentado, conversamos com os caras e procuramos entender de onde surgiram as influências que construíram o country/rock regionalista bastante único da banda, e você pode conferir logo abaixo, junto com uma entrevista.

Referências

Johnny Cash

Foi um dos primeiros covers que a banda tocou, a música “Folsom Prison Blues”. E ficou no repertório muito tempo. O CASH tem uma importância muito grande pra banda, pelas referências que ele traz de viagens e fronteiras, nas batidas cavalgadas do country, que também estão presentes em algumas das nossas composições.

https://www.youtube.com/watch?v=It7107ELQvY

 

Hayseed Dixie

A irreverência das versões da banda de “rockgrass”, com pegada country e banjo, está presente na música “Falta Dia na Semana”, por exemplo. Com um repertório recheado de clássicos, passando do country rock até o metal, representa muito bem a variação de estilos que a Tiregrito interpreta.

 

The Allman Brothers Band

Um clássico que serviu como “arquiteto” para a sonoridade de diversas bandas que gostamos, procuramos utilizar a essência de arranjos dinâmicos e criativos, melodias e fraseados divertidos, uma injeção de ânimo nas composições, a proposta de conversação entre os instrumentos e um clima agradável para “ambientar” as faixas.

 

Blackberry Smoke

Mesmo entrando nas vertentes após uma caminhada da banda, é notável a influência, semelhança em sonoridade, melodia e atitudes expressadas, como a rotina em que vivemos, dialeto, costumes e regiões expressadas com a música, ambos temos o reflexo de gostar de Lynyrd Skynyrd, Marshall Tucker, Stones, o que evidencia as características mais fortes das nossas músicas. “Não é sobre que tipo de música, desde que seja bom e  honesto”.

 

César Oliveira e Rogério Melo

São um dos representantes da música tradicionalista gaúcha, cultura esta que muito influencia a banda Tiregrito, sendo os dois um dos artistas mais reconhecidos no cenário cultural do sul do país, tendo recebido, cada um dos intérpretes, diversas premiações em festivais de música nativista.

Foram finalistas da 14ª Edição do Latin GRAMMY em 2013/2014. Extremamente vinculados à música terrunha, da vasta cultura gaúcha, tem um público cativo e crescente, sempre bem acompanhados de excelentes músicos, com shows tecnicamente impecáveis, conquistam a juventude e difundem ao mesmo tempo esta cultura, mantendo cada vez mais viva a historia e os usos e costumes do povo do sul.

https://www.youtube.com/watch?v=Y0UrlDPktk4

 

Entrevista

TiregritoTMDQA!:De onde vocês vêm e como surgiu esse encontro de guitarras e sanfonas que acabou consolidando a sonoridade da Tiregrito?

Tiregrito: Nós somos do interior do Paraná, no Sudoeste do Estado, de uma cidade chamada Francisco Beltrão. Pra quem é ruim de geografia, a gente mora perto das fronteiras do Paraná com Santa Catarina e do Brasil com a Argentina.
A banda começou há seis anos. O Rodrigo (baixista), o Marco Antonio (Guitarra) e o Jhonatan (Bateria) sempre tocaram juntos. Tiveram um problema com o vocalista da ex banda deles e convidaram o Barzotto (vocalista) pra fazer um show. O Barzotto também tinha acabado de sair de uma outra banda.
Todo mundo tava meio de saco cheio de tocar os mesmos covers, ou melhor: covers dos mesmos jeitos. Então, surgiu a ideia de começar a tocar country/rock, porque a gente entendia que a a relação da música feita no sul dos Estados Unidos e a música feita no Sul do Brasil era grande. Então, tivemos a ideia de tocar algumas do Lynyrd Skynyrd como uma banda de baile ou então misturar um John Fogerty com referências sulistas.
O Barzotto já não morava em Francisco Beltrão. E os shows eram raros. Assim como os ensaios. Mas a amizade, na época, e a vontade de tocar manteve os quatro unidos. Anos depois o Vinicius (acordeonista) subiu ao palco para fazer umas duas ou três músicas com a banda. A gente nunca mais fez nenhum show sem ele.
A gente não conseguia mais ver a banda sem o acordeon. Fomos pesquisar novas bandas. Descobrimos novas referências, como o Steve´n´Seagulls, por exemplo, e outras bandas paranaenses que já tinham instrumentos atípicos no rock and roll, como Terra Celta e Confraria da Costa.
A partir daí, começaram a aparecer as primeiras composições, o Marco começou a estudar o banjo, e ele já aparecia também em alguns sons próprios. Hoje em dia a gente segue construindo nossa identidade, respeitando sempre os valores da nossa região e mesclando isso com referências musicais de toda a parte.

TMDQA!: Como foi o processo de gravação desse novo álbum? A evolução é bastante nítida em relação ao EP e dá pra perceber que vocês tiveram cuidado especial em não se apressar para a escolha das canções.

Tiregrito: Realmente, a gente teve um cuidado muito grande com o Laço Forte para que as características do primeiro EP fossem preservadas, mas para que a gente mostrasse também nossa evolução como músicos. O primeiro disco abusava de termos característicos da nossa região, que talvez fossem difíceis de ser compreendidos em outras cidades e estados. As letras também eram mais superficiais. Até porque algumas canções foram escritas há mais de quatro anos.
É natural esse crescimento, este amadurecimento. Apesar das composições explorando novos ritmos e letras mais maduras, a gente queria se sentir bem no estúdio. Sabia da dificuldade que tinha pela frente. Então, optamos por gravar no mesmo estúdio que gravamos o primeiro EP, The Magic Place, em Florianópolis. O Renato Pimentel realizou, novamente, um trabalho fantástico com a gente. E teve um papel fundamental em extrair o maior potencial nas linhas instrumentais e vocais, e principalmente nessa parte da escolha de canções. Algumas, inclusive por sugestão do próprio Renato, ficaram de fora do disco.

TMDQA!: O disco foi lançado no segundo semestre de 2016. 2017 reserva muitos shows da banda Brasil afora? Como vocês pensam em divulgar o álbum?

Tiregrito: A internet é um meio muito forte pra que a música fique conhecida. Cliques, acessos. São importantes. Mas a gente tem certeza que, apesar do ótimo trabalho executado na gravação do disco, é o show da Tiregrito que fica marcado.
A gente faz cada show como se fosse o último. E a cada fronteira que a gente ultrapassa, percebemos que a melhor forma de divulgar nosso trabalho é, mesmo, no palco. Fazer shows. Conhecer bares, pessoas, bebidas diferentes. E, depois, levar isso para nossas músicas.
Várias composições do Laço Forte foram feitas na estrada. A Letra de “Diabo Pede Truco”, por exemplo, o Vinicius fez dentro da van, no caminho de um show em Maringá a caminho de Cascavel e mostrou pra nós ainda na tela do celular.
Em 2015 e 2016 nós fizemos muitos shows. Porém, a maior parte deles no estado do Paraná. Há poucos dias, conseguimos tocar em Santa Catarina. Para 2017, nosso objetivo é fazer shows em cidades diferentes, fora do eixo paranaense que a gente já está tocando.
O pessoal do Rio Grande do Sul, por exemplo. É uma galera que a gente aposta. Pela presença do acordeon, das milongas, das vaneiras. Acreditamos que é um estado da nação que a gente ainda pode explorar bastante.
Tem muita gente por aí que ainda não conhece o som da Tiregrito.

TMDQA!: As músicas desse novo disco têm todas um clima bem parecido e volta e meia parece que você está ouvindo a trilha sonora de um filme de velho oeste. Que tipo de abordagem a banda tem em relação às letras e como os instrumentais se encaixam nessa história toda? Foi um processo difícil escolher a ordem das canções para o álbum?

Tiregrito: Diferente do primeiro disco, que todas as letras e músicas foram escritas pelo Marco Antônio e pelo Barzotto, neste segundo disco teve a participação massiva de todos. Muitas letras e muitas composições do Vini também.
A estética Faroeste a gente traz para fazer uma relação com a região que a gente mora, que há 60 anos era bem parecida com um faroeste. Tinha as mesmas características. Pequenas cidades. Vaqueiros, gente que vivia da terra. Tivemos uma revolta aqui na nossa região, que é retratada na música “Jardim das Araucárias”, onde os colonos que moravam aqui conseguiram tomar a posse das suas terras após um conflito armado. Foi um dos primeiros levantes rurais do Brasil. E é pouco conhecido fora do Paraná. Quer dizer: nas apostilas de escola as pessoas estudam a Guerra de Canudos, mas não estudam a Revolta dos Posseiros, que teve uma importância singular para movimentos como o movimento de Reforma Agrária, por exemplo.
Então, o disco inicia com “Duelo”, que é basicamente toda ambientada em um cenário Faroeste e encerra com Jardim das Araucárias, que conta a história da nossa região de forma semelhante a uma narrativa Western. Isso acaba dando liga ao álbum. E no meio a gente traz uma série de outras referências, como as milongas, as vaneiras, o bluegrass, o hard rock, o funk, e até uma espécie de PUNK dos anos 80.

TMDQA!: Qual é a origem do nome da banda? A expressão é regional, certo?

Tiregrito: No começo, a gente não gostava de ensaiar. Estava todo mundo cansado das bandas anteriores, e a ideia era fazer tudo no improviso, ou como dizem aqui: “no grito”. Até pelas dificuldades de ensaiar, com o Barzotto morando fora de Francisco Beltrão, a ideia era chegar no palco e tocar o que vinha na mente, com muitos improvisos.
O primeiro show da banda estava marcado, em Foz do Iguaçu, e a gente ainda não tinha nome. Então, o Barzotto veio com a ideia de “Tiregrito e os Cheques Frios”. Isso porque em uma banda que ele tocava anteriormente, ele gritava antes de uma música: “É um entra e sai de cabeludo, tiro, grito e cheque frio. Um, dois três e …”.
Fomos tocar em Foz e o cara que foi apresentar a banda não conseguiu falar o nome inteiro. Ele disse, “Com vocês, de Francisco Beltrão, a banda Tiregrito”. E ficou.

TMDQA!: No ano passado vocês fizeram uma ação espetacular na cidade natal de vocês para ficarem entre os finalistas de um concurso para tocar no Rock In Rio. Que lições vocês aprenderam daquele processo todo e que irão levar para o resto da carreira? Conte-nos um pouco sobre como surgiu a ideia para essas ações.

Tiregrito: O concurso da VW pra tocar no Rock in Rio foi uma escola. Em primeiro lugar porque aquilo que, no começo, parecia uma competição acabou se tornando uma amizade. Lá em São Paulo, conhecemos o pessoal da Dona Cislene, que tá muito bem no cenário nacional, fazendo um trabalho fantástico. Também conhecemos e continuamos mantendo contato com o pessoal da banda Maieuttica, do Rio de Janeiro, e a galera do Dias de Truta, de Minas Gerais.
A gente percebeu que tem muita gente fazendo muita música de qualidade neste Brasil.
Como falamos antes, a internet é um importante meio de divulgação. Mas a gente não pode cair nessa “Black Mirrorização” das coisas. Nada vai vencer o corpo a corpo. A energia entre banda e público.
E acho que isso veio um pouco daquela época do concurso, quando a gente percebeu que fazer campanha pela internet dava certo, mas que entregar panfletos no semáforo e frequentar jogo de futebol pedindo o voto também dava.
Existe vida fora da internet. E ela é fantástica.

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

Tiregrito: A gente costuma dizer que a Tiregrito é uma família; não uma banda. Temos uma relação muito próxima com nossos fãs. O nosso grupo de amigos, em Francisco Beltrão, é muito grande. Se juntar todo mundo, dá mais de 70 pessoas. E é gente muito próxima. Frequenta as mesmas festas. Vai nos shows. Ajuda na hora de divulgar o material.
E por todo lugar que a gente passa, a gente volta com uma nova grande amizade. Tem um pessoal de Cascavel que é muito ligado à banda. Uma galera de Foz, de Maringá. Enfim…
Entre nós cinco, também. A amizade é muito grande. Mais do que uma banda, a gente se considera uma grande família. Neste sentido, a Tiregrito tem mais amigos que discos.
Mas a gente também não abre mão de juntar esses amigos para ouvir bons discos. Na individualidade de seus integrantes tem uma infinidade de “discos particulares”. E de gêneros musicais bem distantes do que a banda toca hoje, mas de que certa forma se aproxima nas composições. Como o Vinicius sempre fala: um bom músico também é formato por aquilo que ele ouve.

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