TMDQA! entrevista RATS:
Foto: Divulgação

No dia 7 de Outubro, o grupo carioca RATS lançou seu primeiro álbum.

Intitulado Por Terra, Céu e Mar, o registro mostra mostra muito bem a mescla que os caras fazem de irish punk, folk e hardcore.

Tivemos a oportunidade de bater um papo com alguns dos integrantes. Falamos sobre as influências, o processo de gravação, as dificuldades da cena independente e perspectivas para o futuro. Participaram da conversa: Kito Vilela (guitarra e voz), Fernando Oliveira (banjo, bandolim e voz) e Bruno Pavio (baixo).

TMDQA!: Pode ser que essas três coisas andem juntas, mas mesmo assim vale a pergunta, nem que seja para descontrair. O que veio primeiro para o RATS? O gênero musical, a pirataria ou a bebedeira?

Fernando Oliveira: Como diria Zeca Pagodinho, “amigo eu nunca fiz bebendo leite, amigo eu nunca fiz bebendo chá, sou da madrugada me respeite, que eu sei a hora de trabalhar”. Nem vou dizer que o gênero veio primeiro porque se não fosse a boemia nem o gênero existiria.

Bruno Pavio: Gênero musical, sem dúvida! Foi conversando sobre irish punk que decidimos montar a banda. Ouvíamos o gênero, éramos fãs das bandas, falávamos sobre isso e o que nos motivou, sem sombra de dúvidas foi a musicalidade. Bebedeira é uma coisa pessoal e de momento. Particularmente nem sou tão fã. E pirataria, bom, enquanto for ilegal, melhor não contarmos aqui….

Kito Vilela: Para mim também foi o gênero que nos uniu. Conheço o Pavio de longa data e já tinha cruzado com o Fernando várias vezes pelos undergrounds da vida, mas não éramos amigos de bar. Pra falar a verdade, a gente nunca tinha bebido juntos antes do RATS… pelo visto a gente tá tentando compensar o tempo perdido até hoje!

TMDQA!: Por Terra, Céu e Mar é o primeiro disco de estúdio da banda, e em 2014 vocês já tinham lançado um EP com a mesma temática e estilo. Pretendem continuar pelo mesmo caminho? Acham que pode chegar num ponto em que não conseguirão criar mais músicas nessa pegada ou que o gênero se esgote?

KV: Independente da “temática” ou “estilo”, o caminho é a música e isso a gente vai continuar fazendo sempre. O irish punk, ou melhor dizendo, o “Hardcore Bucaneiro” que a gente faz, no fim das contas é simplesmente punk rock com instrumentos folks e os Ramones provaram que dá pra ser infinito usando simplesmente três acordes. O medo da inspiração nos abandonar é algo inexistente… já temos ideias e músicas para mais uns dois discos no mínimo.

FO: Eu pretendo fazer o que a minha inspiração mandar. Por enquanto as coisas estão vindo e as pessoas estão gostando. Se mais na frente a banda acabar mudando a rota, vou seguir o curso, não vou ficar preso a uma coisa que não faz mais sentido pra mim fazer. Matanza, Raimundos, Sepultura, Los Hermanos, várias bandas se afastaram de seus estilos originais, e isso é natural. Uma galera vai achar ruim e desembarcar, outras vão se identificar e se juntarão a nós, o importante é ser sincero.

TMDQA!: Quais são as maiores influências do RATS, tanto na parte musical quanto nas letras? Além de outros grupos de irish punk, vocês também se inspiram em literatura ou cinema que envolva piratas?

FO: A música é um reflexo do que ouvimos, e não necessariamente tem a ver com irish punk. Coisas ciganas, metal e música clássica já serviram de inspiração. Me ocorre uma ideia que vai se desdobrando e vira uma música pro RATS. E as letras vêm de qualquer lugar, um filme, uma cena na rua, uma história que alguém conta, ou experiências pessoais mesmo.

KV: Hahaha… acho que o RATS vai além do universo da pirataria, cara! Mas sim, a inspiração vem de todos os lugares. Livros, filmes e séries fazem parte do nosso mundo de composição. Por exemplo, escrevi a música “Lobo do Mar” do nosso EP de 2014 inspirado no livro homônimo do Jack London. Já “Indomável” que  está no Por Terra, Céu e Mar, é uma composição do Fernando com o Pavio inspirada no filme Touro Indomável. Completando o que o Fernando falou, a nossa música é um reflexo de tudo que a gente vive, nossas letras falam sobre amores, bares, bebedeiras, liberdade, amigos que se foram, tatuagens e acima de tudo seguir em frente sendo fiel às suas convicções.

TMDQA!: “Medo”, do Cólera, sempre está presente nas apresentações da banda. O Cólera também é uma forte inspiração? Vocês pretendem no futuro fazer mais versões bucaneiras para músicas de outros artistas? Talvez até um trabalho só com covers.

FO: Medo” é a única música que nunca saiu do set desde o primeiro show até hoje. Em SP esse ano dividimos o palco com o Cólera e lá eu e o Kito pegamos a liberação da música com o Val, baixista e membro original, e ele disse que era uma honra ter uma música gravada por nós. Isso não paga as contas mas vale mais que dinheiro, né? A banda começou só fazendo versões, e é uma coisa que nos dá muito prazer. A galera se amarra e a ideia é manter uma versão por disco, seja para “folkalizar” um clássico do punk rock ou “punkalizar” um clássico do folk.

KV: Medo” é realmente uma música muito importante pra gente. Ela serve como um termômetro da apresentação, após a sua execução a gente consegue dizer direitinho se o show será bom ou não. E o Cólera é uma banda muito importante pra gente que cresceu ouvindo punk rock no Brasil. Poder prestar essa homenagem e dedicar a música ao Redson Pozzi (1962-2011) é sempre um grande honra. Se você gosta de RATS mas não conhece Cólera, assista ao documentário Que Esse Grito Não Seja em Vão! Tributo ao Cólera, do Raphael Erichsen, tem no YouTube! Fazer versões/covers está no nosso DNA, um trabalho só com versões de bandas brasileiras é o meu sonho, mas isso ainda vai demorar um pouco, ainda temos um longo caminho a percorrer.

TMDQA!: Quando foi que Jimmy London apareceu como nome para a produção do álbum? E quanto de intervenção por parte dele houve durante as gravações para que o registro fosse moldado conforme o gosto tanto dos integrantes como do produtor?

FO: O Jimmy sempre esteve presente de alguma forma, desde que montei a banda sempre trocamos muita ideia. Quando começou a pintar o disco novo ele já tava tão envolvido que se tornar o produtor foi uma coisa natural. E ele é um produtor que mete mesmo a mão, conhece as referências e a proposta da banda, e até por conta da amizade (e foi uma coisa que combinamos) ele ficou à vontade pra ir nos ensaios e dar palpite em arranjos, letras e escolha de repertório. Durante as gravações ele não deu moleza e arrancou da gente o que podíamos fazer de melhor, custasse os takes que custaram.

KV: Não poderia haver pessoa melhor para produzir esse nosso primeiro trabalho. O Jimmy investiu tempo nesse projeto e isso é a coisa mais valiosa que alguém pode investir hoje em dia. Começamos a afinar o disco no final de 2015 e o Jimmy estava presente nos ensaios e conversas de bar. No início do ano, durante todo o processo de gravação, mixagem e masterização, ele estava com o pai internado lutando contra um câncer e mesmo assim ele nunca faltou a um compromisso com a gente. Jimmy foi um excelente produtor, amigo e conselheiro, e se esse álbum nos ajudar a conquistar novos horizontes, grande parte do mérito é dele!

TMDQA!: E o experiente Chris Hanzsek? Como foi que ele se uniu à tripulação para a masterização do disco?

FO: Jorge Guerreiro foi o técnico de som do disco, ele é um cara de confiança do Jimmy pois grava tudo do Matanza lá na Deck. Ele que sugeriu o Hanzsek pois ficou muito satisfeito com a master do último disco do Matanza. Topamos a ideia e o resultado fala por si.

TMDQA!: A campanha de crowdfunding para a confecção de Por Terra, Céu e Mar chegou a ultrapassar o objetivo. Vocês esperavam ter todo o apoio que tiveram? Fariam uma nova campanha para um próximo trabalho?

FO: God save Bruno Juliani!!! CROWDFUNDING NUNCA MAIS!!!

KV – Hahaha… o Fernando já passou por dois crowdfundings na vida acho que pra ele foi o suficiente. Mas sabe aquela frase “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”? Então, isso reflete o que aconteceu com a gente. Resolvemos fazer tudo ao mesmo tempo, gravar, entrar em turnê (St. Patrick’s Tour que fazemos todos os anos) e lançar a campanha de crowdfunding pelo Embolacha. Foi em março de 2016, em meio a ataques terroristas, escândalos políticos e estupros coletivos… parecia impossível, mas conseguimos. Foi bom contar com amigos, familiares e fãs. Cada recompensa que eu entreguei em mãos veio acompanhada de um abraço forte e um sincero obrigado… realmente sem essas pessoas a gente não estaria aqui. Um salve para todos que fizeram parte do nosso motim.

TMDQA!: Depois do show de lançamento no dia 4 de Novembro, no Rio de Janeiro, vocês pretendem entrar em turnê divulgando o álbum? Como vêem o espaço para um grupo como o RATS no atual cenário underground do Brasil? Veremos a banda navegando por outros estados fora Rio de Janeiro e São Paulo?

FO: Sim, essa é uma banda feita pra estrada, cantamos sobre isso e queremos viver disso. O contato ali com a galera é fundamental. Mas as coisas não estão fáceis e não só pra gente. Tenho conversado com amigos e geral tem feito muito esforço pra continuar tocando e levando seu som por aí. Mas não estamos sozinhos, temos a Crasso Records e vários amigos que remaram conosco até aqui. Por isso, desistir não é uma opção, seguiremos até onde der, e quando não der mais a gente segue mais um pouquinho, hehe.

KV: A gente espera que esse álbum sirva como um cartão de visita e nos dê acesso a lugares e festivais onde não aportamos. Como todos estamos vendo e vivendo “não está fácil pra ninguém”, vemos casas de show como Hangar 110 fechando, contratantes receosos em produzir eventos, etc. Mas a gente já está na batalha há muito tempo e nunca foi fácil, sabe… Prefiro um olhar otimista, hoje não me pagam em cerveja, não viajo numa Kombi apertada e não durmo no chão de amigos dos produtores de uma cidade que você não acha no mapa!!! Ainda não conseguimos viver disso, mas hoje a esperança é maior do que a de ontem.

TMDQA!: Quais os maiores perrengues passados por um grupo que se aventura no independente? As glórias e realizações são maiores que os contratempos?

FO: A falta de grana é o principal problema, porque dela vem quase todos os outros. Viajar, comer e dormir mal é quase que uniforme do underground, hehe. Mas quando se faz o que ama, as realizações têm peso dois, os contratempos sempre vão existir e quanto mais difícil é algo, mais valorizamos sua conquista. Então, que venham as tempestades, maremotos, tsunamis e terremotos!

KV: Teve uma St. Patrick’s Tour que só deu merda, esses fatos levaram o Fernando a escrever a faixa título do disco, “Por Terra, Céu e Mar“. A letra dessa música responde a sua pergunta!

TMDQA!: Esse questionamento a gente faz pra todo mundo. Vocês têm mais discos que amigos?

FO: Meu Facebook diz que tenho 1.427 amigos. Com certeza tenho mais discos que isso, sei que nem todos na lista são meus amigos de verdade, mas tudo bem… Nem todo disco meu é original também, hehe.

BP: Tenho, mas porque tenho poucos amigos. Já tive muitos discos, hoje infelizmente ficou menos ace$$ível ter muitos, porém fatalmente tenho mais álbuns no download até que inimigos.

KV: Mais discos quando sóbrio. Mais amigos quando bêbado.

RATS – Por Terra, Céu e Mar

Por Terra, Céu e Mar entrou na nossa lista de álbuns que você deveria escutar no mês de Outubro. Você pode escutá-lo abaixo:

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