Em “Más o Menos Bien”, uma das canções mais aclamadas do grupo argentino El mató a un policía motorizado, o baixista e vocalista Santiago Motorizado evoca um desejo simples, o silenciamento de problemas que reconhece e legitima, ao simplesmente empunhar um instrumento. “Amigos, formemos una banda de rock n’ roll / (…) Ahora somos nuevos creadores de rock n’ roll / Tranquilos, todo va a estar más o menos bien“.

É com versos simples como esse, apoiados em estruturas e arranjos apoiados na paleta sonora do rock noventista, que o El mató se tornou um dos principais nomes do rock latino-americano. Formada em La Plata, Buenos Aires, em 2003, a banda contrariou a norma dos grupos latinos de rock e conquistou um público cativo no Brasil, onde se apresentou diversas vezes. E nesta semana, o país volta a receber o quinteto, para shows no SESC Pompeia (na quinta, 15/09) e no Festival Transborda, em Belo Horizonte (sábado, 17).

Da última vez por aqui, o grupo divulgava o ótimo La Dinastia Scorpio (2012), segundo álbum do El mató, que sucedeu o clássico álbum de estreia e uma sequência de três EPs lançados entre 2005 e 2008. Agora, o grupo chega reforçado pelo repertório do EP Violencia (2015), planejado inicialmente como um novo álbum, que ficou para o ano que vem.

Por e-mail, Santiago bateu um papo com o Faixa Título sobre o momento atual do El mató, a natureza dos shows da banda, a expectativa de um novo álbum e até sobre a situação política do Brasil. Vale a leitura, logo após o clipe de “Más o Menos Bien”:

A banda existe há 13 anos. Como a sua vivência pessoal nesse período influenciou o seu trabalho como compositor?

Santiago Motorizado: De muitas formas. Muitos anos se passaram, e vivemos muitas aventuras, viajamos muito, tivemos várias experiências. Foi fundamental termos nos dedicado 100% à nossa arte, além do intercâmbio cultural que é conhecer lugares novos, pessoas novas e projetos diversos ao redor do mundo. Foi incrível.

O som do grupo parece ter ganhado um tom extra de melancolia nesse período. Seria um reflexo dos tormentos da vida adulta?

SM: Acredito que a melancolia sempre esteve presente, mas também há uma angústia na vida adulta que parece ir e vir. [Com o passar do tempo] você ganha experiência e maturidade, mas por outro lado novos medos e novas angústias começam a surgir. Assim é a vida, e não podemos escapar disso.

Muito se fala sobre a qualidade hipnótica do El mató, especialmente ao vivo. Você também sente isso ao tocar a sua música?

SM: A verdade é que gostamos muito de tocar ao vivo, e gostamos cada vez mais. Uma banda precisa de tempo para se entrosar, e esse é um ciclo que se renova a cada álbum novo. Depois de tanto tempo tocando juntos, criamos uma conexão especial em cima do palco que nos ajuda a desfrutar cada noite ainda mais. Outro fator fundamental é a resposta do público, sempre muito intensa e contagiante.

Falando nisso, como você descreveria a diferença entre o El mató dos discos e o que ouvimos nos shows?

SM: Há uma carga extra de intensidade e de celebração, uma energia que só aparece durante os shows, e tudo bem que seja assim. Gostamos da ideia de que a banda tenha duas caras, a dos discos e a dos shows. E se pudermos agregar novas facetas a essa experiência, como a parte visual e os demais elementos artísticos que completam esse caminho, melhor ainda.

O EP Violencia (2015) nasceu das sessões do que viria a ser um novo álbum de inéditas. Vocês voltaram a pensar em um novo disco, desde então? Há alguma ideia de quando lançá-lo?

SM: Vamos gravar um novo álbum em janeiro de 2017. Por enquanto, seguimos preparando os rascunhos e demos das novas canções.

O Brasil tem passado por um momento político conturbado. Você tem acompanhado as notícias do que está acontecendo por aqui?

SM: Sim, nos interessamos muito pelas questões políticas da América do Sul, e lamentamos que o Brasil esteja nessa situação. A soberania dos povos e a democracia devem ter prioridade máxima, sempre. Não sabemos os detalhes de tudo o que está acontecendo (tarefa difícil em tempos de tanta informação e desinformação), mas os direitos do povo não podem ser suprimidos pelos governantes, acima de tudo.

Por causa da crise política, o setor cultural brasileiro tem discutido cada vez mais a importância da arte no desenvolvimento do país e a importância do posicionamento político de alguns artistas. Como você vê a relação entre a música e o debate político?

SM: A política está sempre presente, todas as nossas ações são políticas. Os artistas tendem a ser o foco dessas questões pela voz ativa que têm, às vezes com apenas algumas pessoas, às vezes com grandes multidões. Eu acho bom que o mundo artístico e o político tenham diálogos constantes. A arte não tem o compromisso de ser nada além de arte, mas os artistas são atores políticos como todos os cidadãos, e acredito que o maior compromisso [dos artistas] deva ser com a política cultural do seu círculo próximo, do seu bairro, da sua cidade, do seu país e de sua região, para assim entrar nesse universo tão complexo, infinito e apaixonante.

Infelizmente, o Brasil segue um país relativamente fechado para a música de outros países da América Latina. Por que o El mató superou essa barreira e conquistou um público significativo aqui, na sua opinião?

SM: Não sei bem, mas o poder das canções é grande e surpreendente.

Que novos artistas argentinos você recomenda a quem ainda não conhece a fundo a cena argentina?

SM: Muitos! Las Ligas Menores, 107 Faunos, Koyi, Bestia Bebé, Atrás hay Truenos, Los Reyes del Falsete, Pyramides, Super 1 Mundial.

Serviço: El mató a un policía motorizado no Brasil

São Paulo – SP
Data: 15/09
Hora: 21h30
Local: SESC Pompeia – Rua Clelia, 93
Ingressos: online aqui e nas unidades SESC de São Paulo

Belo Horizonte – MG
Festival Transborda com Xõó, Lucas Santtana, Inky e Di Souza
Data: 17/09
Hora: shows a partir das 16h20
Local: Viaduto Santa Tereza
Entrada gratuita

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