Titãs em Porto Alegre

Fotos por Doni Maciel

Texto por Paulo James

Foi uma sexta-feira atípica em meio ao inverno gaudério: o frio e a neblina deram uma trégua, e o clima convidativo tirou até os mais preguiçosos de casa. O entorno do Bar Opinião fervilhava, e o mesmo clima invadiu esse clássico reduto roqueiro portoalegrense.

Um pouco além das 21h, os quatro Titãs remanescentes subiram ao palco. Trajando as máscaras sinistras do clipe de “Fardado”, invocam a veia dramática que remonta aos primórdios da banda. Branco Mello, Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto são criaturas da cena alternativa paulistana do início dos anos 80 (#procuresaber), quando música, teatro, poesia e outras pirações fizeram germinar trupes inventivas e contestadoras. Sim, transgredir era a intenção artística, e eles carregam os traços dessa vanguarda no DNA, entre outras tantas vertentes.

A trinca de músicas que abre o show é uma porrada! “Fardado”, “Cadáver Sobre Cadáver” e “Chegada ao Brasil (Terra à Vista)”, do mais recente disco Nheengatu, são boas demais para serem digeridas nesse 2016 de corações e mentes politicamente corretos, excessivamente calculistas e cada dia mais previsíveis e programados. Rebobinando a fita lá pro auge dos anos 1980, estreitamos a conexão com os petardos do clássico Cabeça Dinossauro, que se tornaram hinos ao expressaram com maestria o zeitgeist, o espírito das ruas naquele momento anti-ditadura, anti-governo, anti- repressão, anti-bundamolismo. “Bichos Escrotos”, por exemplo, chegou a ser cantada a plenos pulmões pela plateia do Programa Sílvio Santos…acredite, se quiser!

A recepção inicial do público presente no Bar Opinião é atenta e respeitosa, mas não passa disso. Na falta de uma gurizada disposta a cerrar os punhos contra nossas mazelas sociais, foi justamente a galera old-school (agora com grana no bolso e vida confortável), que compareceu em peso pra ouvir os trocentos hits que vieram em seqüência logo que os Titãs sacaram suas máscaras.

O repertório transita basicamente pelos álbuns Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, Go Back e Õ Blésq Blom. Fora essas, que são efetivamente a espinha dorsal do que se conhece como Titãs, tivemos “Sonífera Ilha” e “Televisão” lá do comecinho, e aquelas que estouraram a partir do Acústico MTV – mais mansas, mais reflexivas, mais maduras (ô palavrinha escrota), mas com a mesma qualidade musical e um baita apelo popular.

“Pra Dizer Adeus” (repaginada), “É Preciso Saber Viver” e “Epitáfio” emocionaram, e foram cantadas em uníssono. Na finaleira, a banda voltou duas vezes ao palco. Pra sacanear (tenho certeza!), Branco Mello puxou “Igreja”, mas não foi exatamente acompanhado pelos presentes. As pessoas conhecem bem, é claro, mas não se motivaram a bradar xingamentos sobre a santíssima trindade e seus asseclas.

Em seguida, “Família” sacudiu a massa, com seu simpático e irônico groove sobre o cotidiano dos tradicionais lares brasileiros. E esse contraste de reações diz muito sobre o clima do show: puro êxtase com o revival, e uma certa apatia frente às transgressões. Divertido, sem sombra de dúvida.

Mas como seria legal ver a piazada largando um pouco de mão os funks, sertanejos e MPBs-sem-graça pra digerir e cuspir tudo que os bons e velhos Titãs têm a oferecer.

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