Aeromoças e Tenistas Russas

A banda brasileira Aeromoças e Tenistas Russas tem, além de um nome bastante peculiar, uma sonoridade própria que agrega elementos e valores de diversos estilos musicais, chegando a resultados como o mais recente álbum, Positrônico (2015).

Após a boa recepção do disco o ATR comemora 8 anos de carreira e nós do TMDQA! conversamos com os integrantes do grupo, que também montaram uma playlist de seus sons pra gente e disponibilizaram um clipe inédito de “Kamaq”.

Você pode ver tudo isso logo abaixo!

TMDQA!: Oito anos é uma marca impressionante para qualquer banda. Quando falamos de música instrumental e no Brasil, isso amplifica ainda mais. Como vocês percorreram esse caminho e como enxergam as questões e dificuldades de estúdio e estrada na carreira? O que os motiva para seguir em frente?

ATR: As dificuldades são praticamente as mesmas para qualquer banda que se propõe a desenvolver uma carreira autogestionária e independente de grandes gravadoras. A formação de público é palavra chave nessa história. O caso da música instrumental, com a qual muitas pessoas ainda não estão habituadas a consumir e valorizar torna nosso desafio ainda maior. Por outro lado, também enxergamos isso como um ponto positivo e um diferencial, pois nos provoca a sermos mais criativos, a “prender a atenção do público” por meio de outros recursos e mostrar que o nosso som é bom, independentemente de uma voz puxando o refrão.

Nosso trabalho consiste em trazer elementos visuais para o show, pros discos e formar parcerias para potencializar nossa visibilidade e nos conectar ao cenário que a gente se encontra. Tocar, criar e nos conectar com o público nos motiva a continuar na estrada.

TMDQA!: Além da música, vocês têm muita preocupação também com o visual. Como a banda idealiza os lançamentos de discos e canções já imaginando as relações que irá fazer com a estética? Um dos clipes de vocês foi reconhecido recentemente na Europa e inevitavelmente é um grande aliado também para a propagação da música.

ATR: Todos da banda se formaram em audiovisual, o que faz com que a gente tenha uma relação direta com a imagem e o som. Para cada música criada, conseguimos visualizar uma narrativa imagética e o contrário também se aplica, no sentido de ter ideias e a partir delas criar uma proposta sonora. Não só a “Baghdad Battery” que ganhou um clipe recentemente, mas todo o disco Positrônico foi um processo de muito trabalho e conversas até chegarmos num conceito mais amarrado.

Fizemos inúmeras audições coletivas, convidando amigos e profissionais da área, pra ver o que cada um conseguia sentir das músicas. Em cima disso, escolhemos os nomes de cada uma das faixas a partir do que representavam para nós, o que culminou em vários pontos em comum no disco inteiro, levando a uma temática futurista e espacial. Buscamos representar esse conceito através das fotos oficiais, da capa do disco, dos nossos videoclipes e até dos figurinos. Mas entendemos que se trata de um aprimoramento permanente na busca de apresentar visualmente o que criamos sonoramente.

TMDQA!: Como vocês definiriam o som da banda para uma pessoa que nunca os ouviu? Que estilos, artistas e bandas influenciam as composições que acabam sendo gravadas pelo grupo?

ATR: Sempre optamos por não rotular o nosso som. Até porque se avaliarmos os três discos da banda teríamos que dizer que a banda é uma banda de instrumental “spacerockeletropopgroovetechnobrega” (risos). Atualmente estamos trabalhando um show que mistura rock progressivo à música eletrônica contemporânea.

BadBadNotGood, Vulfpeck, Hiatus Kaiyote, Tycho, Com Truise, Tame Impala, Bonobo, Daft Punk, Eryka Badu, Flying Lotus e Kendrick Lamar são artistas que nos influenciaram.

Aeromoças e Tenistas Russas

TMDQA!: Essa pergunta é inevitável: como surgiu o nome da banda?

ATR: Essa pergunta sempre aparece pra gente. Por muito tempo não tínhamos uma resposta tão interessante. Era um nome escolhido para chamar atenção, se destacar no line up de festivais, mas uma coincidência apareceu e começamos a usar isso como o “surgimento oficial” do nome, que é uma homenagem à tia bisavó do baterista, a tia Olga.

Ela foi a primeira aeromoça brasileira a se aposentar e ainda tem no seu histórico duas quedas de avião em que ela sobreviveu e continua viva até hoje. O nome Olga também é russo. E a história ficou muito mais interessante.

TMDQA!: Um dos grandes assuntos do underground hoje em dia é como o rock and roll pulsa firme e forte no Brasil mas não atinge o mainstream. Como vocês enxergam o mercado de música independente no país e o que acham da questão independente/grandes gravadoras na música nacional?

ATR: Para nós, a cena independente não deve mirar no mainstream. O independente não pode ser entendido como um primeiro estágio para se chegar ao mainstream. Pelo contrário, a cena independente tem que ter ainda mais alcance por ela mesma. Vemos muitos artistas que vivem do seu trabalho nesse cenário, grandes bandas muito criativas e que levam algum tipo de mensagem crítica ao seu público.

Mas falta muito dentro do campo de políticas públicas que poderiam fortalecer e “democratizar” esse acesso ao grande público. Vemos a dificuldade dos festivais independentes em se manter a cada ano, as casas de shows que se propõe a realizar shows de bandas autorais, aos produtores para criar novas plataformas e também os meios de comunicação, blogs, sites que falam sobre música e lutam para sobreviver, além da pouca inserção em rádios, que tocam sempre os mesmos artistas.

A gravadora potencializa esse ponto de investir, fortalecer e conseguir dar visibilidade ao artista, mas a autonomia do trabalho, ponto que muitos artistas têm buscado, é prejudicada. Temos vários exemplos de bandas que formaram público através da internet e hoje circulam o país inteiro com seus trabalhos autorais.

TMDQA!: Quais são os próximos passos da banda para os 8 próximos anos? O que teremos no futuro? Que tipo de coisas vocês repetiriam e que tipo de ações que nunca fizeram pensam em arriscar algum dia?

ATR: Uma das coisas mais legais que aconteceu esse ano foi a criação de projetos com outros artistas. Estamos circulando com a cantora Tássia Reis e tem sido surpreendente a recepção em cada show. Também tem o Zé Vito, que produziu nosso disco e lançou seu segundo álbum solo, com quem estamos fazendo alguns shows.

Também gravamos recentemente no Red Bull Station o single do primeiro disco do Liniker e os Caramelows. Esperamos que apareçam ainda mais projetos assim, pois tem nos aperfeiçoado como músicos além de trazer visibilidade para chegar em outro público que talvez ainda não conheça a gente.

Pretendemos também circular por outros continentes, como por exemplo a Europa, que tem se mostrado um mercado em potencial para nosso tipo de som. A ideia também é gravar mais músicas, seja com Aeromoças e Tenistas Russas, ou com projetos paralelos, uma vez que cada integrante também produz suas próprias músicas. Tem muito trabalho a se fazer e também uma infinidade de escolhas que são feitas a partir de um contexto, de uma ideia.

Tomara que isso continue vivo!

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

ATR: Com certeza! (risos) Conhecemos muito mais artistas pelo seu som do que pessoalmente. Mas grande parte do nosso acervo acaba sendo discos de amigos que conhecemos e admiramos!

Novo clipe de “Kamaq”

 

Playlist – Aeromoças e Tenistas Russas

1. Solarística

Foi o nosso primeiro videoclipe realizado, quando ainda éramos estudantes de Imagem e Som na UFSCar. A música foi gravada em Araraquara na casa de um amigo, por um preço simbólico, é claro. Acredito que seja o nosso primeiro registro como banda instrumental, até então tínhamos um show meio instrumental meio cantado.

2. Insomne

Música do nosso terceiro videoclipe, uma animação. É um som que fizemos pensando na insônia, em ⅞, com várias partes incômodas, perturbadoras. O videoclipe também foi um trabalho que, vale ressaltar, foi feito de forma colaborativa com diferentes animadores de todo o país.

3. Jacques Villeneuve Experience

Essa foi uma das nossas primeiras músicas como banda. Na época, ainda com um saxofone na formação, era aquela que todo mundo pedia pra tocar nos shows, praticamente nossa “música de trabalho”. Também virou videoclipe, realizado pela turma de 2008 do curso de Imagem e Som da UFSCar. O nome da música surgiu a partir de uma impressão nossa de que soava como música de festa para pilotos de Fórmula 1.

4. Jaque Vilanova

Essa música representa o início de um novo ciclo. Foi a primeira música que compusemos com a nova formação da banda, que tem o Gustavo na guitarra e o Eduardo na bateria. Esse som é um rearranjo da música “Jacques Villeneuve Experience” numa perspectiva abrasileirada, o que acabou guiando a criação e a produção do nosso segundo disco, A Experiência de Jaque Vilanova.

5. Laguna

Música que já anunciava o que estávamos planejando para o Positrônico (2015): algo mais eletrônico, com timbres e células rítmicas diferentes do que gravamos em “A Experiência de Jaque Vilanova”. Foi a nossa última composição desse disco.

6. 2036

Foi uma das primeiras músicas que nasceram do disco Positrônico e também a que foi mais trabalhada em um primeiro momento. É um som que desde o início imaginamos sob uma estética futurista. Conta com a participação do mestre Donatinho nos sintetizadores, o que deu um brilho especial à sonoridade.

7. Baghdad Battery

Música que fizemos ouvindo muito Vulfpeck. O groove é o elemento principal e as melodias carregam um ar irônico. O videoclipe foi editado pelo nosso guitarrista Gustavo Koshikumo e é o nosso primeiro registro audiovisual do Positrônico.

8. Lovejoy

“Lovejoy” é uma música feita para um cometa que se chama Lovejoy, no âmbito de explicitar a ao mesmo tempo longínqua e estreita relação homem vs. universo. Também vai ganhar um videoclipe inédito, previsto pra ser lançado em agosto de 2016.

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