Tony Iommi, do Black Sabbath

Existem músicos que criaram grandes canções, existem músicos que criaram grandes álbuns – e existem músicos que criaram grandes estilos.

Tido por muitos como o pai do heavy metal, o mestre Tony Iommi está encerrando sua carreira junto ao Black Sabbath e aceitou o convite do The Guardian para falar um pouco sobre o momento tão delicado.

Prestas a concluir a turnê The End (que passa pelo Brasil em Novembro e Dezembro), o guitarrista fala muito francamente sobre como se sente dando o adeus aos palcos, seu estado saúde (ele foi diagnosticado com câncer em 2012) e ainda traz lembranças impagáveis sobre a história da banda.

Uma verdadeira aula de rock’n’roll. Veja a seguir:

 

Oi Tony, como você está?

Estou bem no momento, eu ouso dizer. Tive um linfoma estágio 3, então ele pode voltar a qualquer momento. Essa é uma das razões pelas quais estamos parando de fazer turnês.

Não é exatamente a questão dos shows mas, sim, a rotina de longos voos e chegadas em hotéis às 4 da manhã. Isso não é bom pra mim porque afeta as células do sangue. Mas eu amo tocar com a banda, é triste pensar que esta é a última turnê.

 

É estranho pensar que esta é a última vez que você irá tocar nesses países?

Isso me bateu particularmente na Austrália. Eu pensei: “Caramba. É isso aí. Nós nunca vamos voltar.” É muito emocionante.

Mas isso não significa que nunca mais tocaremos juntos mais, apenas estamos parando de fazer turnês. Bem, eu não farei mais. Eles (Ozzy Osbourne e Geezer Butler), possivelmente (risos).

 

Você já se pegou pensando como um acidente numa fábrica de malha de metal te levou a inventar o heavy metal?

Aquele foi meu último dia de trabalho. Eu estava para me juntar à banda profissionalmente e ir rumo à Alemanha. Eu voltei pra casa para almoçar e não queria mais voltar. Minha mãe disse: “Vá e termine seu trabalho corretamente.”

A máquina caiu em meus dedos e arrancou as pontas fora. Mas isso me deu determinação. Eu derreti uma garrafa de detergente e fiz novas pontas para os meus dedos, aí baixei a afinação das cordas para que ficassem mais fáceis de tocar. Eu encontrei meu som por causa do plástico.

 

Aí de repente você estava em uma banda chamada Black Sabbath – que metade do país pensava que eram satanistas.

A gente tinha, sim, um interesse pelo oculto. Bem, Geezer e eu assistíamos filmes de horror, mas acabava havendo bruxas em nosso shows. Em uma noite, nós voltamos para o hotel e havia um grupo delas com capas pretas, sentadas no chão, entoando seus cânticos. No final, nós assopramos suas velas e cantamos “Parabéns” para elas. Isso realmente as deixou nervosas.

 

Assim como é o mestre dos riffs, você é também conhecido como um dos maiores pregadores de pegadinhas do rock’n’roll. Você realmente explodiu os peixes de Richard Branson?

Nós estávamos passando um tempo na casa dele para fazer um álbum. Ian Gillan, do Deep Purple, era nosso vocalista na época, e ele ergueu uma tenda fora da casa para dormir. Ele disse: “Eu quero o ar fresco para a minha voz” e toda essa baboseira.

Enfim, quando voltamos do pub numa noite, nós colocamos uns explosivos ao redor da tenda. As explosões foram tão fortes que a tenda decolou, deu uma nuvem de cogumelo igual bomba atômica. A explosão atravessou o lago e todos aqueles peixes caríssimos subiram boiando até a borda. Nós ficamos pensando: “Caramba, quem irá contar a Branson?” Claro que havia uma igreja nas redondezas e eles fizeram uma petição para nos expulsar de lá.

 

Por que você pintou Bill Ward (ex-baterista do Sabbath) de dourado?

Nós estávamos hospedados na casa de John DuPont em Los Angeles, o cara que era dono das tintas DuPont. Nós encontramos todas aquelas tintas na garagem, e estávamos putos, então achamos que seria divertido pintar Bill de dourado da cabeça aos pés. Ele começou a ter convulsões. O pessoal da ambulância nos deu uma bronca: “Seus idiotas! Vocês poderiam ter matado ele.” Eles aplicaram adrenalina e tivemos que usar thinner para tirar a tinta. Ele parecia uma beterraba no final.

 

O que o Ozzy acrescenta ao Sabbath que os outros não conseguiram?

Ele é o original. É como colocar uma velha luva, com Ozzy e Geezer. É uma pena que Bill não esteja envolvido agora. Foi por causa de questões contratuais, em parte, mas estávamos preocupados com sua saúde depois que ele teve os problemas de coração.

Eu ainda falo com ele, mas nós tendemos mais pro email. Eu não consigo pintá-lo de dourado por email. A gente se divertiu um bocado. Eu costumava colocar fogo nele.

 

Colocar fogo?

Era a nossa pegadinha principal, que funcionava sempre, até a última vez que fizemos isso. A gente estava com um novo produtor, Martin Birch, que havia ouvido todas aquelas histórias sobre satanismo e estava um pouco nervoso.

Eu fiz uma boneca de madeira e a vesti com uma roupa preta e os caras disseram pra ele que era minha boneca vodu dele. Enfim, Billy disse – na frente do Martin – “Você vai colocar fogo em mim, então, Tony?” Eu joguei álcool nele todo. Normalmente ele só queimava, mas desta vez eu joguei até encharcar suas roupas, daí quando acendi ele explodiu como uma bomba.

Ele estava rolando no chão, gritando muito. Eu achei que era parte da pegadinha, então joguei mais um pouco do álcool. Martin não conseguia acreditar.

Nós tivemos que chamar uma ambulância para Bill. Ele teve queimaduras de terceiro grau. Eu me arrependi amargamente. A gente ainda prega peças um no outro mas nenhuma tão severa quanto essa. Eu aprendi minha lição.

 

Você se diverte lendo sobre as últimas travessuras de Ozzy nos tabloides [a respeito da suposta traição e separação de Sharon]?

É sempre uma loucura, pra ser honesto. Você nunca sabe o que vai acontecer. Só Deus sabe o que vou ler sobre ele numa próxima – provavelmente que ele está grávido!

 

Como as drogas afetaram a sua música?

Ela nos fez experimentar e conversar mais sobre as coisas, na medida em que ficávamos acordados a noite inteira. Aí nos víamos no dia seguinte e não conseguíamos nos lembrar de nada disso.

 

É verdade que seu famoso riff de Iron Man foi inspirado por chá?

Café, na verdade. Nós ensaiávamos num clube de jovens em Aston e era tudo que eles tinham. Eu tomei um copo e saiu esse riff. A primeira vez que soube que tínhamos feito algo de diferente foi com a música “Black Sabbath” (de 1970). Aí você acaba querendo ter aquele sentimento outras vezes.

 

Você se tornou professor da Universidade de Coventry, certo?

Eu fiz doutorado e então eles me fizeram ser professor convidado, então eu conversei com os alunos sobre música. Nós formamos uma banda e eu os auxiliei.

 

Você colocou o chapéu e a túnica?

Coloquei.

 

Pretos, óbvio.

Na verdade, não! Eu me senti muito desconfortável usando cores diferentes.

 

Você sempre usa preto?

Uma vez entrei num pub com uma camisa azul e foi um choque. “Cadê todas as suas roupas pretas? Você não pode vir aqui assim!” Foi como se tivesse matado alguém.

 

Por que você sempre usa uma cruz quando está no palco?

Eu a tenho há uns 40 anos e nunca subi ao palco sem ela. É um amuleto da sorte. Nós todos tínhamos uma. Ozzy ainda tem a dele. A do Bill está numa caixa. Geezer perdeu a dele no estádio do Aston Villa.

 

Você acredita em Deus?

Eu acredito em um deus… e que o Demônio existe em todos nós.

 

Como se sentiu tendo um álbum nº 1 no mundo todo com 13, em 2013?

Foi nosso primeiro número 1, depois de 40 anos. Absolutamente brilhante. E tocar ao vivo agora me deixa nervoso, é desafiador… você está no topo, porque nunca sabe se irá fracassar.

Mas quando a plateia está com você, é fenomenal. Aí você sai da estrada e volta a ser você mesmo novamente.

 

Quem é você, quando não está na estrada com o Sabbath?

Eu sou um cara passeando com seu cachorro.

 

Você irá tocar no festival Download mês que vem em Donington, um lugar que você já tocou em inúmeras ocasiões. Tem algo planejado para o caso dessa ser a última vez?

Sim, nós não iremos perder a cabeça (risos). Não, brincadeira, é sempre um ótimo lugar para se poder tocar.

 

Após The End, existe a possibilidade do Sabbath fazer um show pequeno novamente, ou num pub?

Nós ensurdeceríamos as pessoas!

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