Lançamento exclusivo: Ouça o disco de estreia da Blind for Giant

Nós do TMDQA! temos muito carinho e respeito pela excelente cena independente que vem se desenvolvendo no norte do país. Bandas como Vinyl Laranja, The Baudelaires, Zeromou, Blocked Bones e tantas outras só provam como talento, inspiração e profissionalismo não estão obrigatoriamente associados aos grandes centros.

Um nome que se junta a esse time é a paraense Blind for Giant. Mesmo com quatro anos de estrada, o grupo lança agora com exclusividade no TMDQA! o Plants & Fishes, seu disco de estreia.

O álbum contou com direção musical de Zé Lucas Neves, vocalista da banda Sokera, e a produção é assinada por ele e pelo próprio grupo. O trabalho ainda contou com Kleber Chaar, que fez a engenharia de som.

Atualmente, a Blind for Giant é formada por Allan Souza, na guitarra e vocal, Almir Severo é o baterista e Daniel Frazão, que foi o último a entrar, é o baixista. Tivemos uma ótima conversa com Allan na qual ele nos contou o motivo do nome do álbum, altos e baixos em sua vida, influências, cena musical da região norte, os desafios de uma banda independente, engajamento político e muito mais. Logo abaixo é possível ler essa entrevista na íntegra e ainda ouvir o registro. Plants & Fishes também está disponível para download gratuito através deste link.

TMDQA! – Por que só agora, quatro anos após o início da banda, sai o primeiro disco?
Allan Souza – Foi o momento mais maduro pra podermos lançar um trabalho cheio. Foi a primeira banda 100% autoral de todos os integrantes, então demorou bastante pra que alinhássemos o nosso modo de compor e de tocar e pudéssemos chegar ao resultado desse álbum.

TMDQA – Como surgiu a Blind For Giant? Quais são as influências de vocês?
Allan Souza – A Blind For Giant surgiu após uma epifania minha, depois de uma temporada de grandes festivais que eu tive a oportunidade de ir. Em 2011 eu vi minha maior inspiração ao vivo, os Strokes, no extinto Planeta Terra, então a ideia não saiu mais da minha cabeça. Já em 2012, depois de voltar da 1ª edição do Lolla, eu pude ter certeza que não importava o quão difícil poderia ser aquilo tudo, eu queria tentar também. Aqueles shows catárticos de Cage the Elephant, Gogol Bordello e Foo Fighters me deram ainda mais vontade de apostar todas as fichas nessa ideia que, apesar de muito trabalhosa, é muito gratificante.

Nossas maiores influências, acredito, são Rage Against The Machine e Queens of the Stone Age, mas é sempre tão difícil falar disso né? Por exemplo, a minha maior referência, na verdade, pra tudo que eu componho, é Radiohead, que diretamente não tem nada a ver com o som da Blind… vai entender! Acho que a banda me influencia na destreza e competência que desenvolve o som de forma tão artística, e acaba me inspirando como um todo, em cada etapa de desenvolvimento das ideias. O Daniel se inspira bastante em Kings of Leon, Raconteurs e Radiohead, também (em Radiohead acho que pelos mesmos motivos que os meus). Já o Almir tem um viés mais pesado. Periphery, August Burns Red, Underoath, entre outras. Dentre todas as influências pessoais, temos as que compartilhamos como grupo e acho que acabamos concordando que o nosso som se encontra aí pelo meio, mesmo, entre RATM e QotSA. Isso nunca faz muito sentido pras pessoas quando a gente fala hahahaha, porque dizem que são estilos bem diferentes, e, apesar de ser, acaba sendo o que acreditamos fazer.

 Qual é o conceito do álbum? De onde surgiu o título “Plants & Fishes”?
“Plants & Fishes” é sobre uma crença passada pelas minhas avós. Elas sempre disseram que era bom termos seres vivos em casa, e como ambas partilhavam da paixão por peixes e plantas, nada mais justo que fazer a homenagem. Segundo a crença, a importância de ter os seres vivos era pra filtragem das energias negativas. Quando algo de ruim estivesse pra acontecer com algum morador, o mal passaria antes pelo filtro que, por ser frágil, acabaria morrendo. Esse cd conta histórias de tudo que eu passei de mais tenebroso entre 2012 e 2015, desde problemas com amigos até a minha saída de casa e um período conturbado de depressão e, pra mim, era como se fossem as situações que morreram pelo caminho pra que eu pudesse sobreviver mesmo tendo chegado ao meu limite mais de uma vez. É bem íntimo, bem verdadeiro, e eu espero que as pessoas se identifiquem tanto com o trabalho lírico quanto com o musical.

Como vocês enxergam a cena musical do norte do país atualmente? Como vocês se encaixam nela?
A cena do norte do País é meio frágil, principalmente em Belém, mas temos esperanças pra um futuro próximo aqui na nossa cidade. Desde que a Blind foi criada, várias bandas também surgiram no mesmo embalo, acredito que inspiradas por veteranos como a Aeroplano, Turbo e a Molho Negro, também, que, apesar de ter surgido quase junto a tantas bandas da nova cena, é formada por veteranos como o João e o Augusto, e, com o trabalho impressionante que fizeram em tão pouco tempo, servem de referência até hoje.

Acho que a Blind For Giant se encaixa num grupo emergente composto por Sokera, Blocked Bones, Zeromou e outros tantos nomes. Essas são algumas das muitas bandas que estão trabalhando pesado na produção de material e fazendo o que podem pra mostrar a cara da cena local em âmbito nacional. Esperamos que dê certo pra todo mundo e que o Brasil possa falar de mais nomes vindos da nossa terra,sem lembrar apenas da música nativa da região, porque temos potencial pra todas as formas de expressão e queremos provar isso pro resto do país.

Uma das grandes novidades recentes da música paraense é o projeto Payback – Contos de Violência. Como aconteceu de vocês participaram da empreitada?
Wilson Velasco. Esse é o nome. O cara é um filmmaker amigo nosso que teve um surto de produção quando botou a cabeça pra funcionar e matou 3 clipes em 1 semana de gravação. Foi insano! Juntamos músicas que falavam de mentiras, violência e preconceito, pegando um single de cada banda (Blind, Sokera e Blocked Bones) pra montar um curta dividido em três partes que foi o projeto “Payback”. Uma experiência única. Tanto no trabalho, no cansaço, e na recompensa, também, de ter realizado um trampo tão bacana que agradou tanta gente.

Hoje, quais são os maiores desafios para uma banda independente de uma cena que não seja dos grandes centros? O que vocês fazem para superá-los?
O maior desafio é sobreviver. Quando se está longe dos grandes centros é difícil lidar com todas as etapas de gerência do trabalho. Os shows são escassos, a estrutura é pouca, a grana é pouca e o público agora que tem ganhado um pouco mais de consciência pra apoiar o trampo das autorais. É 100% de esforço pra menos de 10% de retorno, na maioria das vezes, mas ainda bem que a gente gosta do que faz e também temos a cabeça de que não adianta fazer um trabalho amador e esperar que as pessoas consumam, porque é exatamente o que não vai acontecer. Se todas as bandas que ainda vão surgir começarem a ter a mesma consciência das que estão na ativa hoje, acredito que podemos nos tornar cada vez mais relevantes e fazer com que a sobrevida da nossa cena se transforme em vida.

Vocês sentem falta de posicionamento político na classe artística? Como analisa a participação de artistas e bandas em pautas importantes no desenvolvimento social brasileiro?
Ainda bem que não há falta de nenhum posicionamento. Hoje, nossos artistas, dos mais novos até os expoentes, como a banda Strobo, por exemplo, estão sempre se posicionando de forma bastante efetiva. Afinal, pra que subir num palco e ter toda a pretensão de criar uma base de fãs, de admiradores, e não inspirar verdadeiramente as pessoas?
Hoje estamos vivendo um momento muito delicado na política brasileira. O governo ilegítimo de Michel Temer afeta a nossa democracia e coloca em cheque toda a seriedade do Brasil, aqui e no exterior. Após tantas investidas torpes em menos de 1 mês depois do golpe parlamentar, nós, enquanto artistas, devemos nos posicionar e servir de exemplo a favor da nossa jovem democracia, mesmo que não concordemos em todos os aspectos.

Vocês tem mais discos que amigos?
Com certeza! Música é a nossa vida e o nosso principal combustível. Amigos são ótimos, mas conhecer bandas boas e aproveitá-las é melhor ainda.

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