Por Gustavo Schiochet

Na minha humilde e modesta opinião, Youth, lançado em 2013, e Peripheral Vision, de 2015, são dois dos melhores discos de rock lançados nos últimos 10 ou 15 anos. Possíveis exageros à parte, é fato que acho Citizen e Turnover (responsáveis, respectivamente, pelos álbuns citados) bandas incríveis, e não é de hoje que gostaria de vê-las ao vivo. Quando fiquei sabendo que teria essa oportunidade, e de uma vez só, corri para garantir meu ingresso.

O evento aconteceu em Toronto, no Canadá, e para mim teve gostinho de boas-vindas. Faz apenas dois meses que me mudei de Curitiba para cá com minha namorada e esse foi o primeiro show que tivemos o prazer de assistir. Em uma região na qual tantos artistas lendários tocam o tempo todo e tantos festivais gigantes acontecem, confesso que achei legal começar por algo mais underground e pessoal.

Quando chegamos ao Mod Club Theatre, a apresentação da primeira banda havia recém-começado. Milk Teeth, que talvez eu nunca tivesse conhecido se não fosse por essa noite, é uma ótima banda inglesa com vocal feminino e um quê de Sonic Youth, Lush e Nirvana que faria o grupo se encaixar perfeitamente nos anos 80 e 90. Entre tantas boas músicas apresentadas, “Brickwork” é uma que vale muito a ouvida.

Vale ressaltar que, desde a primeira banda, a qualidade do som estava incrível e a casa já estava lotada, coisas igualmente incomuns no Brasil em shows “menores” (temos que ver isso aí, pessoal!).

Em seguida subiu ao palco a americana Sorority Noise, que eu também não conhecia até então e que na hora me pareceu ser uma banda local, tamanha a participação de uma parcela do público, que cantava junto e ia ao delírio música após música. Para mim foi o momento menos memorável da noite, ainda que os caras sejam competentes no que se propõe. O ponto alto foi a música “Using”, que fala sobre a luta do vocalista contra a depressão, e recebeu um discurso de introdução que fez a banda ser ovacionada por todos no local.

Então finalmente foi a vez do Turnover. A banda era o principal motivo de eu e minha namorada estarmos ali e fez valer a expectativa. Com a execução de cada música tão impecável quanto o som da casa e o público cantando junto, até a iluminação parecia colaborar para criar uma aura de “será que eu tô sonhando?”.

O set foi absolutamente dominado por faixas do incrível e já citado Peripheral Vision. Na verdade, tocaram apenas uma música de outro trabalho (“Humblest Pleasures”, lançada no início deste ano), o que claramente deixou desapontados aqueles que mais de uma vez pediram músicas do Magnolia, debut muito mais hardcore dos caras, completamente ignorado no show. Mas, de novo, com uma apresentação focada em um disco tão bom não tinha muito como dar errado.

“Dizzy on the Comedown”, que abriu a apresentação, “Take My Head”, “New Scream”, “Like Slow Disappearing” e “Cutting My Fingers Off”, que fechou, foram alguns destaques de um set praticamente impecável.

Até então eu percebia uma coisa que já ouvira diversas bandas comentando sobre a melhor parte de tocar em qualquer outro lugar na América do Sul. “Que público mais comportadinho”, eu pensava. “Não é à toa que o povo gosta de tocar no Brasil”. Mas aí veio a headliner da noite e eu percebi que, pelo menos no Canadá ou em Toronto, esse papo de público parado é balela.

É interessante como duas bandas que fazem um som tão parecido conseguem fazer shows tão completamente diferentes e, ao mesmo tempo, igualmente ótimos.

O início da apresentação do Citizen praticamente transformou o público, que agora pulava, se empurrava e fazia questão de subir ao palco para mergulhar. “The Summer”, “Figure You Out”, “Cement” e “Numb Yourself” já mostravam que seria um show menos preocupado com a execução impecável, mas que compensaria em peso, energia e feeling. “Visceral” talvez seja a palavra que melhor descreve.

O problema com uma apresentação tão intensa é que chega um momento em que as pessoas ficam cansadas e a queda de energia é visível tanto por parte da banda quanto por parte do público. Isso, somado à forma (proposital, talvez?) como montaram a setlist, fez o miolo do show parecer arrastado. Músicas como “Yellow Love”, apesar de ótimas, falhavam em manter a atenção completa do público. Nada que comprometesse uma grande performance, fechada com chave de ouro pelas ótimas “Speaking With a Ghost”, “The Night I Drove Alone” e o bis “Drawn Out”, que extraíram as últimas energias dos presentes para trazer de volta muito da intensidade do início do show dos caras.

O saldo da noite foi definitivamente positivo, mas curioso. Tão curioso quanto o contraste entre as apresentações das duas bandas principais ou do público, igualmente dividido entre adultos em torno dos seus 30 anos e adolescentes com bem menos de 20. Para mim foi, acima de tudo, um ótimo primeiro show na minha cidade nova.

Citizen em TorontoFoto: Aux TV

Setlist Turnover:

Dizzy on the Comedown
Diazepam
Take My Head
Hello Euphoria
Humblest Pleasures
New Scream
Like Slow Disappearing
Humming
Cutting My Fingers Off

Setlist Citizen:

The Summer
Figure You Out
Cement
Numb Yourself
How Does It Feel?
Stain
Sleep
Roam the Room
Yellow Love
Silo
Speaking With a Ghost
The Night I Drove Alone
Drawn Out

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