Turnover - Humblest Pleasures

Após o lançamento de Peripheral Vision em 2015, o Turnover se viu diante de públicos duas, cinco, dez vezes maiores do que os quais estava acostumado. Os porões e garagens de casas suburbanas deram lugar a clubes e salões metropolitanos, e a banda se tornou um dos carros-chefes da Run For Cover, uma das gravadoras independentes mais bem-sucedidas dos últimos tempos.

Não deixando a peteca cair em 2016, o quarteto embarcou em uma turnê com nomes de calibre similar na cena emo/indie, como o Citizen e o Sorority Noise, e acaba de lançar duas canções inéditas na forma de um EP. Mas dizer que o único propósito de Humblest Pleasures é tentar puxar também para este ano o brilho dos holofotes conquistados pela banda em 2015 seria um desserviço ao talento diferenciado dos quatro músicos, ao menos no que diz respeito à criação de composições que tocam, impecáveis, os mais fundos vazios da alma.

Na faixa-título, o vocalista Austin Getz romantiza um relacionamento passado (“lírio-tigre ou uma flor / você ainda tem seu lugar no jardim”) como mecanismo de defesa contra a realidade, certamente muito mais hostil, dessa relação. E não há como culpá-lo – disfarçar a mágoa com nostalgia é, afinal, um instinto humano que ajuda a preservar o equilíbrio emocional.

É a partir dessa capacidade de humanizar a melancolia que o Turnover desenvolve seu nicho artístico. Em nossa infindável busca por rótulos que descrevam obras multifacetadas com apenas algumas expressões – descobrir por nós mesmos é trabalhoso demais, afinal -, alguns apontam no som da banda uma mistura de indie rock, dream pop, emo e shoegaze. Esses termos fazem a teoria soar complicada e impressionante, mas o que nos é servido na prática são guitarras limpas, vocais reverberados e histórias sobre romances fracassados e insegurança pessoal. Nada de novo nesse quesito.

O diferencial do Turnover não é o técnico. É a vibe, a atmosfera atingida a partir da união dos elementos relativamente genéricos (aqui, lê-se ‘testados e aprovados’) que a banda oferece. “Change Irreversible”, a outra metade do EP, vê guitarras primaveris conduzirem outro derramar de sentimentos negativos (“há uma lente cinza sobre meus olhos / a percepção não estava bem certa / se você fica no escuro por tempo suficiente seus olhos se acostumam”).

Humblest Pleasures pode servir tanto como uma transição entre o som de Peripheral Vision e o que ainda está por vir quanto como uma reafirmação da sensibilidade que a banda possui para falar sobre o que se quer, mas não se consegue, esquecer. Ele não serve, no entanto, para agradar os críticos objetivos e os analistas de fatos. Quem não se surpreendeu com o Turnover de 2015 dificilmente mudará de time em 2016. Para ‘sacar’ o que existe de especial aqui, é preciso ter coisas a serem ditas e ser incomodado por diálogos inacabados. As melhores músicas são, afinal, as que preenchem os vazios mais profundos do coração.

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REVIEW GERAL
Nota
8.5
resenha-turnover-humblest-pleasures-epApós o lançamento de Peripheral Vision em 2015, o Turnover se viu diante de públicos duas, cinco, dez vezes maiores do que os quais estava acostumado. Os porões e garagens de casas suburbanas deram lugar a clubes e salões metropolitanos, e a banda se...