Metallica - Master Of Puppets

Há exatos 30 anos, em 03 de março de 1986, era lançado Master of Puppets, a grande obra-prima do Metallica. Responsável por consolidar o nome da banda entre os maiores nomes da história do rock, Master of Puppets foi um divisor de águas na carreira do quarteto californiano, para o bem e para o mal.

Metallica (1991), o Black Album, vendeu mais e despertou reações muito mais inflamadas dos fãs radicais do grupo, decepcionados com a falta de velocidade e virtuosismo nas (então) novas canções. Load (1996) e Reload (1997) são injustamente avacalhados até hoje pelo mesmo motivo, amplificado pela postura altamente midiática da banda na época. E St. Anger (2003)… Ah, St. Anger. Dia desses pelo menos serviu para provocar boas risadas ao ser comparado nas redes sociais aos tais panelaços que vez ou outra pululam em nossas janelas.

Master of Puppets não provocou a rejeição de nenhum desses discos, mas tornou-se a maldição do Metallica justamente por ser bom demais. Nele, o Metallica soube equilibrar influências, intenções e possibilidades como em nenhum outro trabalho. Temos o universo completo da banda resumido em oito faixas épicas que vão da violência descomunal aos flertes com baladas e violões. E é interessante pensar como Master é espontâneo, apesar de complexo. Em Death Magnetic (2008), por exemplo, o produtor Rick Rubin sugeriu que a banda se imaginasse novamente em 1986, e criasse a sequência perfeita para o disco. Não chegaram nem perto. E isso diz muito sobre a sintonia entre James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Cliff Burton naquele momento.

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Embalados pela elogiada turnê de Ride The Lightning (1985), Hetfield e Ulrich construíram as oito faixas do disco auxiliados pela técnica sem pompa de Hammett e pela criatividade singular de Burton. Na época, o Metallica não era mais pesado que o Slayer, mais cabeça que o Anthrax ou vingativo como o Megadeth, mas tinha uma habilidade ímpar para compor melodias fáceis e riffs inesquecíveis, tudo embalado por temas como a dependência de drogas, a morte ou a insanidade. Era a trilha perfeita para um mundo encoleirado por duas bombas atômicas, e válvula de escape ideal para a angústia adolescente, ingredientes essenciais para explicar o fenômeno Master of Puppets e o sucesso do Metallica até hoje.

Naquela época, o Metallica era um símbolo da contracultura, e boa parte dos jovens que rejeitavam o pop oitentista e o glam metal se relacionavam diretamente com o visual e os sentimentos externados pela banda. O quarteto era despretensiosamente visionário, e apesar de até então não demonstrarem um desejo claro de tornarem-se ídolos, pavimentaram o caminho para isso com os ganchos maravilhosos de Master of Puppets. Cada faixa é um clássico. Os riffs brutais de “Battery” e “Damage Inc.”, a esquisitice de “The Thing That Should Not Be” e “Leper Messiah”, a tensão dramática de “Welcome Home (Sanitarium)” e “Orion”, a subestimada “Disposable Heroes”, e a excepcional faixa-título (\o/) estarão para sempre entre as maiores da história do rock.

Outro fator importante foi a atuação louvável do baixista Cliff Burton. Figura essencial na evolução musical dos primeiros anos do Metallica, Cliff teve em Master of Puppets o seu epitáfio. Morto em um acidente de ônibus durante a turnê europeia de divulgação do disco, Burton não viveu para ver o legado que construiu, mas em vida tirou o baixo das sombras do rock pesado, um mundo dominado por solos de guitarra, bumbos duplos e gritos esfuziantes.

Em vez de simplesmente produzir graves para dar peso à coisa toda, Cliff construía linhas que enriqueciam as ideias de Hetfield e Ulrich, como em “For Whom the Bell Tolls”, de Ride the Lightning, ou “Phantom Lord” em Kill ’em All (1983). Em Master of Puppets, a paixão de Cliff por música erudita revelou um novo horizonte musical para a banda, que se afastou das influências punk do início da carreira em prol de um som mais trabalhado. Isso fica evidente, por exemplo, em “Orion”, talvez a melhor faixa instrumental da história do Metallica, caprichada por uma performance incrível do baixista.

A morte de Cliff o alçou ao status de lenda, a ponto de muitos fãs até hoje usarem a ausência dele para justificar o apelo comercial do Metallica a partir do Black Album – uma fantasia tola, mas compreensível, afinal os arranjos simples do Black Album surgiram como resposta aos exageros técnicos de …And Justice For All (1988), por sua vez uma reação sombria à morte de Burton. Por outro lado, o sucesso do Metallica abriu as portas para gerações inteiras de bandas que mantém o metal até hoje como um dos gêneros musicais mais criativos da produção cultural contemporânea. Ou seja: não fosse a popularidade da banda no início dos anos 1990, talvez não estivéssemos celebrando os 30 anos de Master of Puppets, mas de… Sei lá, Slippery When Wet, do Bon Jovi. Vai saber.

Fato é que Master of Puppets é o disco mais influente do metal nas últimas décadas, fruto das mentes levemente doentias de um quarteto que acabou por definir a estética sonora e visual de uma legião infinita de fãs. Provavelmente jamais teremos outro disco de metal como Master of Puppets, mas felizmente ele está eternizado em LPs, fitas, CDs, MP3s (valeu, Lars!) ou na nuvem mais próxima de você. Celebremos.

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