Garage Fuzz

Foto: Facebook

O Garage Fuzz é um verdadeiro patrimônio do underground nacional.

A banda surgiu no início dos anos 90 e logo caiu nas graças dos fãs de hardcore com uma sonoridade bastante única que soube mesclar os traços do estilo com elementos do rock alternativo e subgêneros como o post-hardcore.

De lá pra cá a banda virou uma das mais respeitadas do país, lançou diversos EPs e discos e continua com as mesmas características, uma legião fiel de fãs e só elogios a cada novo álbum que lança.

Em 2015 o grupo do litoral paulista voltou com um disco cheio na forma de Fast Relief e o TMDQA! conversou com o vocalista Alexandre Cruz a respeito do álbum, a carreira, os fãs e até uma curiosidade sobre sua experiência com streaming.

Leia logo abaixo.

 

TMDQA!: A banda está na ativa há um bom tempo, tem um dos nomes mais consolidados do rock independente brasileiro e lançar discos esporadicamente. Como vocês têm lidado com todas essas mudanças no mercado da música de lá pra cá para gravar discos, agendar shows, distribuir seu som, etc?

Alexandre: Realmente pegamos diversas fases nesse 25 anos de banda, da demotape em cassette até a nova era de streaming. Realmente as coisas foram mudando e tivemos que nos atualizar em vários processos. Atualmente temos condições de lançar um trabalho de forma 100% independente, o que realmente dá muito mais trabalho do que ter um selo fazendo tudo pela banda, mas acreditamos que no estágio em que a banda se encontra nesse momento, seria mais prudente tomar conta dos lançamentos atuais e merchandising, assim como gravar e produzir tudo por conta própria, com poucas pessoas fora da banda interferindo em nosso processo.

Os shows são agendados pelo Fabricio (baixista) que já faz isso desde o começo da banda. Tem o estúdio Playrec que é do Nando Bassetto (guitarrista) e também já fizemos vários lances lá desde o lançamento do disco The Morning Walk. O Wagner organizou a parte de merchandising nos shows e eu cuido das vendas online através da outprint. Então acho que essa situação ajudou o processo atual da logística da banda se manter independente.

 
 

TMDQA!: Quando começou o processo de composição do novo disco do grupo, “Fast Relief”? Que abordagem vocês quiseram tomar para a composição e gravação do álbum?

Alexandre: Nós fizemos várias músicas logo após o final do Morning Walk, mas várias foram sendo utilizadas em outros lançamentos nesse período. O CD bônus do DVD, por exemplo, tem duas dessa fase, o EP Warm And Cold tem mais quatro sons dessa época também e temos um split 7” vinil com o Againe saindo em breve que tem mais uma música desse período. Então acho que as que ficaram para o disco são as que deveriam esta lá mesmo.

As sonoridades variadas desse disco acho que se devem a diversas bandas que escutamos durante esses anos e também acho que tínhamos uma visão mais ampla do que já tínhamos composto no passado, então foi mais fácil ter faixas que lembram épocas como as do Relax In Your Favorite Chair, do Turn The Page… The Season Is Changing ou do Morning Walk, mas com uma leitura atualizada desse conteúdo.

A gravação não teve maiores mistérios, e acho que foi por causa do fato de estarmos gravando lá no PlayRec há alguns anos.

Garage Fuzz - Fast Relief

TMDQA!: Que temáticas vocês pensaram em abordar durante as gravações, tanto nas letras quando no instrumental?

Alexandre: É o primeiro álbum depois da saída do Fernando Zambeli e conta com 3 músicas  compostas na época em que ele ainda estava na banda. O disco já traz as influências do Fernando Bassetto nas composições. Acho que tivemos uma evolução musical bem nítida nessa fase,  e as letras são bem pessoais, mas englobam temas que a banda viveu nesses últimos anos.

Como exemplo, “Kids On Sugar” fala sobre cheirar cocaína até se perder, “Rewind Speech” e “Pay Your Dues” falam sobre abandonar os sonhos e ideais por dinheiro, “Fast Relief” fala sobre como lidar com planos utópicos, sabendo que é necessário seguir esses planos para se sentir vivo. Por outro lado, “On the Wall Corner” e “The Darkside Of…” já tratam de temas como depressão e tristeza causada pelos tempos modernos, “Blockhead” trata de uma visão de que o mundo atual sempre está se moldando a novas ideias e não adianta se fechar e não ter dialogo ou autocrítica.

Algumas outras são mais abstratas e minhas favoritas, como “Earning” e “The Final Crop”.

TMDQA!: Ainda há muita gente que pergunta por que vocês cantam em Inglês? Chegou a passar pela cabeça de vocês um dia compor em Português?

Alexandre: Sim, muita gente pergunta e às vezes isso acontece até mesmo de forma agressiva. E não, nunca pensamos em cantar em português.
O porquê de não cantar em Português ou mudar no meio do caminho acho que vem pelo que temos de influência mesmo, já que desde o começo da nossa jornada ouvimos bandas como Lemonheads, Dinosaur Jr, Samiam, Husker du e tantas outras que ainda nos influenciam de certa forma.

Mesmo que atualmente a gente já tenha chegado ao nosso estilo próprio de som, isso ainda é um guia para a nossa música. Eu não escrevo letras políticas e nem quero pregar regras para ninguém. Também não quero ser um messias do underground, não quero ninguem seguindo minhas ideias pois elas são bem pessoais mesmo, então as letras têm essa abordagem pessoal mais abstrata.

Quando alguém vem com esse papo de letras em Português e que a galera quer entender o que estou cantando fica meio secundário, pois acredito que a melodia e a dinâmica na música atualmente são fatores mais importantes. Eu acho que a vida e as pessoas estão sempre mudando e que coisas que pensávamos há duas décadas talvez já não sejam verdades para nós. Mas deixo claro que temos nossas convicções políticas e pessoais e respeito visões diferentes e não quero fazer disso um campo de batalha na timeline do Facebook.

 

TMDQA!: Muita gente vê o Garage Fuzz como uma banda que tem status de”cult” na cena independente. Os elogios são constantes, os shows sempre lotados e cada novo material é recebido com muitos elogios. Como vocês enxergam isso do lado de lá? Qual é a influência que essa base de fãs consolidada tem para que vocês pensem nos passos da carreira da banda?

Alexandre: Sim, temos noção total do que o público representa para a banda e acho que esse foi o caminho para não mudarmos nosso som ou tentarmos peripécias para que ele se tornasse popular e a base de fãs aumentasse. Curtimos a ideia de que temos um público que respeita a gente e sabe que quando estamos fazendo algo para eles, o respeito é recíproco.

Mas os passos da banda são praticamente os mesmos de 20 anos atrás, somente se adaptando às mudanças de formato de mídia física, formas de divulgação e os shows.

TMDQA!: Como será a turnê de divulgação do novo disco, “Fast Relief”? A ideia é excursionar pelo país?

Alexandre: Sim, inclusive já começamos e fizemos alguns shows legais. Os próximos são dia 18 com Magüerbes e Hurtmold no Hangar 110 em São Paulo e dia 19 em Belo Horizonte com Plastic Fire, Zander, Kill Moves e Rallie. Temos mais datas confirmando para Janeiro, Fevereiro e Março.

TMDQA!: Em que formatos o disco será lançado e estará disponível para os fãs?

Alexandre: Vamos fazer uma versão limitada em cassette de 100 cópias com uma faixa bônus e uma tiragem em vinil para o começo do ano com 500 unidades, também com a faixa bônus. O split em vinil de 7 polegadas com o Againe também já está chegando, bem como a versão em vinil do Comfortable Dimensions EP e o Instant Moments EP, ambos em um vinil de 12 polegadas com tiragem de 500 cópias.

 

TMDQA!: Desde que o Garage Fuzz apareceu na cena até agora, diversos formatos foram surgindo, mudando e se consolidando. Hoje em dia temos uma dupla muito interessante que é o streaming fazendo sucesso no digital e o vinil no físico. Como a banda enxerga isso tanto do ponto de vista comercial quanto de divulgação do som? Você são fãs de vinil?
Alexandre: Na minha carteira de trabalho, o último registro em 1999 foi de “Técnico em Streaming Media”. Trabalhei como terceirizado para o Windows Media Player nos primórdios do serviço de streaming, então não foi muito difícil entender essa transição do CD para MP3 e para streaming.

No início do Spotify, há uns quatro anos, um amigo me mostrava o Spotify dele com uma porrada de coisa nova e o serviço ainda não estava disponível no Brasil. Foi assim que descobri Thee Oh Sees, Ty Segall, Bass Drum Of Death e outras bandas. Eu escuto muito o Spotify para conhecer bandas novas e isso é importante. Curto um som, vou lá e compro o formato físico.

A logística de produzir um vinil já é mais treta. Hoje em dia tem que ter um capital razoável, as poucas fábricas nacionais não dão conta da demanda atual e a importação às vezes não é tão viável, mas estamos felizes com as parcerias que fizemos para os lançamentos da banda em vinil e mais coisa vai continuar saindo.

Somos fãs do vinil, o Fabricio ainda tem os clássicos de punk/hardcore do final dos anos 80 intactos. Eu já vendi as minhas coleções de discos e comprei outros umas oito vezes, mas hoje estou feliz com o que tenho de CD, vinil e cassette. Eu olho e sempre penso que está organizado e com vários títulos fundamentais ali presentes.

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

Alexandre: Sem dúvidas eu tenho mais discos que amigos (risos). Mas os nossos amigos também são muitos e moram em nosso coração!

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