Resenha: Muse - Drones

O sétimo álbum de estúdio do Muse foi lançado no início do mês de Junho sob um conceito bastante congruente ao cenário político e social atual. A proposta de Drones é “acompanhar a jornada de um ser humano após perder a esperança até aceitar a doutrinação do sistema como um drone humano, até a eventual deserção contra seus opressores”, como explicou no twitter a um fã o vocalista do trio, Mathew Bellamy.

O disco traz críticas à maneira com que o mundo tem se adaptado às “guerras modernas”, onde líderes exterminam inocentes (ou não) apertando botões. Drones, para quem ainda não sabe, são aeronaves não tripuladas comandadas por controles remotos, muito utilizados em ataques como bombas ou para espionagem.

Produzido por Robert John “Mutt” Lange, o álbum surge após dois discos experimentais na carreira da banda. O último, The 2nd Law (2012), onde a banda se utilizou da música eletrônica, mais especificamente o dubstep, não foi muito bem aceito pela crítica. Já The Resistance (2009), foi melhor aceito e trouxe boas músicas sob experimentos com orquestras de música erudita.

Bellamy disse recentemente que a banda queria se afastar desses dois últimos trabalhos por sentirem que “seria bom se reconectar e nos lembrar do básico sobre quem somos”. A frase faz referência aos discos iniciais do Muse, onde o power trio explorava com maestria seus instrumentos fazendo um gênero único de rock, com um quê de rock progressivo numa mescla moderna de rock alternativo dos anos 1990. E é bem isso que ouvimos em Drones, uma retomada ao passado, porém, sem se desconectar do presente e do futuro.

O disco abre com o single “Dead Inside”, onde o protagonista “morto por dentro” ao perder a esperança fica vulnerável. Na sequência são ouvidos 21 segundos de gritos de ordem em “Drill Sargeant”, com o protagonista respondendo “Sim, senhor”. O trecho emenda em “Psycho”, que norteia a história do disco antes da deserção, quando o personagem vai se revoltando contra seu opressor.

“Mercy” traz Bellamy e suas vocalizações agudas como grande destaque. “O mundo apenas se rejeita”, entoa, ao clamar: “Mostre misericórdia”. A canção traz uma combinação de alto nível das guitarras do vocalista à bateria de Dominic Howard e ao baixo de Christopher Wolstenholme. Em “Reapers” fica evidente a semelhança da sonoridade a álbuns como Origin Of Symmetry (2001) e Absolution (2003), por exemplo. “Você mata por controle remoto e o mundo está ao seu lado”, canta, antes de um poderoso riff estridente de guitarras que vai se entrelaçando ao baixo e cada vez mais se intensificando com as batidas de Howard. São seis minutos de uma música perfeita para shows.

“Não vou deixar você controlar meus sentimentos nunca mais” é um trecho de “The Handle”, que segue o ritmo da anterior e já dá indícios da virada de jogo do protagonista, que começa a se rebelar contra seu opressor. O “lado b” abre com “[JFK]”, um discurso “para nos opormos ao redor do mundo”, de 55 segundos com pequenos inícios de guitarras e orquestração. Na sequência vem “Defector”, em pregação à liberdade do “desertor”, que termina em clima de manifestação.

Em “Revolt” escutam-se barulhos de viaturas nos refrãos ao dizer mensagens de empoderamento como “Você não tem medo, você não é um robô (…) Você pode se revoltar”. A balada “Aftermath” vem em contraponto à explosão do disco para unir e dizer que nunca se está sozinho. Matt mostra sua potência vocal e prova que nem só de gritos vive uma banda de rock. A música vai subindo o tom até alcançar uma unidade.

Em “The Globalist”, a banda faz uma ópera rock de dez minutos, com instrumentos de orquestra, coros e pianos. Na letra, o grupo critica o falso amparo de igrejas e do Estado aos cidadãos, num convite à libertação da mente de amarras impostas por qualquer instrumento que possa ser utilizado para fins repressivos. O disco ganhou um bônus da música totalmente orquestrada.

O trabalho é encerrado com a faixa-título, que prolonga a calmaria das antecessoras. Dessa vez, a orquestração da voz de Matt lembra o canto gregoriano, com ecos e um clima fúnebre. A música explica o motivo do protagonista ter “morrido por dentro”. Sua família toda foi morta por drones. Ele, automaticamente passa a ser um e agora pode matar também. “Amém” é a palavra que põe fim à audição.

Em tempos em que a música é consumida de forma descartável, onde playlists dominam e oprimem vulgarmente os conceitos musicais, o Muse se arrisca mais uma vez ao trazer um disco que tem como principal intuito contar uma história. Do interesse em se colocar como uma expressão dos nossos tempos, a história de Drones pode ser entendida sob diversos aspectos, sob as diversas maneiras que podem fazer “morrer por dentro”.

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