Deafheaven - New Bermuda

Ao fim de “Gifts of the Earth”, a última faixa do novo álbum do Deafheaven, New Bermuda, a sequência de acordes é etérea, leve, emocional. Um desavisado poderia confundi-la com uma versão acústica de “Champagne Supernova”, do Oasis. A coda com piano repete melodias tão simplórias que é até difícil listar as canções que as utilizaram, tamanha previsibilidade – seriam trilha ideal para o casamento no fim da novela, para o reencontro do casal apaixonado, para a mãe que abraça o filho recém-nascido.

No outro oposto, no primeiro minuto do disco e de “Brought to the Water”, sinos antecipam uma blitzkrieg de guitarras dissonantes por cima de baterias catastróficas que beiram os 200 b.p.m., a deixa para berros esganiçados que questionam a passividade do homem contemporâneo.

Universos distintos sim, mas complementares em New Bermuda. No caminho para o terceiro álbum da carreira, o Deafheaven corria o risco de tornar-se uma cópia de si após popularizar nos Estados Unidos o chamado blackgaze, mistura de elementos de black metal, shoegaze e pós-rock desenhada na Europa no começo do século. Se em Roads to Judah (2011), a banda alternava momentos de agressão gratuita com linhas esfumaçadas de guitarra cabíveis em um disco qualquer do Explosions in the Sky, em Sunbather (2013) o grupo derrubou as fronteiras entre essas duas facetas e, obviamente inspirados pelo My Bloody Valentine de Kevin Shields, desenvolveu uma linguagem própria capaz de aliar essas frentes em uma só.

Sunbather deu visibilidade a uma cena até então obscura, provocou a ira de headbangers puristas, e entre aplausos e vaias tornou-se um dos discos mais comentados da última década. É e dificilmente deixará de ser a obra-prima do quinteto californiano, e repetir a fórmula dele não seria difícil. Mas depois de uma longa turnê mundial, o grupo pareceu achar uma nova sintonia interior, um novo espaço para evolução.

O novo trabalho é mais pesado, tenso e melhor articulado que o antecessor, e justifica a posição do Deafheaven na linha de frente dessa nova cena. Gravado em fita na Califórnia em abril deste ano, o álbum é potente, mas nem por isso inventivo e intrigante como Sunbather. Em New Bermuda, o novo surge apoiado em referências ao passado, especificamente a elementos do black metal e do pós-rock tradicionais: o riff de introdução de “Luna”, o interlúdio angelical da excelente “Come Back” e o solo de wah-wah de “Baby Blue” são exemplos de clichês carismáticos que, sem o elemento surpresa, perdem força pelo ode às referências, mascaradas por um constante sentimento de dèja vü ao longo do disco.

New Bermuda não tem o impacto de Sunbather justamente porque o sucede, mas é um retrato fiel de uma banda que chegou além das próprias expectativas rápido demais. Se o objetivo era justificar o hype em torno de si, foi alcançado com maestria. Mas para provar a própria capacidade de sobrevivência a uma tendência passageira – problema frequente na era dominada pela histeria e volatilidade das redes sociais – será preciso passos mais largos no futuro.

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