Soundgarden

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Nesta semana, a coluna Faixa Um se dedica a algumas das principais atrações do Lollapalooza Brasil, que ocorre em São Paulo, no próximo fim de semana. A primeira banda da série foi o Arcade Fire.

A história da música tem inúmeras injustiças. Uma das maiores, consolidada nas últimas duas décadas, é o tal do “grunge” como fomos acostumados a repetir exaustivamente, liderado pelo big four Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains e Soundgarden, com Mudhoney na segunda divisão. Não foi bem assim. Todos os artistas citados têm méritos de sobra,  mas se formos puristas com o que realmente ocorreu no noroeste norte-americano, a história é bem diferente. A “cena de Seattle” começou anos antes, e com outros pioneiros e protagonistas.

Antes de Kurt Cobain, o grunge teve um outro mártir: Andrew Wood, líder e vocalista do Mother Love Bone, morto por overdose de heroína em 1990. E em meados dos anos 1980, antes da explosão do Nirvana, Seattle foi infestada por grupos como Melvins, Skin Yard, The U-Men, Green River e Malfunkshun, responsáveis por despertar o interesse de fãs, selos, jornalistas e executivos da indústria fonográfica pela cidade. Entre eles, estava presente o único representante do grande quarteto a viver a pré-história do grunge: o Soundgarden.

Mais próximos do metal que do punk, mesmo influenciado por ele, o Soundgarden tem como especialidade uma espécie de blues macabro influenciado primordialmente por Black Sabbath e Led Zeppelin, envolvido nos agudos impressionantes de Chris Cornell, nas afinações baixas e experimentais de Cornell e Kim Thayil, na bateria firme e matemática de Matt Cameron e, desde Badmotorfinger (1991) com a solidez do baixista Ben Shepherd, também um excelente compositor e arranjador.

Talvez tenha sido a entrada de Shepherd, a maturidade da experiência, ou os dois juntos. Mas a partir de Badmotorfinger o Soundgarden se transformou: a banda ficou mais criativa, e conseguiu a façanha de se tornar mais acessível enquanto abriu mais o leque de influências e flertou com novos timbres e estruturas. O sucesso global só veio com Superunknown (1994), embalado pela balada fúnebre “Black Hole Sun” e, abalado pelo suicídio de Cobain, durou pouco demais para gerar o respeito devido ao grupo, que se aposentou em 1997 para voltar à ativa somente em 2011.

Badmotorfinger saiu duas semanas após Nevermind, e pouco mais de um mês após Ten. Com a recepção calorosa dos dois, o terceiro álbum do Soundgarden acabou ofuscado. Digerido pelo tempo, Badmotorfinger cresce, e hoje é a ponte perfeita entre o Soundgarden despretensioso do início e a banda grandiosa de depois. Essencial para entender a pré-história musical do grunge, o álbum começa com “Rusty Cage”, música dividida entre a primeira parte rápida e um final arrastado e denso, com combinações improváveis de compassos ímpares. Um soco na fuça, enfim.

O tema das letras de Cornell, sobre uma raiva represada a ponto de se livrar de qualquer amarra, é relacionável a ponto de “Rusty Cage” ter se tornado presença certa nos shows da banda desde o lançamento e ter ganhado uma versão de Johnny Cash em Unchained (1996), segundo álbum da série produzida por Rick Rubin que revitalizou a carreira de Cash nos últimos anos de vida dele. E se o próprio Man In Black abençoou “Rusty Cage”, quem somos nós para discordar?

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