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Resenha: Os Mutantes no II Festival Amazonas Rock

Leia a entrevista e saiba como foi o show da banda no encerramento do evento, no último domingo (6).

Os Mutantes no II Festival Amazonas Rock

Os Mutantes no II Festival Amazonas Rock
Os Mutantes, Foto por Rogger Diego

Uma apresentação dos Mutantes é sempre um acontecimento. É a hora aguardada com extrema ansiedade e incredulidade em que o mítico se torna real e minimamente palpável. E não foi diferente com o show de encerramento do II Festival Amazonas Rock. Era possível perceber nos rostos das pessoas do público que ninguém acreditava direito que estava vendo o grande mestre Sérgio Dias em ação.

Antes do concerto no evento, o músico conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! e falou sobre Fool Metal Jack, novo álbum da banda, a situação política norte-americana e vinil, claro.

TMDQA!: Quais são as diferenças entre a fase atual da banda e as anteriores? Usando como comparativo A Divina Comédia, qual a relação dele com Fool Metal Jack?

Sérgio Dias: A Divina Comédia é um disco estupendo, um disco que tem a sua maior parte gravada ao vivo, assim como o Fool Metal Jack. 90% do que você escuta lá é primeiro take. Por exemplo, “Valse LSD” eu estou cantando e compondo a música ao mesmo tempo. Todos os solos, tudo isso é primeiro take, não tem maquiagem.

TMDQA!: Quais foram suas inspirações e como se deu o processo de produção de Fool Metal Jack?

Sérgio Dias: O que me inspirou, em termos de letra, foi o que eu estava vivendo, como sempre foi. Ver a devastação que estava acontecendo em volta de mim nos Estados Unidos, os caras caindo igual uma mosca, perdendo casa, perdendo carro, perdendo o emprego. The dream is gone, né?! O Fool Metal Jack é muito denso nas letras.

TMDQA!: Então, é um disco político?

Sérgio Dias: Social e político, com certeza. Tem, por exemplo, a “Ganja Man”, que diz que Thomas Jefferson vai voltar da tumba pra ver o que tá rolando, que Kennedy vai voltar da tumba também. Imagina esses caras vivendo hoje, como é que iriam estar?! Imagina o Kennedy tendo que assinar o Patriot Act de novo. Quando o Obama fez isso, ele se enterrou! Como que aquele cara pode assinar de novo um Ato Institucional N° 5, ou uma coisa do gênero.

TMDQA!: Como você se sente em apresentar isso para os mais jovens?

Sérgio Dias: Os caras estavam apavorados porque temiam que a gente fosse muito rejeitado, mas eu disse: “me desculpe, mas é isso que eu vejo”. Eu tenho direito de fazer isso já que pelo menos um terço da minha vida foi passada lá. Eu tenho esse direito, essa cidadania, e sou cidadão da Terra também. É o meu trabalho fazer isso, é para isso que eu existo. Se eu não falar o que eu penso, o que eu sinto, então o que eu faço? Não dá.

TMDQA!: O Fool Metal Jack vai ser lançado em vinil?

Sérgio Dias: Ele disse (aponta para o seu produtor) que vai sair em CD e em vinil em dezembro.

TMDQA!: Você é um entusiasta do vinil? O que acha dessa volta?

Sérgio Dias: Ah, com certeza. Eu sou entusiasta de tudo que é melhor e um bom vinil é estupendo. A gente não pode discorrer aqui todas as razões pelas quais digital é pior, mas é pior matematicamente, não grava um monte de coisa. Isso é fato. Não existe mais o comércio de disco e todo mundo escuta mp3, o que pra mim é inadmissível. É muito prático, mas não é tão legal. Espero que façam logo algum formato melhor.

O Show

A Praça da Vitória, na cidade de Presidente Figueiredo, estava lotada e tudo convergia para aquele momento, que mesmo antes de acontecer já parecia especial. Quando Sérgio Dias, um dos maiores bastiões da música brasileira, e cia. entraram no palco e já emendaram a trinca de “Tecnicolor”, “Bat Macumba” e “Jardim Elétrico” não deu pra conter a emoção e empolgação de presenciar aquele espetáculo musical.

Em seguida, foi a vez de “Minha Menina” fazer o público todo dançar e deixar Dias sorrindo de satisfação. Logo após isso, chegou a hora de apresentar “The Dream Is Gone”, “Time and Space” e “Picadilly Willie”, três canções inéditas presentes em Fool Metal Jack. Essa foi a oportunidade da plateia prestar atenção e tentar entender a nova empreitada dos Mutantes e o que ainda está por vir.

A banda aproveitou “El Justiciero” para falar sobre a situação política no Brasil e pedir ajuda à Presidenta Dilma Rousseff. A essa altura, Sérgio estava animadíssimo com a resposta que o público dava e falou: “Besame mucho, Figueiredo!”. Esse era o sentimento geral.

Todos os seus maiores sucessos foram tocados: “Top Top”, “Balada do Louco” e “Ando Meio Desligado”. Para finalizar, eles não poderiam escolher outra senão o clássico “Panis et Circencis”, fazendo acontecer uma espécie de catarse coletiva. Sob aplausos insistentes, Os Mutantes terminou sua apresentação e foi embora. Era notável que todos estavam satisfeitos com o show e certamente o guardarão durante muito tempo na memória e no coração.

E assim terminou o II Festival Amazonas Rock, evento com produção primorosa feita por pessoas com muito talento e disposição. Nós do TMDQA! ficamos imensamente gratos e orgulhosos por participar de uma iniciativa tão legal e oportuna. E que venham outras! O rock não pode parar.