Os Mutantes no II Festival Amazonas Rock

Os Mutantes no II Festival Amazonas Rock
Os Mutantes, Foto por Rogger Diego

Uma apresentação dos Mutantes é sempre um acontecimento. É a hora aguardada com extrema ansiedade e incredulidade em que o mítico se torna real e minimamente palpável. E não foi diferente com o show de encerramento do II Festival Amazonas Rock. Era possível perceber nos rostos das pessoas do público que ninguém acreditava direito que estava vendo o grande mestre Sérgio Dias em ação.

Antes do concerto no evento, o músico conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! e falou sobre Fool Metal Jack, novo álbum da banda, a situação política norte-americana e vinil, claro.

TMDQA!: Quais são as diferenças entre a fase atual da banda e as anteriores? Usando como comparativo A Divina Comédia, qual a relação dele com Fool Metal Jack?

Sérgio Dias: A Divina Comédia é um disco estupendo, um disco que tem a sua maior parte gravada ao vivo, assim como o Fool Metal Jack. 90% do que você escuta lá é primeiro take. Por exemplo, “Valse LSD” eu estou cantando e compondo a música ao mesmo tempo. Todos os solos, tudo isso é primeiro take, não tem maquiagem.

TMDQA!: Quais foram suas inspirações e como se deu o processo de produção de Fool Metal Jack?

Sérgio Dias: O que me inspirou, em termos de letra, foi o que eu estava vivendo, como sempre foi. Ver a devastação que estava acontecendo em volta de mim nos Estados Unidos, os caras caindo igual uma mosca, perdendo casa, perdendo carro, perdendo o emprego. The dream is gone, né?! O Fool Metal Jack é muito denso nas letras.

TMDQA!: Então, é um disco político?

Sérgio Dias: Social e político, com certeza. Tem, por exemplo, a “Ganja Man”, que diz que Thomas Jefferson vai voltar da tumba pra ver o que tá rolando, que Kennedy vai voltar da tumba também. Imagina esses caras vivendo hoje, como é que iriam estar?! Imagina o Kennedy tendo que assinar o Patriot Act de novo. Quando o Obama fez isso, ele se enterrou! Como que aquele cara pode assinar de novo um Ato Institucional N° 5, ou uma coisa do gênero.

TMDQA!: Como você se sente em apresentar isso para os mais jovens?

Sérgio Dias: Os caras estavam apavorados porque temiam que a gente fosse muito rejeitado, mas eu disse: “me desculpe, mas é isso que eu vejo”. Eu tenho direito de fazer isso já que pelo menos um terço da minha vida foi passada lá. Eu tenho esse direito, essa cidadania, e sou cidadão da Terra também. É o meu trabalho fazer isso, é para isso que eu existo. Se eu não falar o que eu penso, o que eu sinto, então o que eu faço? Não dá.

TMDQA!: O Fool Metal Jack vai ser lançado em vinil?

Sérgio Dias: Ele disse (aponta para o seu produtor) que vai sair em CD e em vinil em dezembro.

TMDQA!: Você é um entusiasta do vinil? O que acha dessa volta?

Sérgio Dias: Ah, com certeza. Eu sou entusiasta de tudo que é melhor e um bom vinil é estupendo. A gente não pode discorrer aqui todas as razões pelas quais digital é pior, mas é pior matematicamente, não grava um monte de coisa. Isso é fato. Não existe mais o comércio de disco e todo mundo escuta mp3, o que pra mim é inadmissível. É muito prático, mas não é tão legal. Espero que façam logo algum formato melhor.

O Show

A Praça da Vitória, na cidade de Presidente Figueiredo, estava lotada e tudo convergia para aquele momento, que mesmo antes de acontecer já parecia especial. Quando Sérgio Dias, um dos maiores bastiões da música brasileira, e cia. entraram no palco e já emendaram a trinca de “Tecnicolor”, “Bat Macumba” e “Jardim Elétrico” não deu pra conter a emoção e empolgação de presenciar aquele espetáculo musical.

Em seguida, foi a vez de “Minha Menina” fazer o público todo dançar e deixar Dias sorrindo de satisfação. Logo após isso, chegou a hora de apresentar “The Dream Is Gone”, “Time and Space” e “Picadilly Willie”, três canções inéditas presentes em Fool Metal Jack. Essa foi a oportunidade da plateia prestar atenção e tentar entender a nova empreitada dos Mutantes e o que ainda está por vir.

A banda aproveitou “El Justiciero” para falar sobre a situação política no Brasil e pedir ajuda à Presidenta Dilma Rousseff. A essa altura, Sérgio estava animadíssimo com a resposta que o público dava e falou: “Besame mucho, Figueiredo!”. Esse era o sentimento geral.

Todos os seus maiores sucessos foram tocados: “Top Top”, “Balada do Louco” e “Ando Meio Desligado”. Para finalizar, eles não poderiam escolher outra senão o clássico “Panis et Circencis”, fazendo acontecer uma espécie de catarse coletiva. Sob aplausos insistentes, Os Mutantes terminou sua apresentação e foi embora. Era notável que todos estavam satisfeitos com o show e certamente o guardarão durante muito tempo na memória e no coração.

E assim terminou o II Festival Amazonas Rock, evento com produção primorosa feita por pessoas com muito talento e disposição. Nós do TMDQA! ficamos imensamente gratos e orgulhosos por participar de uma iniciativa tão legal e oportuna. E que venham outras! O rock não pode parar.

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