Queens of the Stone Age - ...Like Clockwork

Queens of the Stone Age - ...Like Clockwork

Em 2010, após uma sequência avassaladora de trabalhos que incluiu a composição, gravação e divulgação do álbum de estreia do supergrupo Them Crooked Vultures, a produção de Humbug, o terceiro álbum do Arctic Monkeys, e toda a turnê de divulgação de Era Vulgaris (2007), Josh Homme finalmente parou. O líder do Queens of the Stone Age precisava fazer uma operação no joelho, e aproveitou o raro momento de calmaria para resolver o problema ortopédico. Mas o que Homme não sabia é que ele nunca mais seria o mesmo após a cirurgia.

“Eu morri na mesa de cirurgia”, contou a mente criativa do QotSA à NME em janeiro de 2011. “Eu passei por uma operação, morri e ressuscitei. Passei três meses internado para me recuperar”. Meses depois, a experiência de quase morte de Homme serviria como inspiração maior para …Like Clockwork, o sexto álbum do Queens of the Stone Age, que caiu na rede cerca de 20 dias antes do lançamento, na quarta-feira (15).

Desde que Lullabies To Paralyze (2005) sucedeu o blockbuster Songs For The Deaf (2002), um álbum do QotSA não era tão aguardado. Coincidentemente ou não, …Like Clockwork é claramente o álbum mais confessional assinado por Homme desde Lullabies. Temas como a morte, sexo e as drogas sempre foram abordados pelo guitarrista de forma satírica, quase provocativa, mas desta vez os questionamentos de Homme são sérios, palpáveis.

Como um bom e velho LP, …Like Clockwork tem dois lados bem distintos que, analisados sob a ótica da quase-morte de Homme, nos dão uma nova perspectiva do álbum. As primeira cinco faixas parecem mostrar um eu-lírico em choque, com faixas soturnas e melancólicas mesmo quando potentes, como é o caso da faixa de abertura do álbum, “Keep Your Eyes Peeled”. Sobre guitarras em afinações baixíssimas e um groove seco de bateria característico do grupo, Homme parece suplicar: “If life is but a dream, wake me up”.

O desprezo pela vida continua em “I Sat By The Ocean”, a dançante e grudenta segunda faixa de …Like Clockwork. Com a batida reta de Joey Castillo – ex-baterista do QotSA, que abandonou o grupo durante as gravações do álbum – e um riff hipnótico de slide guitar, é a faixa mais acessível do álbum, mas as letras voltam a puxar o clima para baixo, com versos como “There ain’t no use in crying / It doesn’t change anything / So what good does it do? / Your friends, they all sympathize / Maybe, I don’t need them too”.

Homme cede de vez à melancolia em “The Vampyre Of Time and Memory”, uma balada que mistura pianos e sintetizadores antes de se transformar em mais um épico roqueiro, e que abre caminho para a agoniante “If I Had a Tail”. Apesar de ser uma canção simples de rock, “If I Had a Tail” aposta em timbres inusitados e guitarras simplesmente enormes – de verdade – para se transformar em uma das faixas mais marcantes do disco. Se isso tudo não bastasse, a faixa ainda tem os backing vocals de Nick Oliveri, ex-baixista da banda, Alex Turner (Arctic Monkeys) e Brody Dalle (Spinerette, ex-The Distillers), esposa de Homme. “My God Is The Sun”, o primeiro single do disco, encerra a primeira metade do álbum com a maestria de um novo clássico da discografia do QotSA, e a bateria urgente de ninguém menos que Dave Grohl (Foo Fighters, Nirvana e cerca de outros 458 projetos musicais).

Eis que nos encontramos no lado B de …Like Clockwork, onde o eu-lírico-quase-morto parece ressuscitar – literalmente. “Kalopsia”, uma das faixas reveladas na série de teasers ilustrados pelo artista plástico Boneface, começa com uma respiração lenta e breves batidas do que parece ser um coração. Os versos lentos têm uma das linhas de voz mais bonitas já cantadas por Homme, mas são apenas pequenos aperitivos para o refrão pungente e explosivo.

As lamentações vão embora de vez em “Fairweather Friends”, que reúne um verdadeiro dream-team do rock mundial. Além de Grohl e Oliveri, dão as caras Trent Reznor (Nine Inch Nails, How To Destroy Angels), Mark Lanegan (ex-Screaming Trees) e… Elton John. Sim, Sir Elton finalmente dá as caras, e contribui muito para transformar o que seria mais uma canção simples de rock em um single em potencial, com linhas de piano que, mesmo por baixo de uma parede de guitarras, embelezam a sexta faixa de …Like Clockwork. Em seguida, “Smooth Sailing” ecoa Era Vulgaris ao arrebatar o título de faixa mais dançante do disco.

“I Appear Missing”, a penúltima do álbum, traz de volta a sofreguidão de Homme, cujo eu-lírico parece andar sem direção com “um buraco em forma de coração” na imagem refletida de si mesmo. Com um solo de Grohl no interlúdio, é uma das faixas mais densas e difíceis do álbum, mas ao mesmo tempo é a que melhor o representa em 6 minutos intensos. O final apoteótico seria um grande encerramento para …Like Clockwork, mas depois dos 40 minutos anteriores, depois de morrer e ressurgir das cinzas, onde estará Josh Homme? “Holding on for too long is just a fear of letting go”, aceita o vocalista na derradeira faixa-título do álbum, outra balada triste de piano que se transforma em monstro no final.

…Like Clockwork supera o fato de ser a estreia do baixista Michael “Mikey Shoes” Shurman em um álbum completo do QotSA – além da presença valiosa do guitarrista Troy Van Leeuwen e do multi-instrumentista Dean Fertita, outro estreante – e se revela um disco entrosado, com uma proposta clara mesmo com uma quantidade obscena de participações (muitas nem listadas aqui, como a de Jake Shears, do Scissor Sisters, ou a do baterista Jon Theodore). É uma obra-prima, um álbum que vai mudar o panorama do rock nas próximas décadas? Provavelmente não, e de qualquer forma é cedo para dizer. Mas é um retrato honesto de uma das melhores bandas do planeta na atualidade, e certamente um passo à frente na consistente discografia do quinteto.

Nota: 8

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