Paramore

Cerca de dez dias antes de chegar às lojas do mundo inteiro, caiu na rede o quarto álbum do Paramore, agora disponível até em streaming no site oficial do grupo. Não é exagero dizer que o trabalho homônimo é o mais aguardado da carreira da banda, afinal é o primeiro álbum desde o sucesso de Brand New Eyes, em 2009, e o primeiro sem os irmãos Josh e Zac Farro, que abandonaram a banda após a turnê de divulgação de Brand New Eyes.

A saída dos Farro virou um escândalo público risível, onde os integrantes remanescentes (o guitarrista Taylor York, o baixista Jeremy Davis e claro, a vocalista Hayley Williams) expunham as razões do colapso e infantilmente respondiam às acusações dos irmãos. A mais notória delas foi a de que o Paramore seria na verdade um grupo de fachada: o contrato da banda com o selo Fueled By Ramen, da Atlantic Records, seria assinado somente por Hayley.

A cantora evetualmente admitiu ser a única contratada, mas negou que o Paramore fosse apenas sua banda de apoio. Segundo ela, foi apenas a melhor forma que encontraram para manter a banda em uma grande gravadora. De lá para cá, os esforços da vocalista se voltaram quase exclusivamente para corroborar esse argumento: até o nome do álbum, que tem os três remanescentes na capa, leva apenas o nome do grupo.

A ironia é que, sem o constrangimento de ter que disputar espaço com Josh Farro, Hayley se tornou definitivamente a estrela central do Paramore. Em Paramore – o álbum – Hayley mostra uma evolução técnica impressionante, o que leva a banda a explorar influências até então inéditas no som do grupo com resultados que, mesmo irregulares, valem a pena pelo risco assumido. Mais livre como único guitarrista, Taylor York também cresceu, e assume o posto de principal compositor do trio ao lado de Hayley.

Com mais de uma hora de duração, Paramore é um disco longo, e foi dividido em quatro partes por três interlúdios, como em um LP duplo. As primeiras duas partes reúnem canções mais pop, acessíveis e diretas, enquanto as outras duas, apesar de algumas faixas tão objetivas quanto as anteriores, carregam as músicas que melhor representam essa nova fase do Paramore, levemente mais experimentais.

No novo álbum, a banda parece ter tentado se reinventar para encontrar uma nova identidade, e acabou esbarrando em várias. Os interlúdios soam como versões acústicas de singles do Best Coast, e a influência de No Doubt é óbvia e bem trabalhada em faixas como as grudentas “Grow Up” e “Still Into You”. O Paramore “antigo” mostra pouco fôlego nas enfadonhas “Be Alone”, “Proof” e “Anklebiters” enquanto baladas emocionais como “Last Hope” e “Future” (com um final épico à la Mogwai e outros grandes do post-rock) surpreendem positivamente com arranjos mais ousados que de costume.

Mas o Paramore – ou Hayley, ou os dois juntos – mostram muito mais força quando arriscam sério. “Hate To See Your Heart Break”, por exemplo, lembra uma versão repaginada do Fleetwood Mac, e “Ain’t It Fun” tem uma levada neo-soul contagiante, com auxílio de um coral gospel no final; parece ridículo, mas é uma das melhores músicas de toda a carreira da banda. Em “Part II”, uma releitura a princípio desnecessária de “Let The Flames Begin”, de Riot! (2007), a banda resgata o curto e glorioso passado sem se repetir, e conta com uma performance excepcional do baterista Ilan Rubin (Angels & Airwaves), responsável pelas baterias do disco.

Se a intenção de Paramore era definir o grupo que dá nome ao álbum, a banda ainda precisa de mais tempo, experiência e ousadia para deixar o passado para trás e encontrar novos pontos fortes. Mas a disposição de experimentar novos rumos – em um momento em que seria mais fácil reprisar os sucessos anteriores – é louvável, e abre portas para um futuro promissor a Hayley Williams e seja lá quem a estiver acompanhando daqui para frente.

Nota: 7/10

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