Richie Ramone

Richie Ramone foi um dos músicos que passaram pelo Ramones e tem a honra de carregar o “sobrenome” dado aos que empunharam algum dos instrumentos de um dos grupos mais importantes da história.

No caso de Richie, ele empunhou as baquetas da banda nos álbuns Too Tough To Die, Halfway To Sanity e Animal Boy, mas destacou-se não apenas por isso, e sim por ter sido o único baterista da banda a compor sozinho sons do grupo, como as importantes “Somebody Put Something In My Drink” e “I’m Not Jesus”.

Conversamos com o cara sobre suas experiências nos Ramones, carreira solo, punk rock e mais.

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Entrevista por Gustavo Dias Cruzeiro

Richie Ramone

TMDQA!: Considerando que os Ramones chegaram ao pico de popularidade durante os anos na atividade depois que você saiu da banda, sabendo da importância de discos como Halfway To Sanity e Adiós Amigos!, ouvir falar dos shows enormes em estádios na América do Sul, você se arrepende de ter deixado o grupo?
Richie Ramone: Eu acho que a banda chegou ao auge durante a minha era. Depois de “Halfway To Sanity”, a Sire mandou a banda embora e um ano depois Dee Dee saiu. “Too Tough To Die” foi um álbum que trouxe de volta o som agressivo e cru do qual o Ramones tinha se afastado há um tempo.

TMDQA!: Johnny Ramone disse uma vez, “eu acho que as pessoas gostam mais de você quando você morre”, se referindo ao fato de que os Ramones chegaram ao auge de seu reconhecimento e popularidade depois de ter parado. Falando sobre o peso que se carrega ao ter o “sobrenome” Ramone, você tinha ideia de como a banda ficaria tão grande quando estava na banda?
Richie Ramone: O Ramones era uma banda grande quando entrei em 1983 e sim, é esquisito como eles ficaram tão grandes após a morte de três membros originais. Essa banda foi icônica com um poder impressionante que continua atravessando gerações.

TMDQA!: Em 1987 os Ramones vieram para a América do Sul pela primeira vez com você na bateria. Quais são suas lembranças dessa turnê?
Richie: Os fãs eram muito intensos e a comida maravilhosa. A América do Sul nos trata como realeza. Me parece um bom lugar para me aposentar, huh?

TMDQA!: Você já disse em várias entrevistas que era próximo a Joey. Como era seu relacionamento com ele?
Richie: Joey e eu saímos todas as noites durante cinco anos no east village em Nova York passando o tempo em nossa bar favorito, Paul’s Lounge. Joey foi uma grande inspiração para mim em vários sentidos e eu sinto muita falta dele.

TMDQA!: Há alguma história interessante/engraçada que tenha acontecido durante seu tempo com os Ramones?
Richie: Para mim, a coisa mais interessante é como essa banda detonava toda vez que tocávamos. Não importa o que estivesse acontecendo entre nós pessoalmente, ou como estávamos nos sentindo no dia, nós sempre demos aos fãs um espetáculo que valia o ingresso. Eles vinham para fazer festa e nós enchíamos seus copos.

TMDQA!: Nós sabemos que após sua saída da banda você se afastou do grupo e da indústria da música e entrou para a indústria da hotelaria, e agora você tem carregado o legado do Ramones em grande estilo. Como tudo tem sido nos dias de hoje?
Richie: Estou me divertindo muito. E com meu primeiro álbum prestes a ser lançado, as coisas vão ficar realmente divertidas. A primeira coisa a se lembrar é que você deve ser leal a seus fãs e verdadeiro consigo mesmo porque você tem que ter uma paixão dentro de si ao compor. Isso deixou de existir em mim durante um período, então tive que mudar minha vida.

TMDQA!: Como é seu relacionamento com os outros Ramones: Tommy, CJ, Marky e até mesmo Elvis (Clem Burke)?
Richie: Eu falo com Tommy às vezes e o vi no Joey Ramone Bash várias vezes. Clem vive em Los Angeles, então o vejo ocasionalmente em diferentes eventos e vamos mantendo contato. Conheci CJ no último Verão em Nashville e tocamos uma música juntos. Ele parece ser um cara com os pés no chão.

TMDQA!: Pois é, no último mês de Julho você fez uma jam histórica com CJ Ramone em Nashville. Qual é a probabilidade de vê-los juntos novamente? Ou até mesmo com outros Ramones? Os fãs da América do Sul ficariam loucos com uma turnê tendo você, CJ, Tommy, Marky, Daniel Rev e até mesmo Mickey Leigh.
Richie: Todo mundo está ocupado com seus próprios projetos. Você nunca sabe o que pode acontecer, mas eu duvido que reunir todos nós em  uma turnê seja possível.

TMDQA!: Alguns grandes artistas já gravaram ou tocaram músicas compostas por você, como o Children Of Bodom, que tocou “Somebody Put Something In My Drink” e até mesmo os bem respeitados e adorados brasileiros de Sepultura e Ratos de Porão que já fizeram uma jam com “I’m Not Jesus”. O que você acha de outros grupos tocando suas músicas? Você tem alguma versão favorita?
Richie: A maior recompensa para um compositor vem quando outra banda faz sua versão para uma música sua. Eu adoro ouvir todas as versões diferentes e ver como as letras são interpretadas. Duas das minhas versões favoritas são a do Behemoth para “I’m Not Jesus” e “Somebody Put Something In My Drink” por Daan.

TMDQA!: Em 2011 você tocou na Inglaterra com as meninas da banda de covers The Ramonas. Como foi essa experiência? Dá pra dizer pelos vídeos do YouTube que foi uma grande noite e os resultados foram fantásticos. Aqui no Brasil temos várias bandas de cover de Ramones que morreriam para tocar com vocês. Algumas femininas como a banda Ramona, de Curitiba.
Richie: Eu estava em Dublin, na Irlanda, gravando um disco com os Gobshites e a uma hora de distância da Inglaterra. Eu vi um vídeo das Ramonas e entrei em contato para fazer um show porque eu estava muito perto de Londres. Foi muito divertido e as meninas sabem fazer rock. Eu recebo muitos convites para tocar em bandas de covers, mas eu acho difícil fazer um show tocando todos os clássicos do Ramones sem meus irmãos que já se foram. Emocionalmente é muito difícil.

TMDQA!: Você é um baterista bastante versátil com um currículo impressionante, tendo até mesmo liderado uma orquestra sinfônica. Muitos consideram você o melhor baterista que já tocou com os Ramones e até mesmo o melhor músico em geral, porque além de tocar bateria você compunha músicas e cantava. É fácil tocar punk rock?
Richie: O punk rock exige muita energia e você tem que manter a condição física para tocar com agressividade. Algumas pessoas acham que é fácil, mas para fazê-lo com sentimento e convicção, você precisa estar bem com sua mente e sua alma.

TMDQA!: Uma guitarra Mosrite com a sua assinatura foi lançada recentemente. Como surgiu essa ideia?
Richie: A Mosrite entrou em contato comigo para lançar um modelo de assinatura já que componho todas as minhas músicas na guitarra. Elas são feitas à mão nos Estados Unidos e fáceis de tocar. Ah, e elas também são leves e não desgastam seus ombros.

Richie Ramone e as guitarras Mosrite

TMDQA!: Quais são suas músicas favoritas dos Ramones? Você tem uma preferida pra tocar?
Richie: Essa é uma pergunta impossível de responder porque há muitas músicas boas e todas são muito divertidas de tocar.

TMDQA!: Em sua opinião, em 2013, o punk rock ainda existe?
Richie: Sim, mas não da mesma forma. No final dos anos 70 até o meio dos anos 80 o punk rock era um modo de vida. Você fazia o que queria, dizia o que estava em sua cabeça e não se importava com quem você ofendia. Hoje o punk rock parece um pouco mais manso e corporativo mas isso acontece com toda a indústria. As coisas estão mudando na indústria da música, goste ou não. Como eu disse anteriormente, apenas seja verdadeiro consigo e as coisas irão funcionar.

TMDQA!: O que você tem ouvido ultimamente? Há alguma banda que você queira recomendar para os leitores?
Richie: Eu ouço todos os tipos de música, então não fico restrito a apenas um. Se você ouve apenas um tipo de música, isso irá afetar suas canções porque você vai querer soar como aquilo. Eu gosto de ouvir todos os estilos de música, digeri-los e deixá-los sair de forma natural sem ser influenciado.

TMDQA!: Nos conte um pouco mais sobre os músicos em sua banda: Tommy olan, Jiro Okabe e Ben Reagan.
Richie: O que eu posso dizer é que eles são grande caras para se andar junto. Eeles tocam as minhas músicas com determinação e também são divertidos. Tommy tem seu próprio estilo na guitarra e toca como se fosse seu último dia na Terra.Jiro é do Japão e mantém a base com seu estilo pesado de tocar baixo. Ben Wah toca guitarra base e também a bateria, então posso liderar a banda em algumas músicas. Todos eles trabalham muito duro e dão aos fãs um grande momento para se lembrar.

TMDQA!: Sua banda planeja lançar um novo disco esse ano chamado Entitled. Conte mais sobre esse projeto. Vocês estão planejando uma turnê para divulgar o álbum? Podemos esperá-los no Brasil esse ano?
Richie: Sim para tudo. Nós iremos fazer uma turnê mundial para divulgar o álbum assim que ele for lançado. Estamos conversando com gravadoras agora e anunciaremos a data de lançamento logo, e obviamente voltamos ao Brasil ainda esse ano.

TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Richie: Tenho muito mais amigos que discos porque considero todos os meus fãs meus amigos. Quando estamos em turnê, isso é o que eu sinto.

TMDQA!: Obrigado pela entrevista, Richie Ramone. Estamos ansiosos pelo seu novo disco e shows aqui no Brasil, onde você sempre será bem vindo.
Richie: Obrigado, nos vemos logo. Paz.

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