Lembrando Chico Science

Texto por Jarmeson de Lima, do Coquetel Molotov.

O ano de 1997 mal come­çava e todos apos­ta­vam suas fichas em Francisco de Assis França, que cur­tia a ótima reper­cus­são do disco Afrociberdelia junto com a Nação Zumbi e ainda era con­vi­dado a par­ti­ci­par de diver­sos outros pro­je­tos e can­tou junto com Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso e Fernanda Abreu, além de outros nomes da música nacional.

O Carnaval de 1997 pro­me­tia ser ainda bem espe­cial por conta de uma ideia bem ousada, que seria tocar com a Nação Zumbi em cima de um trio elé­trico na semana pré-carnavalesca em Boa Viagem. Vale lem­brar que ainda vivía­mos o período do Recifolia em que a axé-music fazia parte do mains­tream e ame­a­çava dire­ta­mente a música pro­du­zida em per­nam­buco, que mal tinha espaço nas pré­vias locais e na pró­pria mica­reta que tinha o nome da cidade.

Em 1996, o can­tor Antônio Carlos Nóbrega con­se­guiu um espaço na semana pré-carnavalesca e junto aos trios elé­tri­cos coman­dou o bloco “Na Pancada do Ganzá”, con­vi­dando pas­sis­tas de frevo, dois mara­ca­tus e cabo­cli­nhos. O pri­meiro ano do bloco foi uma espé­cie de trin­cheira cul­tu­ral frente a potên­cia dos demais trios que vinham tra­zendo os mai­o­res e mais popu­la­res nomes da axé-music.

O número de foliões no bloco não foi tão grande, mas foi expres­sivo o bas­tante para que ele con­ti­nu­asse no ano seguinte. Sendo assim, para 1997, Antônio Nóbrega tinha uma pro­posta mais ousada, iria colo­car Chico Science e a Nação Zumbi em cima do trio elé­trico do “Na Pancada do Ganzá” e mos­trar na Avenida Boa Viagem e ao público de aba­dás a sín­tese do sucesso do man­gue­beat. Seria uma vitó­ria bas­tante sim­bó­lica para o momento em que pas­sava o estado, que enfim estava come­çando a ado­tar a cul­tura man­gue e reva­lo­ri­zando as mani­fes­ta­ções locais. Já tinha ido no bloco no pri­meiro ano e estava mais do que ansi­oso pelo bloco com a par­ti­ci­pa­ção de Chico & Nação Zumbi.

Infelizmente, no dia 2 de feve­reiro de 1997, num domingo à noite, Chico Science sofreu um aci­dente e mor­reu. Lembro de ouvir a notí­cia em casa pela Rádio Cidade em estado de cho­que. Num horá­rio em que a rádio mal tocava música local, come­ça­ram a tocar os pri­mei­ros acor­des de “Da Lama ao Caos” para dar a notí­cia que nin­guém que­ria ouvir. O dia seguinte foi o mais triste da his­tó­ria de Pernambuco em mui­tos anos. Quem conhe­cia e quem não conhe­cia Chico Science lamen­tava a tragédia.

Mas resta-nos agora a lem­brança e as coi­sas boas pro­du­zi­das por Chico, bem como o espaço que ele con­se­guiu cavar para o man­gue­beat e a música per­nam­bu­cana como um todo. Seu jeito meio mole­que e caris­má­tico aju­dou a espa­lhar sua música por aí e apa­re­cer até em luga­res inu­si­ta­dos na mídia bra­si­leira. Quem diria que ele, que con­se­guiu rein­ven­tar e res­sig­ni­fi­car a ima­gem da cul­tura per­nam­bu­cana, fez até Ariano Suassuna dar o braço a tor­cer para sua mis­tura de Beastie Boys, Fela Kuti e Mestre Salustiano. Mangueboy visi­o­ná­rio, hoje sua lem­brança está em toda parte no Recife e sua mente na imensidão.

Mas como esta­mos em ritmo de Carnaval, não há por­que dar espaço para a tris­teza. Vamos relem­brar Chico Science dando entre­vista a Serginho Groismann falando do car­na­val e can­tando mar­chi­nhas no Programa Livre no SBT em 1996.

Para mais infor­ma­ções sobre Chico Science e o man­gue­beat, visi­tem o site do Memorial Chico Science: http://www.memorialchicoscience.com

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