Baterista do Descendents passa por várias doenças

Bill Stevenson, 47 anos, baterista do Descendents e do ALL, deu uma entrevista extremamente reveladora para a Spinner recentemente.
Nela, o cara fala sobre como superou um tumor no cérebro, uma embolia pulmonar de tamanho recorde na cidade onde ele se tratou e diabetes. Segundo Bill, esse foi um dos motivos para que as 2 bandas voltassem à ativa e ele pudesse excursionar com elas para levantar dinheiro e pagar seus tratamentos médicos.

Confira a entrevista traduzida logo abaixo:

Spinner: Como você se sente tocando com o Descendents e o ALL de novo?
Bill Stevenson: Veio extremamente na hora certa, no meu ponto de vista pessoal. Em 2009 e 2010 eu estive muito doente. Eu tive quatro coisas diferentes que ameaçaram a minha vida e eu as superei todas. Começou com um tumor no cérebro que se desenvolveu lentamente durante os últimos anos e era benigno, mas em um certo ponto atingiu um tamanho tal que estava criando pressão no meu lóbulo frontal e nervo óptico. Isso estava me afetando psicologicamente, mentalmente e fisicamente, e estava me debilitando, então eu me tornei desmotivado e inativo e desenvolvi vários outros hábitos ruins. Eu cheguei a pesar 400 lbs (algo em torno de 180 kilos) e assim veio um coágulo na minha perna, que aí foi parar no meu coração e quase me matou. Meu coração passou por uma embolia, que é basicamente um coágulo, e foi parar nos pulmões, e eu precisei de aparelhos respiratórios por quatro meses. Aí veio a diabetes, e a apneia do sono, quando eu parava de respirar durante a noite porque estava muito gordo.

Agora eu perdi 160 lbs (algo em torno de 70 kilos) e tudo voltou ao normal. Assim que eles retiraram o tumor do cérebro, há um ano atrás, tudo simplesmente ficou certo. Dizer que eu estou de volta aos dias normais seria dizer muito pouco. Na verdade eu me sinto com 20 anos agora.

Então está exatamente na hora certa pra mim tocar com os caras que eu passei a minha vida toda, e o Milo é meu melhor amigo no mundo todo. Eu sinto como se tivesse uma nova vida agora.

Spinner: Isso te inspira a compor?
Bill: Para mim, escrever músicas é um processo contínuo. Ao longo dos anos eu nunca realmente parei e comecei, mas esses problemas começaram a mostrar sua cabeça maligna em 2008, e meio que me impediu de compor. Eu brinco com as pessoas e digo que entre 2008 e 2010 a busca pelo All estava em hiato temporário.

Spinner: E agora voltou.
Bill: Oh, está de volta e bastante. Foi quase um milagre. Assim que eu acordei (da cirurgia de retirada do tumor) eu estava tipo “Boom! Vamos lá!”. As previsões eram de que eu teria que reaprender a andar e falar, mas eu acordei da anestesia e foi como se eu fosse de 47 a 20 anos em 36 horas.

Spinner: E o que estava acontecendo quando você teve o tumor? Como você se sentia?
Bill: Era simplesmente doido. Eu achava que estava ficando velho. Eu estava tipo: “O que aconteceu comigo? Eu sou uma droga.” A primeira coisa a ir embora foram as emoções. Eu me tornei “reto”, não estava feliz, não estava triste. Emoções são o que impulsionam as pessoas. Era como se eu estivesse ficando velho muito rápido, eu me sentia como um cara de 70 anos. Eu nem conseguia levantar e brincar com meus filhos e coisas do tipo. Mas eu não ia ao médico porque não me importava. Era tipo, pense em alguém não se importando com nada. Não era nem mesmo algo tipo “Oh, eu não me importo, sou um adolescente chato e não me importo”. Não era isso, era simplesmente não me importar com absolutamente nada porque parte do seu cérebro está danificado.

Aí minha saúde ficou muito, muito mal. Como eu disse, cheguei a pesar 180 kilos. Eu era tipo um homem-Snicker (o chocolate Snicker). Eventualmente eu fui parar no Pronto-Socorro e quando o coágulo estourou na minha perna e foi parar no coração, isso deveria ter sido meu fim. Eu tenho o recorde no hospital aqui em Ft. Collis por ter sobrevivido à maior embolia pulmonar da história deles. Eu acho que todos esses anos tocando bateria me deram um coração muito forte, porque eu acabei “empurrando” a embolia para o outro lado, que foi parar nos meus pulmões. Aí as pessoas começaram a me examinar, mas demorou 3 meses para que encontrassem o tumor no cérebro. Até mesmo depois disso tudo.

Spinner: E como algo tão grande passou desapercebido?
Bill: A minha esposa disse a eles que deveriam fazer um exame no meu cérebro, na primeira vez que eu fui ao hospital, mas eles não fizeram por algum motivo. Ela disse: “Esse não é meu marido, ele não está bem.”, e eles falaram algo como: “Bom, a gente não conhece seu marido”, e aí me deram várias drogas psictrópicas. Eu estava tipo: “Hey caras, eu sei que não sou o que costumava ser. Tipo, eu era um estudante honorário, mas por que vocês estão me dando essa porra de Ritalin (remédio controlado)?”.
Aí eu acordei um dia com a visão duplicada, então fui ao meu oftalmologista e ele me olhou por apenas 5 segundos antes de dizer que eu precisava fazer um exame no cérebro, porque ele sabia que havia um tumor empurrando meus olhos pra fora da minha cabeça.

Spinner: Você tinha plano de saúde?
Bill:Sim, eu tinha. O engraçado é que esse tumor deixou um rastro de destruição que eu tinha meio que parado de trabalhar alguns meses antes de ir ao pronto-socorro, então além de não ter dinheiro, eu havia abandonado o pagamento de minhas contas. No dia que eu fui ao PS, minha irmã veio do Oregon, depositou 40 mil dólares na minha conta, pagou 3 meses de contas antigas e o plano de saúde ia expirar no dia seguinte.

Spinner: Isso é doido. Parece que para a maioria dos punks plano de saúde não é realmente…
Bill: Sim, minha irmã salvou nossas bundas. Eu fiz o plano de saúde quando minha esposa engravidou, para cobrir os custos disso. Eu me considero um cara jovem, saudável e que nunca vou ficar doente. Pra que diabos eu precisaria de plano de saúde? Mas na verdade, já que você mencionou que a maioria dos punk rockers nem tem plano de saúde, eu provavelmente deveria dar alguns créditos. Eu não tinha trabalhando direito já há um ano, quando eu fui ao hospital, então eu tinha débitos que estavam acumulando e hipotecas que não estavam sendo pagas, e aí essa organização chamada MusicCares, que me foi indicada por Kevin Lyman da Warped Tour, me ajudou durante alguns meses. Aí o Rise Against e Milo (Descendents) apareceram de verdade. Eu produzi o disco do Rise Against, então eles arranjaram a grana pra mim muitos meses antes, porque eles sabiam que eu precisava. Aí o Milo viajou e disse: “O que eu posso fazer pra ajudar?”, e eu disse: “Bom, vamos fazer alguns shows.”, e ele disse: “Legal, vamos fazer alguns shows!”. Então, foram Rise Against e Milo que me colocaram de volta nos trilhos financeiramente.

 

Spinner: Você está trabalhando em material novo do Only Crime, All ou Descendents agora?
Bill: Respondendo cronologicamente, o Only Crime (outra banda de Bill) começa a gravar em uma semana. O Descendents não tem planos concretos de gravar, mas devido ao momento, energia ou gravidade do que estamos fazendo, e pelo fato de estarmos nos divertindo tanto, eu não descartaria a gravação de algo novo em um futuro próximo. E você sabe, Karl, Stephen e eu também estamos nos divertindo. Nós fizemos um show do ALL em Las Vegas algumas semanas atrás onde todos os vocalistas que já passaram pela banda cantaram. Todos eles, Scott Reynolds, Chad Price, Dave Smalley, cantaram, e nós nos divertimos muito. Eu não consigo ver a gente não gravando mais. Assim que eu conseguir terminar esse ano e tentar pagar o meu imposto de renda, eu adoraria passar um tempo compondo e tentando gravar. Eu tenho várias ideias para músicas e eu sei que o Karl também tem, e eu acho que até o Milo também, e além disso ele tem algumas coisas guardadas. Então eu não sei, eu gostaria de gravar bastante. Eu queria gravar com todos os caras!

Spinner: Como é tocar para a molecada nos dias de hoje?
Bill: Nós somos abençoados. Parece que quanto mais velhos ou inativos ficamos, a molecada aparece em massa pra nos ver, e se você ler as resenhas, vai ser algo tipo: “Descendents apareceu e foi mais foda do que qualquer banda. Eles soaram como a banda que esteve em turnê o ano todo e todas as outras bandas soaram como se estivessem voltando da aposentadoria.” Há a percepção de que tipo “Oh, esses caras já têm 45 anos” ou “esses caras já têm 50” mas é tipo, foda-se, eu não me importo. Eu não me importo com quantos anos eu tenho. Eu tenho 20 anos, sabe? Eu tenho 20 anos, vamos botar pra foder.

 

A entrevista original, em Inglês, está aqui.

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