Homem usando fones de ouvido
Foto Stock via Shutterstock

É bem provável que nos últimos dias você tenha recebido algum áudio ou vídeo te contando sobre as “músicas 8D”. A tecnologia viralizou em grupos e conversas de WhatsApp nos últimos dias, com um suposto áudio da “nova música do Pentatonix“.

A mensagem dizia algo como:

Essa é a nova música da Pentatonix, composta com a tecnologia 8D. Ouça apenas com fones de ouvido. Será a primeira vez que você ouvirá essa música com o cérebro e não com seus ouvidos. Você sentirá a música de fora e não dos fones de ouvido. Sinta os efeitos desta nova tecnologia!

Primeiramente, é interessante entendermos do que se trata. Como a própria mensagem fala, não adianta nada ouvir a música sem fones de ouvido — de preferência, aqueles que cobrem toda a orelha.

O 8D se refere à criação de novas dimensões de áudio que tornam a experiência mais imersiva do que uma música linear. Cientificamente, é inclusive comprovado que essas gravações possuem efeito terapêutico e são mais agradáveis.

No entanto, logo de cara esbarramos no primeiro problema com o áudio viral. A tecnologia só funciona plenamente quando as canções são gravadas com a tecnologia binaural, como é conhecida, e muitas vezes o que encontramos são versões remixadas para se adaptarem ao 8D.

Pentatonix e a Tecnologia 8D

É isso que aconteceu com a música do Pentatonix, que aliás não é nova: trata-se de uma versão do clássico de Natal “Hallelujah”, lançada pelo grupo em Outubro de 2016. Acima, você pode comparar a original com o remix em 8D; com fones, é possível perceber como as faixas de voz “circulam” mais dentro dos ouvidos e criam camadas.

Ainda assim, mesmo sendo feito por meio de alterações, o efeito é bem perceptível e não perde seu mérito. É similar a uma televisão 3D: algumas oferecem a opção de converter filmes gravados em lentes normais para a tecnologia, o que gera um resultado bem interessante ainda que nem se compare com os que foram projetados com o 3D em mente.

Aliás, é bom também esclarecer que o nome 8D é apenas ilustrativo. Para o ouvinte, qualquer tecnologia acima do 3D já funciona virtualmente da mesma maneira e utiliza as mesmas técnicas — múltiplos microfones para criar sons ambientes, mixagem em estéreo e, no caso de adaptações, o uso de softwares como o Audacity. Hoje em dia, há até sites que se propõem a fazer a conversão.

Pink Floyd, Lou Reed e origens do 8D

Como fica, então, uma música gravada com um kit binaural e com a tecnologia 8D desde o início? A diferença é gritante, e temos bons exemplos disso em bandas famosas que foram pioneiras no uso disso. Um dos primeiros e melhores, inclusive, é a faixa “The Final Cut”, lançada pelo Pink Floyd em 1983:

Se prestarmos atenção, podemos notar diversos sons ambientes como cachorros latindo e a imersão causada, por exemplo, pelo barulho de tiro da canção. Vale ressaltar que tudo é mais perceptível na versão que está no Spotify, já que tem melhor qualidade de áudio do que o clipe.

Outro artista da mesma época, o saudoso Lou Reed (Velvet Underground), chegou a lançar três discos inteiros com a tecnologia. Os dois de estúdio, Street Hassle The Bells saíram respectivamente em 1978 e 1979. O mais incrível, no entanto, é sem dúvidas o ao vivo Live: Take No Prisoners (1978), que te transporta para dentro do show de forma sem precedentes.

Os Rolling Stones também possuem um registro ao vivo incrível nos mesmos moldes. Trata-se de Flashpoint, que completou exatos 29 anos no dia em que essa matéria foi escrita. Falamos mais sobre o histórico álbum no Instagram oficial do TMDQA!, em uma postagem disponível logo abaixo.

8D nos tempos modernos

https://www.instagram.com/p/B-e5Tp2FO95/

Uma das tecnologias utilizadas para a obtenção desses efeitos é a holofonia, cuja invenção é atribuída ao engenheiro de som argentino Hugo Zuccarelli. Ele teria feito pesquisas que provaram que a audição humana consegue captar áudios em espaços de 360 graus, e passou a aplicar essa técnicas em suas gravações — como as do Pink Floyd, que inclusive credita o Zuccarelli Labs ltd na parte de produção.

Em tempos mais próximos da modernidade, mais especificamente no ano 2000, temos possivelmente o melhor exemplo da técnica. Trata-se do álbum Binaural, do Pearl Jam, que como o próprio nome diz veio cheio de experimentações com o áudio em várias dimensões; um destaque especial é para a faixa “Of the Girl”.

Por fim, na era contemporânea, a técnica já se espalhou bem e é usada com mais frequência do que se imagina. Billie Eilish, por exemplo, usou o 8D na faixa “ilomilo” que fez parte de seu disco de estreia When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, ganhador do Grammy de Melhor Álbum em 2020.

Mesmo sabendo de tudo isso, é sempre divertido ouvir as gravações convertidas para a tecnologia. Felizmente, diversos canais no YouTube como o Aviion e o 8D Fusion fazem esse trabalho e podem render horas de entretenimento aos fãs de música de todos os tipos, desde Ed Sheeran My Chemical Romance Queen.

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