Djonga
Foto: Daniel Assis

E aconteceu novamente! Mais um dia 13 de Março e mais um novo disco do rapper mineiro Djonga!

Se você pensava que a ótima trilogia formada por Heresia (2017), O Menino Que Queria Ser Deus (2018) e Ladrão (2019) deram conta de mostrar tudo o que ele tinha para dizer, está redondamente enganado! Desta vez, Gustavo Pereira Marques disponibilizou para o mundo Histórias da Minha Área, produzido por Coyote Beatz.

Nas novas músicas, o rapper nos apresenta a um mundo ainda mais pessoal (mais ainda do que nos antecessores). Ele narra desde o passado que o construiu (“O Cara de Óculos“) até o orgulho de ter chegado onde chegou (“Gelo“). Enquanto isso, também fala sobre o impacto do nascimento de Iolanda, sua filha mais nova (“Procuro Alguém“). E ainda versa sobre flertes e paixões (em “Mania“, parceria com MC Don Juan).

O mais interessante nisso tudo, no entanto, é a identificação. Djonga fala sobre sua vivência, mas muitos sabem exatamente sobre o que ele está falando. Enquanto muitos artistas criam mundos utópicos em suas letras, Djonga tem se destacado ao falar exatamente sobre a realidade. E, cá entre nós, ouvir a realidade tem se mostrado muito importante ultimamente.

O comprometimento de Djonga com o real é, por assim dizer, inspirador. Certamente, é um dos alicerces de seu gradativo sucesso na cena musical brasileira. Direto ao ponto, sincero e afrontoso, suas obras são capazes de colocar muita gente para pensar! Seus seguidores o respeitam e tomam seus versos como mantras.

Não à toa, ele se autointitula Deus em seu perfil oficial no Twitter (se, com essa série de lançamentos, ele queria ter um impacto divino para a cena, ele conseguiu). E, mesmo com todo esse status, ele admite ser “todo errado” e “não saber rezar” (faixas 4 e 2 do disco, respectivamente).

 

“É o disco que mais me representa”

Acreditem se quiser, mas conversamos com Deus! Por telefone, um Djonga mais melódico e maduro respondeu algumas perguntas nossas sobre tudo que envolve o novo lançamento e sobre sua evolução durante esses anos.

Confira abaixo (e, por sinal, se liguem nesta capa incrível que fala por si só):

Djonga - Histórias da Minha Área

TMDQA!: Em “Hat-Trick”, primeira faixa do Ladrão, você fala sobre o feito de ter lançado três discos incríveis, na mesma data, em três anos seguidos. Com o Histórias, você repetiu esse feito de novo. Agora são “quatro anos, quatro grandes obras”. O que a data 13 de Março tem de tão especial e como foi a correria de produzir um novo disco em um ano?

Djonga: Treze é o número do galo (risos). A coisa mais interessante que tem é que, a cada ano, o disco é produzido de um jeito. Tem ano em que eu comecei a produzir faltando poucos meses para lançar. No caso desse, eu comecei a produzir assim que lancei o Ladrão. A gente sempre arruma um tempo, porque, para fazer arte, é preciso ter tempo. Artista que não tem tempo para fazer arte não é artista.

TMDQA!: Como foi o processo de composição do disco? Ao longo de 2019, você percorreu alguns dos maiores festivais do Brasil. Como foi conciliar a turnê com a produção do disco novo?

Djonga: Metade do trampo foi feito durante a turnê, mas um pouco foi produzido durante minhas férias. Eu tive tempo para rearticular um pouco o que eu já havia escrito. Foi bom para produzir outras coisas. Basicamente foi isso. Foi importante escrever esse disco porque ele diz muito sobre mim. Acho que é o disco que mais me representa.

TMDQA!: Uma característica muito interessante do seu trabalho são os relatos da sua vivência. A cada disco seu, entramos cada vez mais na sua história. Em Histórias da Minha Área, a gente é apresentado ainda mais a fundo sobre quem é o Djonga. Não apenas o Djonga, o artista, como também o Gustavo, a pessoa. Como é dividir a sua vida com seus ouvintes, que a cada ano conhecem mais sobre você e te idolatram cada vez mais?

Djonga: É uma satisfação imensa! Acho que compartilho minha vida com pessoas que viveram coisas parecidas com as que eu vivi. É ótimo ter o feedback da galera falando que se identificou com o trabalho. Isso me dá animação para continuar fazendo. É muito importante para mim ser o cara que faz parte da vida das pessoas. É o que eu digo desse disco. Eu não estou falando só de mim. Estou falando de você e de toda uma geração.

 

“O orgulho é em saber que eu estou mudando a vida das pessoas”

TMDQA!: Em canções como “Oto Patamá” e “Gelo”, você mostra um lado mais orgulhoso dessa trajetória que traçou até aqui. Você cita versos como “É tanto estilo que meus papo reto vira hit” e “Pra chegar aqui em cima, o buraco é mais embaixo”. Considerando que todo o seu sucesso veio dos versos verdadeiros que você escreve e que você escreve majoritariamente sobre uma dura realidade cheia de desigualdade, ódio e inveja, o quão simbólico é o seu sucesso para a sociedade brasileira?

Djonga: Você falou de uma música legal, que é a “Oto Patamá”. É uma frase do jogador Bruno Henrique, que veio da mesma cidade que eu. É um cara de quebrada, um cara humilde que venceu na vida e que serve de exemplo para todo mundo. É muito bom chegar no lugar onde você mora e saber que você é exemplo. Especialmente para as crianças. Você vê a galera mais velha, que às vezes é mais conservadora em diversos assuntos, vendo a sua parada e querendo colar também. O orgulho é em saber que eu estou mudando a vida das pessoas ao mesmo tempo em que estou mudando a minha.

TMDQA!: Ainda em “Oto Patamá”, você fala sobre manter as raízes, mantendo aquele discurso que você já desenvolvia nos seus discos anteriores de “não esquecer de onde veio”. Hoje é fácil, para você, ter uma casa na zona sul. Difícil mesmo é fazer o jogo do inimigo. Em “Gelo”, você ainda fala que está sempre marcando gol, ainda que sempre marcado. Como você descreve essa força negativa e o que faz para “driblar” ela?

Djonga: Essa força negativa são as estruturas sociais que já estão enraizadas na nossa cabeça. São as forças sociais que dizem que é feio ser preto, que é feio ser gay… São as questões sociais que dizem que você tem que sair de perto de quem você ama, para se importar mais com a marca da roupa do que com o companheiro que está do nosso lado. Isso puxa a gente para baixo. O que eu faço para me livrar disso é fazer arte.

 

“Eu estou muito mais sensível”

TMDQA!: Muitos artistas novos, por sinal, citam o seu nome como influência. Eu queria saber o que você ouve de feedback dessa galera. Como as pessoas interpreta as letras e as encaixa em suas vidas?

Djonga: Esse feedback é o que me dá forças para continuar e querer fazer cada vez mais. É saber que estou fazendo isso não apenas para mim, mas para um monte de gente. Rola muito esses retornos positivos. Fico muito feliz que vários artistas que fazem sucesso são meus fãs, incluindo jogadores de futebol e músicos.

TMDQA!: A Iolanda, sua filha mais nova, nasceu durante a produção deste disco. Como ela entrou nesse processo e impactou tudo que vinha acontecendo. Como a vida de pai impactou a sua carreira, no sentido de sair para turnês e focar nas novas músicas?

Djonga: Ela impactou tanto que existe uma música no disco em homenagem a ela, que é a “Procuro Alguém”. A música é para ela, mas muita gente acha que é uma música de amorzinho, o que é muito interessante também, porque isso mostra que amor não tem forma, né? Eu estava me comunicando com a minha filha criança e muita gente se identificou com o relacionamento delas. O amor é algo tão puro que não tem limitação nem forma.

A Iolanda também ajudou o disco a deixar o disco mais melódico, mais introspectivo. Assim como aconteceu quando o Jorge nasceu na época do O Menino Que Queria Ser Deus. Acabou deixando a coisa toda mais bonita. Eu estou muito mais sensível. Também tem o lado foda, que é que inevitavelmente eu acabo passando uns dias fora e fico com saudades. Não só deles, mas da Malu e dos meus país também. Ao mesmo tempo, eu não aguentaria não estar viajando para fazer show. A Iolanda nasceu e três dias depois tive um show. A gente achou que ela fosse nascer em uma certa data e acabou que ela nasceu antes. E não deu tempo para desmarcar o show. Aliás, não seria justo com meus fãs.

 

“O som de BH é foda!”

TMDQA!: O disco também é recheado de participações: Bia Nogueira, Cristal, MC Don Juan… Qual foi o seu critério para as escolhas e como você entende que essa galera contribui para a mensagem que você quer passar com o disco?

Djonga: O critério foi de identificação com o trabalho e principalmente com a pessoa, sacou? Tanto a Cristal quanto o (NGC) Borges, eu me identifiquei com o trabalho deles de cara. Eles são novos na cena, e me identifiquei mais ainda quando consegui trocar ideia com eles. FBC é meu irmão! A Bia é diretora musical de uma peça da qual faço parte e é uma grande amiga minha. É uma pessoa que aprendi a amar demais. O Don Juan eu cito no disco anterior. Conheci ele melhor depois do lançamento, porque ele gostou muito da música. Começamos a trocar uma ideia e percebemos que temos uma conexão foda como pessoas e como artistas. Tem uma participação minha no disco dele também. Graças a Deus, só tenho gente foda me cercando.

https://www.instagram.com/p/B9tvpSOgPHA/

TMDQA!: Você tem ajudado a disseminar uma grande cena da nova música mineira. Tem a galera do Rosa Neon, Hot e Oreia… Como se sente sendo parte dessa nova história?

Djonga: Eu me sinto muito bem fazendo parte de tudo isso. Posso indicar Laurinha Sette, Paige e as meninas da Fenda de um modo geral. Procurem “Fenda” que vocês vão entender do que estou falando. É um grupo de BH só de mulheres. Tem uma galera incrível do funk também. É muita gente mesmo! O som de BH é foda!

 

“Só não desenvolve a mente quem é trouxa”

TMDQA!: Revendo toda a sua carreira, como você vê a sua evolução, tanto enquanto artista quanto enquanto pessoa?

Djonga: Como artista e como pessoa, eu me sinto mais maduro. Enquanto artista, eu aprendi a ter mais consciência musical. Eu tenho mais noção do que eu posso, devo e consigo fazer. Eu tenho mais noção de como traçar meu objetivo. Eu tenho mais conhecimentos técnicos também. Estou me sentindo mais sentimental e consigo deixar isso mais claro na música. Como pessoa, foi muita mudança. Dois filhos para criar. Só não desenvolve a mente quem é trouxa!

TMDQA! Algum recado final?

Djonga: Vamos falar as mãos. É importante sempre, e não só agora por causa do coronavírus. Sai com essa mão de cocô para lá (risos)!

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