Supercolisor
Foto: Isadora Mandarino

O Brasil está pegando fogo! No uso mais corriqueiro da palava, pensaríamos em incêndios, mortes e afins (o que de fato está acontecendo, vide a Amazônia). Mas “pegar fogo” não representa só isso. Há também o sentido metafórico, que pode implicar desde um lugar “badalado” até ideias fervilhando.

Os artistas brasileiros, que não são bobos nem nada, sacam bem essa metáfora e entendem que ela comunica muito bem. Muitos álbuns nos mostraram isso. O fogo é energia, é movimento, é claro, é ação! E esse fogo é também personagem importante em “Incêndios“, novo lançamento da banda Supercolisor.

Lançada hoje (13) com a participação de Victor Meira (da Bratislava), a canção é o primeiro passo da nova fase da banda. Aos poucos, seremos apresentados a mais singles e, em breve, ao terceiro disco de estúdio, que já tem definido o nome de Viagem ao Fim da Noite.

 

Entrevista: “Os incêndios de dentro são os mais poderosos”

Muita coisa mudou no Supercolisor após o lançamento de Zen Total do Ocidente (2015), desde os limites do pensamento estético do grupo até a sua formação. Para o novo lançamento, a banda conta com os novos integrantes Jérôme Gras (baixo) e Henrique Meyer (guitarra). Conversamos sobre as mudanças da banda e sobre a importância de mantermos tal chama acesa (não as literais, é claro).

Confira abaixo o papo e o clipe logo abaixo:

TMDQA!: Eu sinto às vezes que é quase impossível não falar sobre a atual situação político-social do Brasil, seja como crítica ou abordando questões de empoderamento. No clipe de “Incêndios” vemos um jornal pegando fogo e uma das notícias diz respeito inclusive ao atual governador do Rio de Janeiro. Enquanto artistas, como vocês se sentem em relação a isso tudo e como a arte pode contribuir positivamente para uma perspectiva de melhora?

Ian Fonseca: “Contribuir”, embora positivo, pode ser um termo desorientador. Como artistas, sinto que dar forma estética é o nosso papel mais interessante. A música e o que transmitimos nela são mais uma projeção das nossas sensações do que mensagens informativas estanques, já que permitem leituras diferentes de um ouvinte pra outro.

Você perguntou como a gente se sente: falando por mim, eu me sinto naturalmente confuso, mas não desanimado. Muito pelo contrário! No filme, o jornal pega fogo e nele há uma matéria sobre o Witzel, mas poderia perfeitamente ser outro desses nomes. Calhou que o jornal que o Alberto Whyte [diretor do videoclipe] tinha contava uma das tantas histórias que queimam e apagam no Brasil todo dia. Nós abraçamos a ideia dele, que retratou com força essa metáfora, e que foi determinante na interpretação visual da nossa canção.

TMDQA!: Achei interessantíssima essa questão de mesclar incêndios internos e externos. Não é só de política que estão falando na letra. Como tudo isso foi pensado?

Ian Fonseca: Os incêndios de dentro são os mais poderosos, eu penso. Já os externos, quando não puro acidente, são quase que uma extensão dos primeiros. Não por acaso essa canção, embora tenha um lado íntimo, é também o fruto lírico de um momento intenso do nosso ambiente, de combustão perigosa das relações pessoais e sociais nessas novas, e portanto ainda desconhecidas, formas virtuais de se comunicar. Vamos dizer que essas “chamas” todas, então, resultaram para nós nessa fogueira que é “Incêndios”.

TMDQA!: Por falar em fogo, ele foi um dos elementos metaforicamente mais citados na música brasileira em 2019. Grupos como Francisco, el Hombre, BaianaSystem, Canto Cego e mais exploraram bem isso. O que, para vocês, é esse fogo de 2019? Ele vai dar as caras nas outras composições do disco novo?

Jérôme Gras: A temática do fogo que você com razão viu muito presente na produção brasileira recente (entre outros com estas três bandas incríveis que você citou) nos intriga faz tempo, por exemplo também na obra dos Beach Boys ou até de Stravinsky. Acho que tentamos, com humildade, oferecer a nossa visão sobre o tema.

É provável que a metáfora do fogo seja usada com frequência porque ele representa um momento de destruição (social, política, do meio ambiente…) ao mesmo tempo que abre novas possibilidades de criação, fertilização e construção. Assim como estes outros artistas, esperamos que estes fogos literais e simbólicos abram novos caminhos para nossa sociedade, nos quais a arte e a cultura, com toda certeza, terão um papel central.

 

“MPB progressivo”

TMDQA!: Os seus lançamentos anteriores não contaram com participações de outros nomes (os famosos “feats”). Já para o Viagem Ao Fim da Noite, o primeiro single já conta com a participação de Victor Meira, da Bratislava. O que os levou a investir nisso?

Jérôme Gras: Nestes quatro últimos anos, desenvolvemos projetos paralelos como produtores ou instrumentistas. Isso nos permitiu encontrar muitas pessoas especiais no caminho: artistas, músicos, profissionais da indústria… Como nenhum de nós quatro é originalmente de São Paulo [Ian e Natan são de Manaus, Henrique de Florianópolis e Jérôme de Paris], tivemos a sensação de criar uma nova família artística. Naturalmente, convidamos estes novos parceiros a participar do disco. Estas contribuições foram tão essenciais que decidimos destacá-las na escolha dos singles. Assim, cada um deles traz ao menos um feat importante, como é o caso de “Incêndios”, com nosso irmão Victor Meira, que tem nos acompanhado em toda esta jornada. Nada mais natural então que abrir os trabalhos deste novo disco com a canção na qual ele brilha. As próximas faixas de trabalho trazem também participações maravilhosas, que nos emocionaram, e logo mais vamos poder divulgar quais são!

Capa de "Incêndios" (Supercolisor part. Victor Meira)
Foto: Divulgação

TMDQA!: O que podemos esperar da nova fase da banda em termos sonoros e estéticos?

Jérôme Gras: Desde que a Supercolisor começou a trabalhar neste novo material, quisemos preservar a essência da banda. Quisemos manter a poesia das letras do Ian, a prominência da melodia e do canto e uma estética rock coerente com os discos anteriores. Mas também quisermos ir além em outras dimensões. Exploramos novos timbres para enriquecer os arranjos (cordas, metais, sintetizadores, baixo fretless, vozes dos nossos convidados, percussões, etc.), novos ritmos (brasileiros ou de fora) e um trabalho sobre as formas musicais. Isso tudo levou do que chamamos, brincando entre nós, de um “MPB Progressivo” (risos).

Esta pesquisa nos permitiu trabalhar sobre o desenvolvimento das ideias musicais (re-harmonizações, contrapontos, ostinatos…). Elas ajudam a sustentar e a apoiar a voz e a lírica do Ian, que para mim ficam sempre em primeiro lugar. Em termos de estilos, nos permitimos navegar entre várias colorações. Tem rock, claro, mas também MPB, reggae, jazz, folk… Queremos criar uma sensação de viagem ao longo das faixas, que decidimos refletir no título do disco.

TMDQA!: Rolaram algumas mudanças na banda de 2015 para cá, inclusive na formação. O que esses 4, quase 5 anos, contribuíram na carreira de vocês, em termos de aprendizagem, experiência e maturidade?

Natan Fonseca: Acredito que aconteceu um amadurecimento natural das pessoas envolvidas, com perspectivas e sentimentos novos. A chegada dos novos membros [Jérôme Gras e Henrique Meyer] também foi bastante significativa por virem de novos contextos para nós, já que um é da França e o outro do sul do Brasil. Eles também trazem bagagens musicais e pessoais muito particulares. Eu pontuaria o aspecto mais acadêmico, informado, que ambos trouxeram como um diferencial estético notável.

TMDQA!: Alguma contribuição final?

Natan Fonseca: Queríamos lembrar que este novo single faz parte de um projeto maior. Vai envolver mais videoclipes, participações muito especiais e bastante material de extensão do novo álbum. Convidamos todos a nos acompanhar nas redes sociais e plataformas de streaming para não perder nenhuma novidade! E agradecemos muito também o interesse de um canal tão bacana como o TMDQA para esta conversa.

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