Rincon Sapiência no Porão do Rock
Foto por Luca Valerio

A cena de rap brasileira é, sem dúvidas, um dos grandes destaques do país atualmente. Entre os ótimos nomes dessa geração, certamente Rincon Sapiência aparece entre os melhores depois de seu premiado trabalho Galanga Livre (2017).

Desde então, o rapper paulista não tem ficado parado. Foram várias faixas nesse período, como “Placo” e a incrível “Mundo Manicongo” em parceria com o projeto COLORS. Na última sexta-feira (25), ele incluiu mais uma canção no repertório.

A ótima “Meu Ritmo”, como o próprio Rincon diz no início da música, “é mais uma pra gente entender como o nosso lugar e o continente africano não é tão longe”. O som novo agora virou vídeo, com produção do duo Kill The Buddha, e está disponível logo a seguir.

A canção fará parte do novo disco de Rincon Sapiência, que já tem nome e data prevista. Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps sairá em Novembro e terá participações de nomes como ÀTTØØXÁ, Gaab, Rael e mais.

Em uma conversa rápida após a sua apresentação no Porão do Rock, em Brasília, o artista nos contou muita coisa. Além de nos trazer alguns detalhes dessa música e de seu processo de produção, ele também deu algumas opiniões sobre o lugar do rap no Brasil.

Vale lembrar que esse show marcou a primeira performance ao vivo de “Meu Ritmo”, recebida calorosamente pelo público. Confira o papo abaixo!

Entrevista com Rincon Sapiência

TMDQA!: Uma frase que me marcou muito em “Meu Ritmo” é o “mete dança e tudo fica bem”. Eu sinto que o Galanga Livre foi muito politizado, e por mais que essa nova faixa não tenha essa linguagem política tão explícita, podemos dizer que essa coisa de “meter dança”, de valorizar a cultura dentro do contexto que estamos hoje em dia é um ato político também?

Rincon Sapiência: Eu acho que sim. Essa música tem um resgate cultural interessante, que é trazer um pouquinho da música do Famoudou Konatè [sampleado em “Meu Ritmo”], da Guinea Conakry, a cultura Malinkè, que é uma cultura incrível e musicalmente muito rica. Colocar um pedacinho disso no rap já é muito rico no que diz respeito à contação de história. Acho que dentro da cultura preta, principalmente, é muito necessário que as histórias se mantenham, que as pessoas grandiosas mantenham suas memórias vivas. Então trazer pra uma música contemporânea a energia de Famoudou Konatè já tem uma simbologia muito grande.

E o lance de dançar, também. Considerando a sociedade que a gente vive, as amarras que a gente é condicionado a ter. Aquele momento que você consegue colocar a sua melhor roupa, se sentir bonito, se divertir e colocar o seu corpo pra se movimentar, isso é político. Eu me vejo fazendo as mesmas coisas que antes, só que com linguagens diferentes.

TMDQA!: Você sempre produz suas ideias em casa. Como você consegue não cair no automático, fazer cada ideia se transformar em uma música com um gosto especial, mesmo sendo feita em um processo que já foi repetido várias vezes?

RinconAh, acho que tem a ver com pesquisa. Eu sou apaixonado por música. Gosto de estar descobrindo sons novos, gosto da relação da música com tecnologia. Regularmente se inventam timbres novos, texturas novas, recursos novos de áudio que você pode aplicar na sua produção. Isso faz com que você tenha vários caminhos, então por mais que você tenha seus signos na hora de compor – e esses signos estão sempre presentes – com um pouquinho de pesquisa, paciência e referência você consegue realimentar isso sem ser redundante.

Porão do Rock

TMQDA!: Estamos hoje no Festival Porão do Rock. Há alguns anos o Porão deixou de ser só “do Rock” e tem dado espaço para vários artistas de diversos gêneros. Qual a importância desse espaço?

Rincon: Eu vejo o rock como uma música bem próxima do rap na sua essência. Não acho que é uma barreira tão grande assim. E vejo também que o rap dentro da música brasileira, no contemporâneo, é um dos gêneros que tem mais produzido coisas relevantes, de bom gosto, com números, com alcance, com qualidade, com texto bom, enfim, melodias boas. Eu acho que nesses festivais, quando eu vejo o rap ocupando os palcos, é a justiça sendo feita pelos bons trabalhos.

TMDQA!: Legal! Muito obrigado pelo seu tempo! Curtiu se apresentar aqui?

Rincon: Valeu! Foi massa!

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