Big Thief - Two Hands

Por Nathália Pandeló Corrêa

O Big Thief está tendo um belo 2019. O projeto liderado pela vocalista e guitarrista Adrianne Lenker lançou seu terceiro disco, U.F.O.F., em maio, considerado de cara um dos destaques do ano por veículos especializados. Apenas cinco meses depois, o quarteto do Brooklyn lançou o “irmão gêmeo” desse disco, Two Hands, disponibilizado na última sexta.

Se o primeiro álbum trazia uma aura celestial, como o grupo define, sua segunda parte traz um clima mais árido. Também, pudera: U.F.O.F. ganhou forma em um estúdio montado numa cabana no meio de uma floresta no estado de Washington. Já para gravar Two Hands, Adrianne, Buck Meek, Max Oleartchik e James Krivchenia foram parar cerca de 50 quilômetros a oeste de El Paso, no Texas, cercados por 3.000 hectares de pomares de nozes e a poucos passos da fronteira com o México.

O estúdio Sonic Ranch foi escolhido justamente pela localização, em pleno deserto. Fazia 40º C por lá, e o verde das árvores e o ar úmido da sessão anterior se tornaram apenas lembranças. A banda se propôs a fazer um álbum “sobre a terra e os ossos embaixo dela”, o que se traduziu em uma gravação sem quase nenhum som adicional aos instrumentos orgânicos.

O resultado é, inevitavelmente, um disco mais caloroso. Isso fica evidente no single “Not”, uma faixa que se destaca como uma das mais potentes no álbum. Não foi por acaso, já que a gravação foi propositalmente com os instrumentos configurados da melhor forma para captar a crueza do som, anteriormente mais polido. U.F.O.F. é beleza. Two Hands não tem medo de se sujar um pouco.

Ali, tão perto da fronteira, o Big Thief ousa tocar em questões políticas, mas sem se tornar panfletário. O objetivo era falar de tópicos universais, e não apenas locais, trazendo sua visão para temas como guerra e destruição ambiental. Quando Adrianne canta “Please wake up”, ela está falando diretamente com o público.

Aqui no Tenho Mais Discos Que Amigos!, é o baixista Max Oleartchik quem conversa com a gente sobre esse novo momento da banda. Confira abaixo:

TMDQA!: Primeiramente, lançar dois discos em um ano é impressionante, mas também pode ser cansativo. Vocês sempre planejaram gravar os dois em sequência, ou foi apenas uma consequência da quantidade de músicas que acabaram compondo?

Max Oleartchik: Na verdade, fizemos dessa forma porque tínhamos mais ou menos 40 músicas que queríamos gravar. Adrianne tinha dito que ela sentia que as músicas se dividiam naturalmente em dois mundos – o reino celestial e o reino da lama – metade das músicas pareciam celestiais, e a outra metade parecia mais pé no chão. Então foi por isso que decidimos fazer os gêmeos (risos).

TMDQA!: Justamente, eu li que Two Hands era o irmão de terra do U.F.O.F. O quão similares e diferentes você diria que os dois discos são?

Max: Eu sinto que os dois discos são parecidos porque eles nasceram mais ou menos ao mesmo tempo, mas eles também foram muito diferentes na hora de fazê-los. U.F.O.F. foi gravado numa área de florestas e com muita chuva, e Two Hands foi gravado no calor da magia do deserto e eu sinto que consigo ouvir esses elementos nos discos.

TMDQA!: Tomando por base o single “Not”, eu diria que o disco novo tem um lado mais sujo e áspero, tal qual o deserto do Texas que estava cercando vocês. Essa foi uma escolha estética específica, depois de um disco tão bem trabalhado nos detalhes como o U.F.O.F.?

Max: Sim, totalmente. Two Hands foi gravado com uma estética mais crua, e nós definitivamente queríamos que ele fosse ao vivo, selvagem e até sujo (risos). Os dois discos são diferentes nesse sentido, mas ambos são bem parecidos pra mim também.

TMDQA!: Exato, vocês gravaram boa parte do Two Hands ao vivo. Pra mim, isso se traduz num som mais intenso e cru. O quão desafiador (e, imagino, gratificante) foi capturar essa energia de vocês no estúdio enquanto gravavam?

Max: Foi desafiador nesse sentido, mas também foi mais fácil. Ao deixar as coisas cruas, nós não tínhamos que pensar muito sobre o que podia ser acrescentado. Só tínhamos duas ou três tomadas e é isso, o que faz passar a sensação do ao vivo. Além disso, a gente geralmente tenta fazer o máximo de gravações ao vivo juntos, para que o som da nossa união possa ser captado.

TMDQA!: Quando U.F.O.F. saiu, alguns disseram que parecia Elliott Smith, outros compararam com Neil Young – o que não é nada mau, pelo menos na minha opinião! Você poderia contar pra gente o tipo de disco que estavam ouvindo e usando como inspiração enquanto trabalhavam no Two Hands?

Max: Ah, com certeza, essas são boas referências! Eu acho que nós estávamos todos ouvindo músicas diferentes naquela época. Na verdade, durante a feitura do disco em si, diria que não estávamos ouvindo nenhuma outra música que não fosse a nossa. Somos todos influenciados por artistas diferentes e, é claro, isso passa para as composições. Mas acho que outros fatores nos influenciam também, como o vento, a eletricidade, sentimentos que temos dentro e fora de nós, bons cafés, banhos ruins, o noticiário, coisas antigas, etc (risos). Eu pessoalmente sinto que tudo isso entra na música.

TMDQA!: Sei que vocês estão fazendo turnê a todo vapor, vários shows esgotados e tudo mais. Alguma chance de essa turnê vir parar aqui no Brasil em breve?

Max: Cem por cento sim! Nós queremos e estamos trabalhando pra isso!

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