Nirvana - Live And Loud

Em dezembro de 1993, o Nirvana estava no topo da música mundial. Mesmo cercado de polêmicas e às vezes juntando os próprios pedaços, a banda continuava a sua escalada visceral, em meios a guitarras distorcidas e a eterna confusão mental em que se encontrava o seu líder Kurt Cobain.

Após o Nirvana engolir o mundo em 1991 com Nevermind, naturalmente o sucessor In Utero jogou a banda novamente na estrada com shows disputados, alguns regulares, outros completamente enérgicos e históricos, como o Live and Loud, gravado pela MTV, em Seattle, em dezembro de 1993, poucos meses antes do falecimento de Kurt. Show esse apontado por muitos como o melhor da história da banda, liberado recentemente nos serviços de streaming e também no Youtube.

Na época, os canais de música eram as principais portas para termos acesso a imagens de shows como esse. Assim, nos armávamos de fitas VHS para gravar os programas e suas reprises para poder assistir repetidas vezes, além de ter e espalhar entre os amigos um verdadeiro tesouro. Era um apego diferente com a música desde a hora em que os primeiros segundos chegavam aos nossos olhos e ouvidos.

E hoje, 26 anos depois, com tudo a um clique de distância, temos bandas como o Nirvana lançando material na era do streaming, revisitando obras especiais e compartilhando tudo com todos, exatamente como fazíamos décadas atrás, com as devidas tecnologias da época.

Nirvana e o Mercado da Música

É evidente que o mercado não é o mesmo de 30 anos atrás, e às vezes ele nem é o mesmo da semana que acabou de passar. Não estamos falando de qualidade, pois o rock and roll nunca morreu, apesar do insistente ditado. Ele continua se reinventando todos os dias. Estamos falando do recebimento de conteúdo e suas consequências positivas e negativas.

As bandas de garagem ainda existem, ainda levantam a mesma bandeira que nomes como o Nirvana levantaram e ainda trazem um ideal em meio a notas e letras que questionam tudo e se transformam em artes nas mãos desses novos artistas.

Inegável é que as atuais bandas podem até ser rebatizadas de bandas de garagens para bandas de garagens (ou quartos) tecnológicas, pois várias delas pulam direto para a frente de um computador, com ferramentas avançadas e facilidades maiores que duas três décadas atrás.

Live and Loud nos conta muito desse paralelo entre as gerações dos anos 90 e dos dias atuais. Boa parte do público que já nasceu na internet e só consome música online nunca segurou um Vinil ou um CD, não teve o prazer de desenhar as próprias capas em fitas k7 e hoje recebem um material lapidado, um simples link com toda uma história, um tesouro único de um show como esse do Nirvana, que nesse dia parecia estar longe de todos os demônios que deram fim à vida de seu líder e encerraram precocemente a carreira do grupo.

O início do show com a sequência “Radio Friendly Unit Shifter”, “Drain You”, “Breed”, “Serve The Servants” e “Rape Me”, mostram muito do caminho que a banda trilhou de forma perfeita no grunge, aliando elementos do punk com guitarras pesadas, vocais rasgados e gritados, numa interação entre Kurt Cobain, Pat Smear, Dave Grohl e Krist Novoselic, que nem sempre era das mais fáceis, mas se completava de forma essencial na hora do show.

O grande hit mundial “Smells Like Teen Spirit” ficou de fora do repertório, o que não era novidade nos shows da turnê, abrindo espaço para pérolas como “Sliver”, “Blew”, “School” e “About A Girl”, do primeiro disco Bleach.

O Nevermind foi contemplado no show com “Drain You”, “Breed”, “Come As You Are” e “Lithium”. Ainda sobrou espaço para “The Man Who Sold The World”, de David Bowie e a barulhenta “Endless, Nameless”, encerrando o show.

Microfonias, cenário simples, cabos espalhados pelo chão do palco, público próximo, nada de parafernálias e volume no limite. O Nirvana continuava na essência de banda de garagem e seus integrantes continuavam como heróis para os anos 90. Era tudo muito simples, muito verdadeiro.

Se o seu primeiro contato com a banda está acontecendo agora, via streaming, aproveite todo o catálogo, sem preguiça de ouvir a discografia, como fazíamos tempos atrás em que a nossa atenção não era dividida a cada segundo com as redes sociais e não éramos acostumados (ou forçados) a pensar em 15 segundos e achar tudo que passe disso, um tédio.

Pra quem cultivou toda a obra na forma física e na época esperou ansiosamente pelos discos, é mais uma chance de matar as saudades e cair numa viagem nostálgica de como deixávamos a música fazer parte das nossas estradas.

Não existe época melhor ou pior para se fazer rock and roll. Sempre algum moleque vai desafiar o mundo inteiro com a sua guitarra, e hoje em dia, alguns com guitarras e softwares que permitem lançar um disco em horas e jogar na nuvem.

A essência permanecerá e esse encontro das gerações, em algum elo perdido, nos serve para tentar fazer com que aqueles que vem de décadas atrás se aventurarem um pouco nas novidades e quem é contemporâneo entender por que alguns ídolos tem lugares inabaláveis no Olimpo da música.

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