“Que beleza é conhecer o desencanto e ver tudo bem mais claro no escuro”, um lema entoado na voz de Tim Maia tornou-se o significado mais visceral para os brasilienses da banda Breu. 

Com o foco em renovar a essência da banda, a primeira coisa a ser feita foi mudar o nome, deixar mais acessível, mesmo que a ideia tenha surgido de uma mesa de bar. Antes conhecida como MDNGHT MDNGHT, inclusive um dos nomes que compuseram o line-up do Festival TMDQA! em 2017, o quarteto assume uma forma de renovação. E Breu foi um ótimo ponto de partida.

Formada por Henrique Cintra ‘Bepo’ (vocalista e tecladista), Maurício Barcelos
‘Malms’ (baixista), Henrique Rodrigues ‘Biu’ (guitarrista) e Anderson Freitas (baterista), a banda por fim traz ao mundo o disco Ideia Errada. 

Com 11 faixas que nasceram de inúmeras jam sessions feitas no estúdio, o trabalho de estreia conta com a produção de André Zinelli e Diego Poloni, que também assina a mixagem e masterização.

O título Ideia Errada se define como um jeito leve de retratar escolhas erradas na vida e que fazem recalcular toda uma rota, ou apenas uma expressão usada frequentemente entre os integrantes. Depois de levaram um bom tempo compondo as canções, as letras podem ser interpretadas como desdobramentos dessas tais decisões, seja abordando sobre perdão, culpa, ou também sobre superação e leveza.

Em um faixa-a-faixa exclusivo para o TMDQA!, Malms, Biu e Anderson trouxeram a vontade de falar algo que fosse útil para quem escuta o disco de forma honesta, sem rótulos e vários “flertes”. Confira e divirta-se:

“Voar de Novo”

Biu: Quisemos fazer de uma forma que fosse a redenção, sabe? Já que o disco tem um conceito entre o fundo do poço e a salvação, e “Voar de Novo” tem essa última perspectiva.

Anderson: O aspecto interessante nela é que, na hora em que estávamos decidindo qual seria o primeiro single, percebemos que ela faz a ponte entre MDNGHT e Breu, em termos de arranjo. Ela [a música] é a única que traz elementos de octapad, que usávamos muito antes, e tem naquela bateria do início, tem um pouco da vibe que a gente tinha. Começa meio MDNGHT, aí quando entra a batera e tudo mais, ela já tem a cara da Breu.

“Sucata”

Biu: Uma das coisas interessantes sobre ela é a estrutura, já que ela foi uma das últimas músicas que compomos. Você vê que ‘Sucata’ tem uma estrutura super simples, tipo A-B-A. Ela começa de um jeito, depois a gente muda pra um outro clima, e aí voltamos pro início, com um clima já proposto. E ela também é mais curta, até porque já têm músicas de 10 minutos, super extensas, e ela foi do jeito que a gente quis. Além disso, é também muito dançante e bem tranquila.

Anderson: E ela veio de uma ‘jamzinha’ que a gente fez, já tínhamos composto quase tudo. Ficamos tocando em círculos, e de repente a gente percebeu que aquilo fazia sentido, veio muito fácil. Quanto a letra, o Bepo veio com “leitinho na mamadeira” na primeira vez que ele abriu a boca. Aí todo mundo ficou questionando, já que a gente tava levando algo pra um lugar onde não fomos, em termos de linguagem.

E o bom dessa música é que foi muito determinante pra assumir muito a linguagem proposta no disco. E “leitinho na mamadeira” foi um ponto que conversamos muito, porque quando você coloca esse tipo de coisa numa letra, é abrir uma prerrogativa pra várias outras questões de linguagem, seja coloquial ou de falar as coisas de outra maneira, sem ser pedante. E foi bem disruptivo assim que o Bepo cantou isso. 

“Cada um Faz o Que Quer”

Biu: Então, basicamente é um interlúdio instrumental com um nome auto-explicativo. O conceito foi bem despretensioso, e depois que a gente decidiu batizá-la com esse nome, se tornou um lema de vida mesmo, um mantra. E a história de como ela surgiu é ótima: tem um amigão lá do Rio de Janeiro, o Alexandre Pousa, e depois que viramos amigos, ele abrigou a gente na casa dele, até meteu um churrasco. 

Malms: Nesse rolê, ele contou uma história, em que tava rolando uma festa na casa dele, em Petrópolis, e um cara meteu o perdido e foi dormir. E o restante da galera ficou jogando a bola na janela do quarto onde esse cara tava, aí ele acordou pistola e gritou: “CADA UM FAZ O QUE QUER!”, fechou a janela e voltou a dormir. Desde então essa frase ficou! E a música é isso: sonoramente, tá cada um tocando uma nota que não combina com a outra. Só o tempo que tá certo, de resto é cada um fazendo o que quer. 

“Gaiola”

Biu: Ela funciona como a balada do disco, é a mais tranquila, já que tem muita fritação. Quanto à letra, é bem óbvio que fala sobre perdão. E quisemos fazer uma parada mais calma, pra refletir. Ela quase foi intitulada “Sonho Ruim”, mas ela já é muito triste pra se chamar assim. A ideia era mesmo ser bem low, e no final rola até uma “rave triste”. 

“Mano do Céu”

Biu: Ela se chamava ‘Clarear’, mas acabou que ficou obsoleta, por ser um pouco prevísivel, principalmente nos riffs da guitarra. E ‘Mano do Céu’ surgiu principalmente por causa do abandono da guitarra base, que passamos pro teclado. 

Anderson: Sem contar que ela nem ia entrar no disco, e numa jam, o Bepo percebeu que isso funcionaria na até então ‘Clarear’. E o nome foi bem ideia errada também, bem tortuoso, porque a música se chamava ‘Cair do céu’, e o Diego [Poloni] achava que era ‘Mano do Céu’. Aí virou o que é hoje.

“Nó/Intro” e “Nó”

Biu: Ela era ‘Saravá’, os produtores mexeram pra caramba nela, até tocamos em show, de uma forma repaginada. A intro dela é uma versão ao vivo que a gente tocou no Rio de Janeiro, na Audio Rebel, ainda com a versão antiga. 

Malms: E a gente fez a letra dela assistindo o documentário Zeitgeist, e foi tudo muito frito. A princípio, antes de compor junto com o Anderson, tínhamos a proposta de ser progressivo, usar o conceito de teorias da conspiração nas letras, só que a gente abandonou isso, e o Anderson conseguiu transformar a letra de ‘Nó’.

Anderson: Pois é, ela ia muito nessa vibe, só que a nova letra traz um senso de auto-análise, porque antes era mais na terceira pessoa. A crítica tem a ver com várias temáticas sociais, mas é sempre girando em torno do self mesmo. 

“Borboleta Azul”

Malms: Ela ainda surgiu quando queríamos que o disco fosse focado no rock progressivo, mas ela tem muito do Guilherme Arantes, que a gente gosta. Esse clima de jogar dominó na praça num domingo a tarde, sabe? E ela é massa musicalmente, porque tem um lado técnico bem explorado e depois o “tecladinho de redenção” do Bepo no final.

Anderson: O final é super gospel, né? Tem um solo industrial, muito igreja! (risos)

“Sucata II”

Biu: Outro interlúdio instrumental, bem curto e é meio que um “vale-dança”. Inclusive eu gosto desse conceito de interlúdios, porque incorpora uma viagem e ela cabe super bem nisso.

Anderson: E o mais interessante é que ela também surgiu de uma jam, assim como grande parte do disco. 

Malms: E ela era uma jam junto com a ‘Sucata’, só que ela já tava pronta. E como a gente não queria abandonar o riff de ‘Sucata II’, a gente teve a ideia de colocar a música em duas partes no disco. E como ela ficou bem dançante, até mais que a primeira parte, a gente não quis deixar de lado. 

“Tabuada”

Biu: Então, ela tem a mesma estrutura de ‘Sucata’, A-B-A. Essa ficou pro final, e queríamos descomplicar, não é à toa que eu toco o baixo nela, o que é claro que dá pra ver a diferença entre eu e o Maurício tocando. 

Malms: Isso que foi foi massa, da gente querer ousar e tocar os instrumentos do outro. Óbvio que não tinha como ficar no lugar do Anderson na bateria, mas ficou um resultado bem legal. E ao vivo o Biu não toca o meu baixo, ele faz um oitavador na guitarra que fica com um som bem melhor, fazendo o papel de baixo.

E eu uso um teremim na intro, e depois eu faço a base da música com acorde de pad, tudo isso no sintetizador. E quando chega no solo, o Bepo faz som de baixo no sintetizador dele. Então, tem os “baixos” do Bepo e do Bio, mas não tem o meu. E sem querer acaba sendo legal porque mostra uma estrutura de como é uma música que tirando todos os elementos “de conforto”. 

Biu: Ela é bem mais descompromissada, porque a princípio era pra ser instrumental, mas como já tinha os interlúdios e ‘Parquinho’, a gente preferiu dar uma letra pra ‘Tabuada’. Você vê que ela é bem menos pretensiosa e mais coloquial que Borboleta Azul, por exemplo. E acabou que foi daí que surgiu o nome do disco, e que ficou massa. E resume toda a premissa do disco: “É preciso dar as costas para todo role que atrai ideia errada, e não vou pro inferno por não decorar a tabuada inteira”.

Malms: É uma analogia por você se tornar adulto, só que de uma maneira mais leve, sem precisar estar em constante recuperação. Então, ‘Tabuada’ sintetiza muito a culpa da vida adulta. 

Anderson: E musicalmente, o legal dela é que tem mais groove, é menos sentimental. Sinto que tem a ver com o nome, tem algo mais exato. As notas envolvidas te deixam num groove mais reto e mais concisão. 

“Parquinho 209/210”

Biu: Bem, ‘Parquinho’ é a lombra do disco. É quase um EP no final! (risos) O mais engraçado é que isso seria o nome da banda, antes de ser Breu. E o mais louco é que trabalhamos por sete meses, e quase foram dois instrumentais, ‘Lelê 1’ e ‘Lelê 2’. E na parte do trenzinho, parece aquela cantiga “Sambalelê”, e o nome veio daí. E a gente juntou tudo. É o ápice da Ideia Errada, porque tudo ali é diversão. 

Anderson: A resposta simbólica da razão em ser ‘Parquinho 209/210’ é por ser o coração do disco, um compiladaço de tudo, é onde a gente se diverte, fazendo música. E ainda não repete estrutura alguma no decorrer dela. O nome surgiu porque, quando a gente tava compondo essa música, a gente se encontrava nos parquinhos da 209 e da 210 Norte, próximos aos estúdios que ensaiávamos, pra juntar as ideias. 

Malms: Eu lembro que a gente levava o quadro branco pra montar a estrutura. E era uma coisa doida, além de ter mais de dez partes, não era organizado como parte A, B, etc… era tipo “aqui é a parte do ventilador, ali o helicóptero”, e a gente desenhava no quadro. E é engraçado, porque como era pra ser Lelê 1 e 2. Na 1, ela tá num tom triste, com ré sustenido menor, quando entra a parte 2, fica feliz e o ré sustenido fica maior. Analogicamente, o 209 é a parte triste e o 210 é a parte feliz. 

Show de Lançamento

Ao escutar o disco, é possível perceber como o grupo buscou ir burilando suas canções com cuidado. No show de lançamento, que aconteceu no último sábado (20), foi a prova que o mesmo mesmo cuidado vale ao vivo, onde as canções funcionam de forma linear e tão orgânicas quanto ao que é proposto em estúdio. A Cervejaria Criolina, em Brasília, foi cenário disso e uma boa amostra do que aconteceu você pode ver na galeria abaixo, com fotos de Jimmy Carreiro.

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