Di Ferrero
Foto: Divulgação

Chega de achar que um artista deve fazer apenas um tipo de música!

Artistas são seres humanos normais, também submetidos a mudanças. E suas influências também mudam ao longo da carreira. Estranho, na verdade, seria se determinado compositor focasse sua música em uma única temática ou sonoridade pelo resto da vida. Precisamos entender isso.

Lembra de quando o Linkin Park sentiu que era a hora de assumir uma nova postura sonora, e nos surpreendeu com o lançamento da faixa “Heavy”? Ou quando Criolo se entregou a uma sonoridade distinta (mas com a qual já flertava antes) no disco Espiral de Ilusão? Ou mesmo quando o Paramore se adaptou e, mesmo assim, fez de After Laughter um dos melhores discos do ano? Pois bem, mais do que interesses comerciais, a palavra-chave é momento.

Entrando nesse time de artistas que se arriscaram com fãs e com a própria carreira, está Di Ferrero. Conhecido nacionalmente como vocalista da banda NX Zero, Di lançou singles ao longo dos últimos dois anos voltados a diferentes sonoridades.

Hoje (19), ele disponibilizou o primeiro EP de sua carreira solo, através da Universal Music. Intitulado Sinais, trata-se da primeira parte de dois lançamentos em formato de EP e que, juntos, formarão o aguardado disco de estreia do cantor.

 

“Hoje, fica muito mais claro para mim o caminho de som que eu quero seguir”

Di, além do rótulo pop rock/emo que atribuíamos a ele ao longo dos anos de NX Zero, é um músico muito versátil. Podemos ver isso com ele dialogando com os mais diversos públicos mesmo antes de pensar em fazer uma carreira solo.

Na parte final dos anos 2000, vimos Di colaborar com alguns artistas, como aconteceu com Túlio Dek e com Nelly Furtado (em um dueto para o hit “All Good Thing (Come To An End)”. Pois bem, o hiato de sua banda foi o start que o vocalista precisou para ter a ideia de investir em uma carreira solo. Era hora de mostrar para o público um outro lado.

O EP, que conta com referências pop que vão desde a música eletrônica até o reggaeton, é um retrato, justamente, do momento que Di vive atualmente. Para ele, faz muito mais sentido hoje compor canções mais solares do que melancólicas. O importante, no entanto, ele está fazendo, que é ser sincero.

De resto, a equipe que o ajuda nessa nova fase entendeu a proposta e soube bem o que fazer em cima das composições, originalmente feitas no violão. A produção do álbum contou com nomes que vão desde o duo eletrônico Tropkillaz até Gee Rocha, guitarrista do NX Zero.

Mas quem sabe falar melhor sobre o assunto é o próprio Di. Por telefone, o cantor nos contou sobre a nova fase e sobre como chegou nela, tal como sobre as influências e, claro, sobre entender os “sinais” dados pela vida.

Confira abaixo:

Capa de "Sinais" (Di Ferrero)
Foto: Divulgação

TMDQA!: Apesar dos singles lançados ao longo dos últimos dois anos, é em Sinais que vemos o seu primeiro lançamento que compila várias músicas. Como está a ansiedade em relação ao EP? Como espera a reação do público?

Di Ferrero: Eu estou bem confiante comigo mesmo. Depois que eu lancei o meu primeiro single, eu não sabia como ia ser a reação do público, mas eu sabia que gostava daquele som que eu estava lançando e isso me deu conforto. Quando vi que a galera curtiu e que não teve aquilo de ser refém de algo do passado, eu fiquei mais tranquilo. Hoje, fica muito mais claro para mim o caminho de som que eu quero seguir. Eu estou ansioso, mas é uma boa ansiedade.

TMDQA!: Nenhum dos singles anteriores entraram no CD. Existe o plano de aproveitá-las melhor em algum momento da trajetória do novo álbum, ou foram apenas pitadas do que estava por vir?

Di: Nada impede que eu use essas canções no futuro, para um acústico ou algum álbum ao vivo. Com certeza elas estariam no repertório. Um acústico, por sinal, seria incrível!

TMDQA!: Uma das primeiras vezes que você assinou seu nome, como artista convidado, foi em “Tudo Passa”, uma parceria de 2008 com Túlio Dek. Aquela sonoridade já era uma experiência um pouco fora da realidade do NX Zero, e te ajudou a ser visto como um artista mais versátil, capaz de conversar com um público mais amplo. Aquele momento, de alguma forma, ajudou você a desenvolver a vontade de uma carreira solo? Despertou em você esse desejo ou você já tinha planos disso antes?

Di: Faz tempo, hein (risos)! Mas na verdade aquilo não tinha me despertado nada na época. Para ser bem sincero, eu não tinha nenhuma vontade de uma carreira solo. Quando o NX deu a pausa, eu nem sabia o que eu ia fazer. A primeira ideia que eu tive foi fazer um esquema “Tiago Iorc”, de sumir para focar em outras coisas. Cheguei até a ver passagens para ir para a Austrália.

Com calma, comecei a compor. Rolou até um alter ego, José, que é o meu nome do meio. Foram dez músicas e cheguei a gravar um clipe no Japão. No disco tem Emicida, Mahmundi, Rael, Paulo Miklos e mais uma galera. Mas isso acabou não fazendo mais sentido para mim. Foi assim até chegar em “Sentença”. Foi quando eu decidi fazer o meu nome, mostrar quem é o Di. Eu me permiti fazer muitas coisas. Não foi exatamente naquela época que me deu vontade de fazer algo sozinho, mas eu sempre gosto de fazer algo diferente. Sou geminiano também (risos). Essa coisa de carreira solo, de usar meu nome, é recente, de um ano e meio para cá mesmo.

TMDQA!: Quando um artista sai de sua zona de conforto, nós conseguimos enxergar a sua pluralidade. Qual a sua visão sobre isso?

Di: Eu sempre acho que a gente está aqui para viver uma experiência. Não existe certo ou errado. A ideia é, principalmente, não virar refém de algo que a gente já falou ou já fez e usar isso como um jeito de se acomodar para não tentar algo novo. Algo novo é a gasolina para mim, é o que me movimenta, o que me deixa vivo. Na música, eu posso ir para um monte de lugar. Explorando esse meu novo momento, eu vi várias coisas que sou tranquilamente capaz de fazer se eu me dedicar. Eu gosto muito de som no geral. Nunca fui muito de rótulos, e agora estou usando isso ao meu favor.

Acho que o que mais me chama atenção nos artistas é justamente esses outros lados e a sinceridade deles. Não que a pessoa não possa fazer a mesma coisa a vida inteira. Ela pode, não por comodismo, mas saberemos se aquilo for a verdade. Você fazer o que ama de verdade é chave para o sucesso, basta ter esforço e bater o pé para defender o que você é. Quando o cara consegue ir para outros caminhos, você enxerga que aquilo é o tesão dele no momento. É o meu caso: eu estou em uma fase mais feliz como artista. É uma coisa de empolgar as pessoas, de elas ouvirem e entenderem que é uma coisa nova.

TMDQA!: Vimos isso nos lançamentos mais recentes do Criolo e da Clarice Falcão, por exemplo. Todos estamos submetidos à mudanças.

Di: A questão é conseguir se expressar no momento. Por exemplo: mais para trás, eu só conseguia fazer músicas quando eu estava precisando soltar algum sentimento de uma forma até terapêutica, mais densa e intimista. Quando eu estava bem, eu ia fazer outras coisas, ia para praia, ia curtir… Não ia fazer música. Agora eu estou conseguindo, até preferindo, fazer música nas horas em que eu estou bem. Por isso que as canções são tão “para cima”, e isso me dá confiança para fazer outras coisas também. Antigamente, não era assim. Eu precisava sofrer para fazer um som. Desde “Sentença” para cá, no entanto, é um outro caminho. É bem legal.

TMDQA!: É nutritivo e benéfico em todos os sentidos. 

Di: A gente não pode se apegar somente ao que está rolando e achar que isso é o que vai fazer dar certou ou não. O certo é o que a gente está sentindo, a intuição. Remetendo ao nome do álbum, é um sinal de que você está no caminho.

“Eu não posso me perder do que eu sou, mas posso usar tudo isso a meu favor”

TMDQA!: Quais foram as suas principais referências nas composições? Algum artista em específico da cena atual, ou mesmo alguma referência mais antiga, serviu de base para esse seu novo momento?

Di: Tem várias coisas! Eu escuto de tudo. Primeiramente, os produtores todos, incluindo o Gee (Rocha) já tiveram banda e sabem o caminho que eu gosto, de começar a música no violão e de toda essa coisa orgânica. Eu tenho ouvido não apenas para fazer o álbum, mas de forma geral também, artistas como Frank Ocean, Bomba Estereo, Khalid, Incubus, Mahmundi, Daft Punk, Pharrell Williams, The Neighbourhood… Sem falar nas músicas que cantei no “Show dos Famosos”, nas quais em entrava profundamente durante dias. Ah, e eu amo os anos 90, desde a cena grunge até The Fugees.

Eu não posso me perder do que eu sou, mas posso usar tudo isso a meu favor. Apesar de ser fã de música, eu tenho que entender o que está dentro de mim. Eu tenho essa parada dos sentimentos, do meu jeito poético que eu sinto desde o começo e sei que isso é a minha verdade. É claro que vou fazer tudo o que puder de diferente, mas dentro da minha essência.

TMDQA!: Como foi recrutar o time de parceiros que ajudaram na composição do disco? Tem o Gee Rocha, que trabalhou com você na época do NX Zero, mas também contou com os meninos do Tropkillaz, sem falar que, de certa forma, Elba Ramalho e Lulu Santos também te ajudaram.

Di: As coisas vão acontecendo de um jeito muito doido! Toda essa galera, como já falei, já tiveram essa fase de banda, essa coisa orgânica. Eu gosto de fazer música assim. “Outra Dose”, por exemplo, tem uma vibe mais latina e foi produzida pelo pessoal da Cine. Eles lembram daquela cena lá de trás, então a gente levou ela do violão para o estúdio.

Essa que eu fiz com a Elba (Ramalho), foi com o pessoal do Hitmaker, que é do Rio. Eles fazem um som bem pop, mas estão ligados na minha história com o NX e no que eu quero de novo. A ideia surgiu no meio de uma das apresentações do “Show Dos Famosos”, quando estava interpretando Alceu Valença. Eu fui no estúdio encontrar os caras para fazer som, como uma roda de violão. Era uma casa e eu adorei o ambiente. Foram eles que me falaram que era a casa da Elba. De repente, ela aparece para conversar comigo, porque ela soube que eu estava lá. Trocamos muitas ideias. Conversamos sobre a vida e sobre ufologia, já que eu sou viciado nisso. Falamos sobre disco voador, sobre física quântica… Depois, saiu um som, que é justamente a faixa “Viver Bem”, que abre o disco.

A que o Lulu (Santos) deu o nome foi “Seus Sinais”. Eu não estava feliz com o nome, que até então era “O Sol Não Saiu Mais”. Era um nome meio “down”, meio triste. E a música, apesar de ser uma baladinha, ela é pra cima e tem uma letra boa e um final feliz. Eu estava subindo para gravar o programa SóTocaTop, e o Lulu notou minha angústia. Eu desabafei para ele e pus a música para ele ouvir. Ele falou “Claro que é ‘Seus Sinais’”. Eu olhei para ele e pensei “Fechou”. Troquei o nome da música, e acabou virando o nome do álbum também. A ideia é essa: estar sempre ligado nos sinais.

TMDQA!: O álbum vai ser fechado com a parte 2 de Sinais, completando o álbum. Pode nos adiantar alguma coisa sobre as músicas que faltam?

Di: As músicas novas estão a caminho. São os mesmos produtores, porque tem o começo, o meio e o fim de uma história. Só que vão ter três “feats”.

TMDQA!: Como você avalia a sua evolução enquanto artista desde o início da sua carreira até os dias de hoje?

Di: Nossa, já passei por muita coisa. Eu comecei cantando quando era bem moleque, com uns sete anos na Igreja. Desde essa época até hoje, eu já fiz de tudo. Gravei clipe com uns 10 anos. Meu primeiro show foi no Maracanãzinho com uns 8 anos, lotado e com o congresso da Igreja. Eu sinto que hoje sou um cara mais confiante, que sabe o que quer. Eu não gosto de ficar rodando lâmpada para chegar no mesmo lugar. Eu me permito fazer as coisas sem me rotular e sem ficar preso a nada que já fiz. Eu quero sempre olhar para frente.

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