(foto: Stephanie Hahne)

Com tradução de Daniel Pandeló Corrêa

A expectativa era alta, mas eles não sentiram a pressão. Como imaginávamos, o FEVER 333 fez um dos melhores shows do Lollapalooza Brasil 2019. O trio de post-hardcore, formado em 2017 na Califórnia, entregou uma performance brutal e cheia de energia que deixou o público do festival, ainda no meio da tarde, gritando o nome da banda.

Eles surgiram como um “supergrupo”, trazendo Jason Aalon Butler, ex-vocalista do letlive, Stephen Harrison, ex-guitarrista do The Chariot, e o baterista Aric Improta, do Night Verses. Em 2018 veio o primeiro EP, Made an America, e no início de 2019 eles disponibilizaram o primeiro disco cheio, Strength In Numb333rs.

Misturando rap e punk, o Fever 333 tem caído nas graças de roqueiros pelo mundo todo, e na passagem pelo Brasil, recebeu o TMDQA! no camarim do Lolla para falar um pouco sobre essa merecida ascensão aos holofotes.

Confira a transcrição desse papo abaixo, ou o áudio original no nosso podcast no fim do post, junto com outras seis entrevistas com alguns dos maiores artistas do festival. Você pode seguir o Podcast Tenho Mais Discos Que Amigos! no Instagram e Spotify.

TMDQA! entrevista Fever 333 no Lollapalooza

(foto: Stephanie Hahne)

TMDQA!: Obrigado por receberam a gente! Vocês têm essa energia forte no palco, quase como uma raiva. E o público também responde de forma bastante barulhenta. Muita gente gritou o nome da banda em vários momentos do show, algo que é surpreendente para uma primeira passagem por aqui. Parece que vocês estão confortáveis pra se apresentar pro público brasileiro. Vocês se sentem mesmo à vontade nos palcos pelo mundo todo? E o que estão achando da passagem pela América Latina?

FEVER 333: Você tem que se sentir bem para fazer o que a gente faz no palco. Nós tentamos expressar a nossa verdade e isso é algo que pode te deixar vulnerável. Nem sempre a sua verdade e a sua perspectiva é igual à da maioria das pessoas. Nós tentamos nos sentir bem com o que acreditamos e como realizamos isso, pois cuidamos para deixar que todo mundo acredite e faça o que quiser. Não estamos aqui para ensinar ou doutrinar ninguém. Tem um sentido de poder e força em falar a sua verdade, e nós tentamos deixar claro que representamos bem nossas crenças.

TMDQA!: Todos os integrantes do Fever têm um passado muito interessante na música. A banda se juntou depois de passagens de vocês por grupos como Letlive, Clariot e Night Verses. Em 2017, quando o Fever se formou, vocês deram uma entrevista dizendo que essa banda seria a união de tudo que vocês amam, e que ‘todas as pessoas cansadas, frustradas e corajosas’ poderiam se juntar a vocês. Como foi esse encontro de vocês no mesmo momento da vida, com os mesmos desejos para o futuro? E essa ainda é a mentalidade do grupo?

FEVER: Sim, acho que esse é o modo como esse projeto vai se manter e se sustentar. Temos que continuar acreditando no que nos fez começar. E também entender que não foi por algo que já estava acontecendo. Tentamos oferecer ajuda para quem estava em movimento. Nessa frase que você citou, eu estava falando da frustração que sentia, não só nos outros, mas em mim. Política, social e emocionalmente. Então, com isso sendo a fundação da banda é algo que sempre estará no nosso DNA. É o que somos. Somos pessoas progressistas e isso é algo que não vai mudar.

TMDQA!: O som que vocês fazem é muito ligado ao punk e ao hip hop. Recentemente, inclusive, vocês trabalharam com o Travis Barker, do blink-182. Não à toa, sua música tem sido comparada a bandas como Rage Against the Machine e Linkin Park, que causam nostalgia pra todo mundo, já que não estão mais em atividade. Vocês sentem que ficou um ‘vazio’ nesse cenário de bandas com um recado mais político e agressivo a transmitir? Esse é um espaço que vocês querem mesmo preencher?

FEVER: Creio que sim. Talvez essa indignação não seja o motivo pelo qual todos fazem música, mas foi algo importante nós. A gente começa pensando num assunto, no que queremos ouvir, que mensagem fará sentido, e aí dialoga endemicamente com a música de bandas como o Rage Against the Machine e Linkin Park, essa música guiada por guitarras com uma mescla de estilos. Nós amamos punk, hip hop e rap. Quando começamos a banda, falamos com John Feldmann e Travis Barker sobre o que ouvíamos e como queríamos evoluir a partir disso. Eu não penso muito no Linkin Park, mas acho que foi algo que virou algo muito influente nesse estilo de música. Eu acho que se você não está achando algo que você quer, você tem que fazer. E fazemos as músicas que queremos ouvir.

TMDQA!: Eu sei que vocês são bem atentos à política mundial e procuram entender as questões locais de cada país que visitam, então vou fazer uma pergunta relacionada a isso. Há um tempo, os brasileiros podiam ‘dar risada’ dos absurdos que Donald Trump tem feito nos Estados Unidos. Hoje, não podemos mais, porque também temos um presidente que usa as redes sociais pra disseminar ódio e notícias falsas sempre que pode. Vocês também veem similaridades entre a situação cultural e política dos dois países?

FEVER: Absolutamente. Frustração é uma linguagem universal e é o que você vê em todos os lugares. Você pode falar sobre isso. Acho que isso é algo importante: como o punk se consolidou por todo o mundo. Você pode encontrar em diferentes culturas que estão compartilhando o mesmo período, o mesmo sentimento de grande frustração. Num sentido mais macro, a consciência coletiva americana e o clima dialoga com o Brasil e podemos falar a mesma linguagem da frustração. É difícil entender como as pessoas que lideram o país, que deveriam cuidar dos cidadãos e culturas, e não conseguem fazer isso. Tem um trabalho importante de lidar com tantos problemas e o caminho escolhido é o oposto. É naturalmente decepcionante. Estar aqui e sentir como nos sentimos, ouvir as pessoas cantarem e se expressarem é um dos motivos para estamos aqui, para oferecer uma plataforma civilizada para esse desabafo.

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