De Staat
Foto: Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

A banda De Staat te põe pra dançar no seu mais novo disco de estúdio, Bubble Gum.

Assumindo um lado pop ainda mais palpável nesse trabalho, o grupo holandês celebra o seu ponto forte: não se encaixar em categorizações simplistas. Estourando a bolha ao mesmo tempo em que cantam sobre ela — aquela das demandas e expectativas da vida moderna — Torre Florim, Vedran Mircetic, Jop van Summeren, Rocco Hueting e Tim van Delft dão mais um passo na carreira em direção à versatilidade.

Seria simples (e até compreensível) repetir o que deu certo em “Witch Doctor”, por exemplo, sua faixa mais expressiva nos serviços de streaming e dona de um clipe premiado. Não seria difícil manter a etiqueta genérica de “rock alternativo”, mas o quinteto quis ir além, em busca de um som que representasse suas influências múltiplas, desde Talking Heads, Rihanna e Nine Inch Nails até Radiohead, Michael Jackson, Run-DMC, Soulwax e Muse, banda que acompanharam em turnê. Comandados pelas composições do vocalista e guitarrista Torre Florim, eles passaram dois anos compondo e gravando o que viria a ser Bubble Gum.

O quinto álbum trouxe uma dose extra de sintetizadores, efeitos, melodias que não saem da cabeça entremeadas por batidas pungentes, guitarra e baixo marcantes. “Electroclash” se encontra com dance punk e synthpop, ampliando o leque de possibilidades de uma banda que visa a se libertar do trabalho anterior – O, de 2016.

Isso é o que conta Florim em um bate-papo exclusivo com o TMDQA!. Ele fala do processo criativo, de uma possível vinda ao Brasil e muito mais. Confira a entrevista completa abaixo do disco!

TMDQA!: Bubble Gum é seu quinto disco de estúdio, e à essa altura vocês já passaram por diferentes fases na vida de uma banda. Como vê esse novo álbum em termos do que ele acrescenta à sua história? Quando olharem para a sua discografia daqui a alguns anos, o que acha que vai fazer esse trabalho se destacar?

Torre Florim: Uau. Essa é uma pergunta difícil de se responder. Quando acabamos de gravar um disco, eu ainda levo um tempo para entender exatamente o que nós criamos. Quando se trabalha em algo ao longo de dois anos, a uma certa altura, se perde um pouco da perspectiva. Não dá pra ver a floresta pelas árvores. Você já ouviu aquilo um milhão de vezes e ficou mexendo em pequenos detalhes por dias a fio. Às vezes eu nem sei mais se algo é bom ou ruim. Isso pode mudar a cada dia. Então a única forma é seguir meus instintos, terminar e mixar o álbum com base no que eu sentia quando escrevi as músicas. Então vai levar um tempo até sabermos o que esse álbum significa no contexto geral do De Staat. Estamos tocando as novas músicas ao vivo pela primeira vez, e isso também dá às faixas uma perspectiva mais aprofundada, uma dimensão extra, por assim dizer. O disco nasceu, mas ainda precisa viver um pouco nas casas de shows e festivais para vermos o que é de verdade. Sinto que esse álbum é muito sobre o ‘agora’. O tema de estar numa bolha parece ser muito atual. E musicalmente falando, acho que agora estamos chegando num ponto em que temos um som muito reconhecível, como deveria ser quando se chega no quinto disco (risos). Então se você me pergunta agora, eu diria que o Bubble Gum apenas existe. Mas se me perguntar novamente em um ano, talvez eu tenha uma resposta melhor pra você.

TMDQA!: O Bubble Gum pode ser muito agitado, pop e divertido, mas também fala dessa bolha em que vivemos. Vocês tocam em assuntos sérios – vem em mente, por exemplo, a eleição presidencial americana – ao mesmo tempo que assumem seus refrães chiclete ou letras irreverentes (sim, estou falando de Pikachu!). Então, como boa parte dos bons álbuns, esse tem muitos lados. Como vocês fizeram para equilibrar a tracklist de modo que ela mostrasse a versatilidade da banda?

Florim: Em geral, quando começo um disco novo, eu apenas inicio fazendo batidas e demos. Se há algo que se destaca, eu levo para a banda, e começamos a ensaiar aquilo e a gravar os ensaios. Depois de um tempo, quando temos mais ou menos cinco músicas, eu começo a notar um padrão, um tema, um conceito. Com Bubble Gum, boa parte dele foi comandado pelas batidas, penso. Mas após gravar cerca de seis canções, eu começo a fazer novas demos, porém de forma mais específica: se tivermos muitas músicas pra cima, eu foco em fazer algumas mais pra baixo. Se a maioria das músicas são faixas direto ao ponto, eu começaria a trabalhar em músicas mais longas e psicodélicas, por exemplo. Pra mim, é muito importante que cada canção tenha uma identidade perceptível e própria, mas que também encaixe na identidade do álbum. Há tantas bandas com discos onde é difícil diferenciar uma música da outra. E com algumas bandas é difícil diferenciar um disco do outro. E tudo bem, mas nós gostamos de fazer um álbum que pareça uma ótima mixtape. Super versátil, mas ao mesmo tempo uma combinação de faixas que foi muito bem pensada. Tipo o Greatest Hits do Queen, sabe o que quero dizer?

TMDQA!: É bem notório o quão criativos vocês são com seus clipes – não importa o quão “simples” (tipo “Get It Together”) ou impressionantes (como “Witch Doctor”) eles sejam. Qual é a importância dos clipes para dar aos fãs a história completa que vocês estão tentando contar em um disco? Há outros vídeos programados para promover Bubble Gum?

Florim: Obrigado! Sim, eu simplesmente amo fazer clipes. Vejo como uma parte essencial do De Staat. Se pudesse, faria um clipe para cada música. E sim, se você faz um bom vídeo, pode deixar uma canção muito mais poderosa, ou dar a ela uma camada extra. Acho que com “Witch Doctor”, especialmente, o clipe deixou a música duas vezes melhor. Antes de o vídeo ser lançado, por algum motivo, “Witch Doctor” não chamou muita atenção. Mas quando lançamos o clipe, as pessoas entenderam a música e o que ela deveria provocar. Quando estou trabalhando em uma faixa nova, eu automaticamente tenho um clipe em mente. Não sei porque, mas é assim que a minha cabeça funciona. E pra mim, ser artista não é só fazer canções e tocá-las ao vivo: eu gosto de cada aspecto de se estar em uma banda. E a parte visual é tão importante pra mim quanto o restante. Infelizmente, fazer clipe é bem mais caro que fazer músicas (risos). Até o momento, fizemos três vídeos para Bubble Gum, com “Kitty Kitty” sendo um bem grande. Espero que a gente consiga fazer pelo menos mais três, então fiquem de olho.

TMDQA!: Falando em “Witch Doctor”, a música e o clipe foram bem sucedidos e abriram novas portas para a banda. Mas vocês não queriam fazer mais do mesmo, então seguiram mudando, adicionando novos elementos à sua música. Como fazem para ir de um disco ao outro, buscando algo novo e fresco, mas sem abrir mão da essência do De Staat, do que fez de vocês o que são até aqui?

Florim: Acho que muito da nossa evolução foi automática. Quando se faz muitos shows, você fica entediado com seu último álbum. Então o que acontece, na maior parte do tempo, é que o seu novo disco acaba sendo uma reação ao último. Vamos só não fazer o mesmo que fizemos da última vez. E estamos sempre buscando novos sons naturalmente, de qualquer forma: novos plugins, pedais, ferramentas novas para brincarmos. Em geral ouço música que não tem nada a ver com rock e me inspiro por elementos diferentes de gêneros diferentes. Quando eu apareço com músicas novas, elas são essencialmente diferentes das anteriores. Então começamos a tocá-las juntos, com todos os novos equipamentos, e elas soam diferentes. Mas ainda somos nós cinco, então inevitavelmente vai soar como nós. Não é ciência espacial — gostaria que fosse (risos). É só um fenômeno natural mesmo. Muitas bandas com quem converso ou com quem trabalhei como produtor frequentemente ficam com receio quando uma música é diferente demais das restantes. Mas o que eles não notam, muitas vezes, é que assim que começarem a tocar juntos, vão soar como eles mesmos. E aquela faixa esquisitona vai ser o destaque do álbum.

TMDQA!: Durante a série de vídeos em que fizeram um faixa-a-faixa, vocês foram bem abertos sobre o processo criativo. Qual diriam foi a música mais difícil de terminar e como vocês superaram essas dificuldades? Algum conselho para compositores?

Florim: “Kitty Kitty” foi provavelmente a música que mais demorou a ser concluída. Tínhamos muitas versões diferentes no início, e eram todas legais. Mas faltava algo. Eu não conseguia saber o quê. Estava cansado daquele clássico verso-refrão-verso-refrão-ponte-refrão. No fim de um dos nossos dias no estúdio, o Jop, nosso baixista, fez algo legal e eu estalei os dedos. Era aquilo. Baseamos a música toda em torno daquele riff e “Kitty Kitty” nasceu. Na maioria das vezes, quando canções levam muito tempo até serem concluídas, elas acabam não entrando no disco, porque não parecem boas, e nunca vão parecer. Esse foi um caso raro em que viramos o jogo. Diria que meu conselho é seja paciente com esse processo, ou não. Criatividade não é um recurso finito, então apenas faça outra coisa se você não consegue terminar uma música. Muitas vezes, parece que não vamos conseguir concluir uma canção, e então dois anos depois, conseguimos. Mona Lisa é uma música que eu basicamente comecei há oito anos, então…

TMDQA!: Sei que vocês já estão fazendo shows do álbum, então preciso perguntar: há planos de virem ao Brasil em algum momento próximo?

Florim: Devo dizer que a gente está recebendo uma resposta muito positiva do Brasil, então definitivamente estamos pensando em voar para a América do Sul. Gostaria de fazer isso ainda esse ano, ou então em 2020.

TMDQA!: O nome do nosso site tem muito a ver com a música estar sempre presente nas nossas vidas, nos bons e maus momentos. Sempre pedimos aos músicos com quem conversamos para falar do que andam ouvido. Como muitos de nós não conhecemos bandas da Holanda (e imagino que vocês talvez também não conheçam tantas bandas brasileiras), gostaria que você pudesse nos dar algumas dicas de grupos locais que andam curtindo ouvir ultimamente!

Florim: Legal! Deem uma ouvida nos nossos amigos da Jo Goes Hunting, Luwten, Indian Askin. E por favor, me digam alguns artistas legais do Brasil também!

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