Kimbra
Foto: Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

Não é de hoje que a gente acompanha aqui a evolução da Kimbra como uma das artistas mais originais no cenário pop.

Depois de despontar em “Somebody that I used to know”, de Gotye, ela talvez fosse colocada na prateleira dos one-hit-wonders… mas se recusou a ficar por lá. No mesmo ano (2011), lançou o álbum Vows, que trouxe o sucesso “Settle Down” e apresentou a forma criativa com que incorporava loops vocais às canções.

O épico The Golden Echo, três anos depois, mostrou um amadurecimento notório, trazendo arranjos mais encorpados. Ao mesmo tempo futurista e nostálgico, o disco saúda as divas do pop dos anos 90, abusa dos sintetizadores a là década de 80 e vai desembocar no jazz, na ousada faixa final, “Waltz Me To The Grave”.

Agora, Kimbra mostra um novo lado no terceiro disco, Primal Heart, lançado em 2018. O álbum mergulha fundo na eletrônica e no R&B e entrega letras confessionais, colocando o vocal da neozelandesa em primeiro plano como nunca antes. É com esse trabalho que Kimbra se apresenta em São Paulo no dia 18/01, em uma noite promovida pelo Monkeybuzz com abertura de Jaloo e DJ sets de Isadora Almeida (Popload Radio) e Cleber Facchi (Miojo Indie).

O Tenho Mais Discos Que Amigos teve a oportunidade de conversar com a artista por telefone sobre este novo momento da carreira e o retorno ao Brasil. Confira abaixo do serviço para o show:

Monkeybuzz Apresenta Kimbra

Abertura: Jaloo
DJ-Sets: Isadora Almeida, Cleber Facchi
Data: 18/01/2019
Horário: 21h
Onde: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82 – Sé) (metrô Liberdade)
Ingressos: Primeiro lote meia solidária promocional a 60 reais; Show + DJ-Set de Kimbra por 140 reais (lote único meia solidária)
Compra online: Ingresse

TMDQA: Oi Kimbra, obrigada por seu tempo! Quero falar um pouquinho sobre Primal Heart, claro. Mas estava reouvindo seus discos antes dessa ligação, e estava pensando que suas músicas sempre surpreenderam em algum sentido. Quer dizer, “Somebody That I Used To Know” fez muito sucesso, te deu um Grammy; Vows é um disco muito único pelo jeito criativo que você usa os loops; The Golden Echo é muito futurista, ao mesmo tempo que traz de volta os sintetizadores estilo anos 80 e até jazz. Então o que eu queria saber é, a seu ver, qual é o fator surpreendente de Primal Heart? O que faz ele se destacar na sua discografia?

Kimbra: Uhm… ótima pergunta. E obrigada por tudo que você disse. Acho que o que vai destacar o Primal Heart na minha discografia é que ele tem um foco muito maior na intimidade. É uma posição de vulnerabilidade em que eu nunca estive diante de uma plateia, algumas canções são as mais sinceras que já fiz. Acho que isso vem muito de ter o pé no chão com a maturidade, mas ao mesmo tempo mostra que ainda há uma inocência. Como você disse, o The Golden Echo era um disco muito surreal, grandioso. Nesse eu busquei passar mais uma noção de ser pessoal, e fala muito da minha experiência de amadurecimento enquanto mulher.

TMDQA!: Eu sei que você sempre foi uma artista que põe a mão na massa, você basicamente produz seus sons, é tipo uma banda de uma mulher só se precisar! Mas nesse disco você chamou bastante gente, de Skrillex a Natasha Bedingfield. Aliás, preciso confessar: amei, porque “Unwritten” foi tipo a trilha sonora da minha adolescência!

Kimbra: Nossa, a minha também! (risos)

TMDQA!: Caramba! Então, o que cada produtor e compositor trouxe pra acrescentar às músicas, e como você lida com isso – entregar seus bebês, suas músicas, pra outras pessoas darem pitacos?

Kimbra: Com certeza, é bem difícil às vezes. A questão pra mim é que… Na maioria das vezes, eu dou tudo de mim numa música. Programo as batidas, crio as demos para o vocal, exatamente como ela soa na minha cabeça. Só que chega um ponto em que eu bato num muro criativo, porque sinto que falta algo na canção, um contraste de ideias, alguém que seja completamente inesperado e que possa me abrir os horizontes para algo que eu não estava olhando. Isso vem muito de estar aberta a improvisar com os amigos, como foi com o Skrillex. A gente estava na casa dele e na hora surgiu a ideia para uma música, então fomos lá e fizemos (risos). Acho que abrir mão do controle é algo muito difícil pra um artista, mas o que eu considero mais importante é entender o que é melhor para a música, e envolver as pessoas certas que podem trazer o que ela precisa.

TMDQA!: Falando em equilíbrio, Primal Heart tem dois lados bem distintos — pelo menos pra mim. Você tem um monte de canções orientadas pro pop, e um segundo grupo mais introspectivo, especialmente “Version of me” e “Past life”, no final. Talvez “Everybody knows” seja o maior exemplo disso, porque ela começa super minimalista e vai crescendo, camada a camada. Como você monta a tracklist buscando o seu equilíbrio ideal?

Kimbra: Outra boa pergunta, porque a tracklist é muito importante pra mim, a ordem certinha que as músicas vão entrar no álbum. A gente vive na era em que as pessoas ouvem uma música sua apenas, numa playlist. E quando elas vão parar no disco, aí embarcam numa jornada com você. Eu já fazia isso de colocar as músicas mais calmas no final de outros álbuns — o The Golden Echo termina com “Waltz me to the Grave”, tem “The Build Up” no fim de Vows… Eu gosto disso, de diminuir o ritmo, não necessariamente com canções tristes. É mais sobre determinar o tempo, o andamento. No começo eu gosto de ter uma música que é um bom exemplo do que as pessoas vão encontrar ao longo do disco. Aí tem “The Good War” abrindo Primal Heart, que é mais ou menos o meio do caminho entre esses climas. Acho que ficou um bom equilíbrio.

TMDQA!: Bom você tocar nesse assunto dos streamings, porque eu notei que você não tem pressa com seus discos, né? Leva uns 3 ou 4 anos entre cada um e todos são relativamente longos, levando em conta que hoje em dia as pessoas pensam em 30 minutos pra um álbum, e o mercado é super voltado pro single. Claro que as pessoas ainda consomem bons discos e estão dispostas a isso, mas sem levar nada disso em conta, o que você pensa do formato do álbum? Essa ainda é a sua forma preferida de criar e de ouvir música?

Kimbra: Acho que um bom álbum é um sinal de um bom artista. É ótimo quando você encontra uma música incrível numa playlist, e quando ouve o disco inteiro, ele te mantém engajado, interessado. Isso pra mim é a marca de um grande artista. Também é uma decepção quando você ouve uma música incrível e depois descobre que no álbum isso não se mantém, que não houve bom material o suficiente pra te manter ouvindo. O álbum te torna atemporal, ele sobrevive à passagem dos anos e quando eu me for, a minha música vai continuar aí. É tipo uma cápsula do tempo, e um disco faz isso muito melhor que uma música só (risos).

TMDQA!: Falando em formatos diferentes, o que te levou a lançar um EP recriando as músicas de Primal Heart, de um jeito mais minimalista?

Kimbra: Bom, eu não conseguiria recriar o álbum inteiro, porque ficaria grande demais (risos). Mas eu queria dar uma amostra de algumas canções, recriá-las de forma muito espontânea. Eu buscava algo que fosse muito sincero, que pudesse remover tudo que não fosse necessário pra canção. Encontrar um co-produtor como o John Congleton foi importante porque ele trouxe uma visão muito parecida com a minha, e aí eu pude focar em ser a vocalista, sabe? E nós tínhamos tempo no estúdio, então tomamos a decisão de fazer algo muito determinado, intencional e eficiente. E acho que o EP mostra um outro lado do Primal Heart que as pessoas normalmente não veriam.

TMDQA!: Ok, sei que não temos muito tempo, quero só saber uma última coisa: acho que essa vai ser sua primeira vez no Brasil desde o Rock in Rio em 2013, certo?

Kimbra: Sim! Nem acredito que eu estou levando tanto tempo pra voltar!

TMDQA!: Pois é! Naquela época, você ainda estava divulgando o Vows, seu primeiro disco. E naturalmente, agora você está num outro momento da carreira. O quão diferente vai ser o seu show dessa vez — tirando o fato de que não vai ter o Olodum no palco! Como você vê sua performance ao vivo evoluindo ao longo dos últimos anos?

Kimbra: Bom, vai ser um show bem diferente! Na primeira vez eu tinha uma banda completa comigo, o Olodum… foi uma festa tribal! (risos) Dessa vez, vai ser uma abordagem muito mais eletrônica, porque há tantas possibilidades quando se trabalha com sintetizadores, texturas, manipulação vocal… Brincamos bastante com a voz, a batida vem dos samples e não temos uma bateria ao vivo, por exemplo. Eu adoro tocar com uma banda, mas às vezes eu sentia que muito se dissipava com tanta coisa no palco. Acho que esse formato eletrônico permite que as pessoas tenham uma relação diferente com a música, e é ótimo poder sentir essa resposta do público!

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