Black Eyed Peas - Masters Of The Sun, Vol. 1

Se você viveu o final dos anos 90 e a década de 2000, você certamente já ouviu alguma música do The Black Eyed Peas. O grupo, formado em 1995, ganhou visibilidade mundial com seu hip-hop alternativo, que aos poucos foi incorporando (muitos) elementos do pop. Tais elementos tornaram responsáveis por seus maiores sucessos comerciais.

O grupo deu uma pausa após o lançamento de The Beginning em 2010. Passaram-se 8 anos até que se consolidasse o material do novo álbum, Masters Of The Sun Vol. 1, lançado recentemente. A ausência de Fergie deu o contexto perfeito para que will.i.am, apl.de.ap e Taboo voltassem às suas origens de hip-hop de protesto. Críticas sociais e políticas são o principal gancho das novas canções. Mesmo afastado de sua sonoridade original, o grupo deu um tiro no escuro que acabou dando muito certo.

 

Fergie e o dance-pop

A presença de uma voz feminina entre os BEPs nunca foi novidade. Isso porque desde o início as canções tinham participações de mulheres. Foi o caso das cantoras Sierra Swan e Kim Hill, cujas vozes aparecem em músicas do álbum de estreia Behind the Front.

Mas a maior mudança nesse aspecto veio no ano de 2002. Foi quando Fergie entrou para o grupo. A adição e presença mais marcante de uma voz feminina contribuiu para que o álbum seguinte, Elephunk, fosse indicado a diversos prêmios.

Não apenas isso, o talento da cantora também contribuiu para que o grupo incorporasse novos elementos a sua sonoridade. Enquanto Fergie ficava com os refrães, os outros integrantes versavam com suas influências de hip-hop em letras que passaram a ter temáticas cada vez mais pop. Foi o momento em que o grupo explodiu para o mundo.

Foram quatro álbuns com Fergie na formação. Além de Elephunk, a cantora participou de Monkey Business (2005), The E.N.D. (2008) e The Beggining (2010). Sua recente saída apontou diversas especulações sobre uma possível substituta para representar a face feminina dos BEPs. No entanto, o lançamento de Masters Of The Sun Vol. 1 desmitificou tudo.

 

“Um mais um mais um é igual a três: o clássico Black Eyed Peas”

O álbum já começa com uma espécie de “Oi, estou de volta!” para a comunidade do hip-hop com a faixa de abertura “Back 2 Hiphop“. Nela, os três integrantes, somados pela participação do rapper Nas, celebram a cultura negra, citando desde as rimas do cantor Nat King Cole até os feitos do atleta Usain Bolt. O refrão, que repete os dizeres “de volta à vida, de volta à realidade”, utiliza samples de “Back To Life“, canção lançada pelo grupo Soul II Soul em 1989.

O clima de mudança continua em “Yes or No“, que versa sobre a necessidade de se tomar decisões na vida. Após o término do instrumental, a música é encerrada com as frases “Um mais dois é igual a três. Dois mais um é igual a três. Um mais um mais um é igual a três: o clássico Black Eyed Peas”.

A celebração do hip-hop “raiz” do grupo também se mostra através das participações especiais que compõem o álbum. Além de Nas, o disco também conta com Slick Rick (na faixa “Constant“), Ali Shaheed Muhammad (do A Tribe Called Quest), Posdnuos (do grupo De La Soul) e Phife Dawg (os últimos três na faixa “All Around The World“).

Masters Of The Sun Vol. 1 se desenvolve a partir dessa perspectiva ciente de mudança brusca na sonoridade de um grupo que se consagrou no pop. As faixas possuem mais peso crítico do que nos últimos quatro lançamentos. O álbum termina nessa pegada, com as faixas anteriormente divulgadas “Ring The Alarm” e “Big Love“. Os clipes, vale dizer, não poupam críticas sociais.

 

Tem pop? Tem também!

Se mudar faz parte de um artista, é preciso fazer isso com cuidado. Aliás, o grupo possui uma sólida base de fãs que aguardou ansiosamente por este lançamento, o primeiro em 8 anos. Manter algumas músicas com elementos do pop seria uma ideia inteligente para não afastar esses fãs.

O single “Dopeness“, com participação da rapper sul-coreana CL, fala de ascensão social e desigualdade de distribuição de renda. No entanto, elementos mais pop como um pegajoso refrão marcam presença na faixa.

O mesmo acontece com “Wings“, canção em parceria com Nicole Scherzinger, vocalista do extinto grupo Pussycat Dolls. A faixa se apresenta como uma das mais curiosas e interessantes de todo o álbum. Isso porque Nicole foi uma das opções para se tornar vocalista do BEP no início dos anos 2000, antes de Fergie ser confirmada. Antes mesmo da saída oficial de Fergie, especulações apontavam para a ex-líder das Pussycat Dolls como a nova voz feminina do grupo. Além disso, temos a evidente presença de samples de “Tom’s Diner“, de Suzanne Vega. A base da música também já foi usada pela banda Fall Out Boy na faixa “Centuries“.

No refrão de “4Ever“, quarta faixa do álbum, will.i.am divide os vocais com a cantora canadense Esthero. Ouvir essas músicas, diante de suas estruturas e referências, nos remete facilmente à presença marcante de Fergie no grupo.

 

O melhor álbum desde Monkey Business

O trio se arriscou ao sair de seu lugar comum do pop para voltar às suas origens do final da década de 1990. No entanto, era o momento certo para uma mudança. A fórmula usada desde 2003 pareceu cansar os fãs do grupo, em paralelo a uma perceptível queda de originalidade e de criatividade nas músicas ao longo dos álbuns.

Essa queda fica claramente mais perceptível em The Beginning, quando nenhum dos singles conseguiu atingir o topo da Billboard Hot 100. Uma certa falta de criatividade nas músicas assombrou também The E.N.D., apesar de recordes batidos por canções como “I Gotta Feeling” e “Boom Boom Pow“. O ápice da “era Fergie” definitivamente foi no excelente Monkey Business, quando o grupo melhor conseguiu explorar as camadas da música pop, indo desde canções acústicas até o uso de samples de surf rock para emplacar novos hits.

A volta do posicionamento crítico, no entanto, pode ser entendida como uma tendência dos dias atuais, em que artistas como Kendrick Lamar (com “Humble“) e Childish Gambino (com “This Is America“) conseguiram se destacar com músicas abertamente críticas. Portanto, pode ter sido um bom momento para o lançamento de novas músicas, ainda mais com a nova pegada inspirada na fase inicial do grupo.

Masters Of The Sun Vol. 1 definitivamente não é um regresso ao final da década de 90. É, sim, uma tentativa (bem-sucedida) de celebrar e de trazer para os dias atuais a sonoridade que uniu Taboo, apl.de.ap e will.i.am.

 

E agora?

No entanto, um questionamento que fica para a nova era do grupo, diante de todas as mudanças, está em como montar um repertório unindo as novas canções com as mais famosas (ou seja, as com Fergie).

Isso poderá ser avaliado aqui no Brasil durante a próxima edição do Rock in Rio. Os Black Eyed Peas se apresentarão na mesma noite de Anitta e P!nk, ou seja, estão inseridos em uma noite pop, com uma maioria de fãs do gênero. Estamos ansiosos para descobrir como isso vai acontecer.

Confira abaixo Masters Of The Sun Vol. 1 na íntegra:

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