Cartola
Foto: Wikimedia Commons

Por Gabriel Dias

A música erudita — ou, em outros termos, a “música séria” ou “música clássica” — demanda determinados conhecimentos prévios do ouvinte. Para sabermos se um concerto é bom, precisamos comer muito arroz com feijão ouvindo Bach, Mozart e Beethoven, por exemplo.

Além disso, a sala de concerto, por si só, é um ambiente musical intimidador. A música deve ser ouvida em silêncio e com total atenção aos detalhes sonoros da performance, pois já se espera um alto grau de elaboração melódico-harmônica naquela noite. Esse estudo prévio e esse ar intelectual, características da música erudita, criaram, desde sempre, uma certa hierarquia na qualidade da música. Estabelecido o “bom gosto musical” pelas elites, as outras práticas musicais do resto da sociedade passaram a ser chamadas de “música popular”. O historiador francês Roger Chartier bem que escreveu: “a cultura popular é uma categoria erudita”.

Relegadas, as músicas populares sempre se firmaram a partir de outras características: a popularidade, a coletividade e a espontaneidade. Claramente o oposto da música erudita. Enquanto que para o samba quanto mais gente cantar melhor, para um concerto quanto menos gente assistir mais culto aparenta ser o ouvinte. Mas a Orquestra Petrobras Sinfônica, não de hoje, tenta quebrar esses limites. Mais do que isso, tenta importar as características de valoração da música popular para a música erudita. O projeto quer chegar em mais gente, quer fazer o público cantar, quer suar e tirar a beca.

No mês de outubro, a orquestra lançou o Tributo a Cartola, com 11 músicas compostas ou interpretadas majestosamente pelo mestre do samba. A informalidade, a brincadeira e o (pseudo) amadorismo aparecem de cara, na música “O Sol Nascerá”, dando a impressão de que o concerto está fazendo uma roda de samba. Melhor, um samba de gafieira. Mas a segunda parte dessa música, em que a orquestra brinca com a melodia, não tem o mesmo swing de um samba. A informalidade desses músicos eruditos é muito formal. Falta a malemolência, o “escorregamento”. Falta o sangue negro nessa e em outras interpretações como “Preciso me Encontrar” e “Ensaboa”.

As músicas em que a orquestra respeita toda a melodia valem a playlist inteira. Sobretudo as mais conhecidas “O mundo é um moinho” e “As Rosas não falam”. A melancolia, o desânimo, o luto… todos os sentimentos que pesam o ombro do ser humano são potencializados. Parece que a orquestra, além de se debruçar sobre as músicas de Cartola, se dedicou em dar o tempo certo da tristeza.

Ouça o disco na íntegra logo abaixo!

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