Cena de 'A Casa que Jack Construiu'. Crédito: California Filmes
Cena de 'A Casa que Jack Construiu'. Crédito: California Filmes

Em cartaz no Brasil, A Casa que Jack Construiu, novo filme do polêmico diretor dinamarquês Lars von Trier, foi exibido na 20ª edição do Festival do Rio, que aconteceu entre os dias 1º e 11 de novembro.

Com roteiro do próprio cineasta, a partir do argumento desenvolvido por Jenle Hallund, a produção é estrelada por Matt Dillon, que dá vida ao personagem que aparece no título do longa. Jack, para a sociedade, é um engenheiro civil pouco sociável que sonha em construir a casa perfeita em um terreno afastado da civilização às margens de um lago.

O que ninguém sabe é que ele também é um serial killer que sofre de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), o que vem a calhar em relação aos crimes que comete, já que sua mania de limpeza o ajuda a escapar de qualquer acusação de assassinato. Sendo um grande apreciador de arte, Jack, na sua loucura, procura enxergar seu “desvio de comportamento” como algo que tenha um potencial artístico.

O filme, a exemplo de trabalhos anteriores de von Trier, é dividido em partes. Neste caso, o cineasta resolveu dividir o longa em cinco incidentes, cada um conta a história de uma morte diferente. Assim como em Ninfomaníaca (Volume 1 e 2), o diretor explora vícios da natureza humana.

Se na produção de 2013, estrelada por Charlotte Gainsbourg, a protagonista era viciada em sexo, desta vez o foco é no desejo incontrolável de matar. As vítimas de Jack são predominantemente mulheres, pois, misógino, ele as vê como seres inferiores, muitas vezes burras ou ingênuas, como se estes fossem motivos para acabar com a vida delas. Uma Thurman brilhantemente dá vida à primeira das vítimas de Jack vistas em cena.

Ao lançar mão de uma narrativa bem humorada e sarcástica, apesar da densidade da temática, além de ótimas atuações, von Trier consegue prender a atenção do espectador, que acompanha os desdobramentos dos crimes cometidos por Jack sentindo horror e interesse ao mesmo tempo. A estética da “câmera na mão” é outro recurso que cria forte impacto em quem assiste à A Casa que Jack Construiu.

Como não poderia ser diferente, além da violência explícita, o cineasta procura chocar o público com cenas perturbadoras e diálogos esquizofrênicos. Jack, por exemplo, desde o início da trama conversa intimamente com um narrador desconhecido, que a todo momento questiona as intenções e atitudes de Jack.

Na reta final do filme, conhecemos a figura do narrador, Virgílio (Bruno Ganz) e descobrimos que ele é quem vai conduzir o assassino a uma viagem sem volta às profundezas do inferno, em clara referência à Divina Comédia, de Dante.

Embora tenha algumas sequências longas demais, cansando um pouco a plateia na segunda metade de projeção, A Casa que Jack Construiu é mais um filme relevante na carreira de um diretor vaidoso, que faz, nesta nova produção, referência a si mesmo exibindo trechos de obras do passado, como Melancolia, de 2011.

A discussão entre o divino e o pecado faz o espectador refletir, e a partir da reflexão o público percebe como von Trier é mestre na arte de provocar e instigar o ser humano. Você pode não gostar do cineasta como figura pública, mas precisa dar o braço a torcer e concordar que existe uma genialidade cinematográfica naquela pessoa.

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