Tribalistas no Rio de Janeiro
Foto: Fabiano Leone

É impossível pensar no cenário da MPB do início dos anos 2000 sem pensar nos Tribalistas. É claro que também tivemos, ao longa da década, a consagração de Ana Carolina, Jorge Vercilo, Seu Jorge, Vanessa da Mata e outros… Mas o trio formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown roubou a cena ao juntar forças e seus respectivos conhecimentos musicais para composições brilhantes que marcariam a década.

Com seu álbum de estreia, o grupo teve um incrível desempenho. Músicas recorrentes nas rádios e novelas, conquistas de discos de platina e de diamante… Um fenômeno que havia lançado apenas um álbum até o ano de 2017. Quinze anos após o emblemático lançamento, o grupo juntou 10 novas faixas para compor seu segundo álbum homônimo.

No lançamento, o grupo manteve a pegada da MPB do novo milênio: temas cotidianos, presença marcante do som do violão, bastante percussão e raízes claras no samba e na bossa nova. Foi um ato ousado manter as referências mesmo passados 15 anos. Aliás, o cenário da música popular nacional mudou muito desde então. Mas se perguntarem se Tribalistas virou algo ultrapassado, precisaremos discordar.

A prova disso veio não só com o novo álbum, que reflete também questões atuais, mas com a turnê do grupo. Shows lotados ao redor do Brasil caracterizam a nova turnê dos Tribalistas que, por por causa da demanda, abriu datas extras em algumas cidades. Uma delas foi o Rio de Janeiro. O trio se apresentou no último dia 6, na Jeunesse Arena, e misturou modernidade com nostalgia em uma incrível apresentação.

 

A união de 3 lendas da MPB não poderia dar errado

Tribalistas no Rio de Janeiro
Foto: Fabiano Leone

A apresentação, marcada para as 20h, começou apenas às 21h. Na verdade, o atraso foi uma opção sensata do próprio grupo. Um acidente nas redondezas havia dificultado o acesso à arena. Chovia muito no dia, e isso também complicou a vida de quem resolveu ir de transporte público. Mas o acréscimo ajudou a encher a casa.

Dali em diante foram luzes, hits e carisma dos três integrantes, transformando a apresentação em algo mais grandioso do que já parecia ser. A parte visual também entregava a sensação de um grande show. Três telões, dispostos estrategicamente no palco, mostravam cada um dos membros. Isso enfatizava que o foco principal não era Marisa, teoricamente a “líder” do grupo. Carlinhos e Arnaldo eram igualmente mostrados. Os três, um ao lado do outro.

Carlinhos Brown não deixava o público relaxar, pedindo sempre interações, palmas e até uma ola. Marisa, que tinha à sua disposição dois microfones, não deixou em nenhum momento de agradecer o afeto do público com seu carisma único. Enquanto isso, Arnaldo fazia questão de se aproximar da ponta do palco sempre que possível, transmitindo uma contagiante animação.

A parte instrumental, no entanto, não ficou apenas por conta do trio. A banda de apoio contou com os nomes de peso Pretinho da Serrinha (percussão/cavaquinho), Marcelo Costa (bateria), Pedro Baby (guitarra) e Dadi Carvalho (baixo, guitarra, teclados e “tudo”, como brincou Antunes ao apresentá-lo).

 

Nostalgia das faixas antigas – e apreço pelas mais recentes

Tribalistas no Rio de Janeiro
Foto: Fabiano Leone

A faixa “Tribalistas” abriu o show com maestria. O público, animado, continuou a cantar de cor a letra de “Carnavália“, Logo depois, veio a nova “Um Só“, que foi tão bem recebida quanto. Era a euforia do público ou, como Carlinhos costuma falar, da “tribo”, mista em diversas idades. Alguns estavam contemplando os Tribalistas pela primeira vez ao vivo, mas cresceram ouvindo as músicas na rádio ou na televisão. Outros já tiveram a oportunidade de assistir a um show do grupo, mas há 15 anos e sem as músicas novas. A nostalgia era um dos motores principais do público presente.

Mas não só de passado vive o artista! Cabia ao trio provar que as faixas novas são tão boas quanto as antigas. Isso resultou em um repertório coeso, que mesclava as clássicas com as faixas do novo álbum, sem parecer forçação de barra. Com sua selist, o grupo construiu uma narrativa, que foi capaz de entreter o público até o último momento. Fluiu tão bem, de forma tão natural e rápida que parece estranho pensar que foram quase 30 músicas de repertório.

Escolher as músicas que entrariam foi um desafio para o grupo, que precisava ao mesmo tempo trabalhar na nostalgia de clássicos como “Carnalismo” e “É Você” e mostrar o potencial de faixas do novo material, como “Diáspora” e “Aliança“.

As parcerias entre os integrantes não datam de hoje e não se restringem ao Tribalistas. Arnaldo já compôs com Marisa e já compôs com Carlinhos, enquanto Carlinhos e Marisa já produziram juntos também. Todas essas parcerias, mais o projeto em trio, somam mais de 55 músicas! O show é conhecido não apenas pelas músicas lançadas pelo Tribalistas, como também é uma celebração a estas parcerias, a estas amizades, que geraram ótimos frutos. Dessa leva, entraram sucessos como “Amor I Love You” (composta por Marisa e Carlinhos), “Infinito Particular” e “Universo Ao Meu Redor” (ambas compostas pelo trio para serem lançadas na voz de Marina). Em determinado momento ao longo do show, Marisa e Arnaldo comentaram sobre tal dificuldade. “São muitas músicas. Músicas que nem são mais nossas; são de vocês”, concluiu Arnaldo antes de o grupo começar “Não É Fácil”.

O show foi se desenvolvendo calmamente, sem pressa e com delicadeza, até desencadear nas aguardadas performances de “Passe Em Casa” e “Já Sei Namorar“, ambas do disco de estreia. Após o já manjado pedido de bis, o grupo retornou para tocar novamente duas músicas que, apesar de já tocadas anteriormente, são populares e dizem muito sobre o legado do trio: “Velha Infância” e “Tribalistas“. O encerramento ainda teve direito a uma súplica dos integrantes (vale lembrar que era véspera de votação). “Viva a democracia, a arte, a educação, a liberdade de expressão e a diversidade!”, disse o trio, ainda antes do bis.

Confira abaixo a setlist completa e fotos da apresentação:

Tribalistas no Rio de Janeiro (06/10):
1 – “Tribalistas”
2 – “Carnavália”
3 – “Um Só”
4 – “Vilarejo”
5 – “Anjo da Guarda”
6 – “Fora da Memória”
7 – “Diáspora”
8 – “Água Também É Mar”
9 – “Um a Um”
10 – “Ânima”
11 – “Velha Infância”
12 – “É Você”
13 – “Carnalismo”
14 – “Aliança”
15 – “Até Parece”
16 – “Não É Fácil”
17 – “Sem Você”
18 – “Lá de Longe”
19 – “Lutar e Vencer”
20 – “Universo Ao Meu Redor”
21 – “Infinito Particular”
22 – “Consumado”
23 – “Amor I Love You”
24 – “Depois”
25 – “Trabalivre”
26 – “Passe Em Casa”
27 – “Já Sei Namorar”
28 – “Velha Infância”
29 – “Tribalistas”

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