Ultramen
Foto por Ricardo Lage

Ultramen está de volta!

Longos 12 anos depois de lançar seu último disco de estúdio, Capa Preta (2006), a banda gaúcha está divulgando um novo álbum de inéditas.

Trata-se de Tente Enxergar, que tem produção de Glauco Minossi e da própria banda, e sairá pela Hearts Bleed Blue Records na próxima sexta-feira (31). Mas como somos gente boa, você já pode ouvir o disco completo aqui!

Além disso, os membros do Ultramen também fizeram um faixa a faixa bem legal para explicar melhor cada canção do trabalho.

Leia abaixo! O player com o disco completo está ao fim da publicação.

1. “PINEAL”

TONHO CROCCO (vocal): “É uma música que tem uma marca bem forte neste álbum, que é o uso do talk box, uma influência do Roger Troutman, vocalista do Zapp. A letra fala sobre a indústria farmacêutica, a calcificação da glândula pineal, que é o que deixa a gente cego e burro. Apesar de ter internet, informação, comunicação, livro, ensino, as pessoas continuam cegas, burras e doentes.”

LEONARDO BOFF (teclados): “Foi muito em função do Tonho começar a usar o talk box, que me veio também elementos do Wah Wah Watson, que usou muito este efeito, embora com a guitarra. A partir dele, veio ainda algo das trilhas dos filmes blaxploitation, aqueles de ação, com diretores e atores negros americanos. Mas a música vai mais além na mistura de referências: temos sintetizadores à la Parliament e Brides of Funkenstein, batida pesada e guitarras que também remetem ao rock inglês de Black Sabbath e até do Pink Floyd, e enfim o reggae. Tudo isso se mistura, como já é de costume dentro das receitas da Ultramen.”

2. “TENTE ENXERGAR”

PEDRO PORTO (baixo): “É um reggae/raggamuffin com influências de dancehall e Augustus Pablo, que foi quase toda desenvolvida num programa de computador. Na hora de gravar, no entanto, a gente usou ‘instrumentos de verdade’ e o toca-discos que, nas mãos do DJ Anderson, não deixa de também ser um instrumento. O DJ, a propósito, utilizou um sample da banda de reggae gaúcha Motivos Óbvios na composição da música.”

TONHO CROCCO: “A letra traz uma mensagem bem-humorada sobre os atuais modos de enxergar a vida, a informação, a liberdade na internet para falar sobre as coisas e, ao mesmo tempo, a manipulação da mídia. É uma música que questiona o sistema, bem ao estilo Ultramen.”

3. “FALA POR TI”

TONHO CROCCO: “É uma brincadeira com uma gíria, aquelas piadas internas sobre todo mundo saber o que quer. Você está conversando sobre um assunto, aí alguém dá uma opinião, e o outro diz: não, fala por ti. A letra também fala de outras coisas, como o Tutti, um bar de Porto Alegre, frequentado por cartunistas, que já tentaram fechar várias vezes. Fala também dos lanceiros africanos que foram expulsos. É mais um ragga. O rap está presente neste disco, mas através do raggamuffin, que é o rap jamaicano. A primeira parte da letra fala daqueles assuntos que têm a ver com o falador, ‘o falador passa mal’. O cara está escutando. Aí, na segunda estrofe, vem o que realmente tem que ser dito. É o ‘eu falando por mim’.”

LEONARDO BOFF: “Tem esse lance todo do raggamuffin, com influências de Yellow Man e Pato Banton, mas também alguma coisa do groove que a gente curte e admira dos Beastie Boys, por exemplo. Além disso, pode-se também perceber algo latino e até do samba, se ficar bem atento. É a velha receita da mistura que pode acontecer horizontalmente ou até também verticalmente.”

4. “FELICIDADE ESPACIAL”

TONHO CROCCO: “A música é do Leo, e tem coisas ali que remetem ao Curtis Mayfield. A letra é sobre a vontade de sair do planeta, do lugar onde você mora, se mover para outro lugar mais tranquilo, colorido, saboroso, mais bacana para todo mundo viver.”

LEONARDO BOFF: “Quando a banda voltou, em 2013, e a gente fez um primeiro show no Opinião (bar em Porto Alegre), que lotou, tanto que tivemos que abrir uma nova data, rolou todo um clima de alegria para nós e para o público. Esse espírito contagiou muito a gente, e eu lembro que, depois de um dos shows, teve um post de Facebook do Pedro, em que ele fez uma referência a esse clima eufórico, colocando a música ‘Move on Up’, do Curtis Mayfield, e isso foi o impulso inicial para eu começar a ter a ideia dessa harmonia, da parte instrumental. Inclusive tem uns elementos de cordas que a gente conseguiu colocar com o DJ, tudo inspirado no clima desta música do Mayfield. E esse clima todo pra cima, mais festivo, que nas músicas anteriores da Ultramen não existia muito. Talvez seja a música mais diferente da banda até então.”

5. “TIVE TUDO”

TONHO CROCCO: “É sobre desapego de tudo, até da comida, que foi o mote do clipe, mas também desapego das coisas materiais e não-materiais.”

PEDRO PORTO: “É uma música que reúne vários dos elementos que identificam o som da Ultramen: linha de baixo regueira combinada com uma bateria energética, vocais raggamuffin com um refrão melódico, sintetizadores setentistas, as intervenções vinílicas do DJ Anderson e duas participações especiais: a guitarra de Dani Mossmann e uma previsão do tempo incidental do locutor Kennedy Arruda.”

6. “O CHAVEIRO”

TONHO CROCCO: “É uma música do Chico Paixão (guitarrista convidado da Ultramen), que tem uma pegada rock. Rolou no ensaio, veio uma melodia, e eu comecei a colocar uma letra falando sobre o fato do chaveiro trabalhar 24 horas, e ele tem que abrir as portas. Aí, veio um monte de coisas: o miolo, o segredo da chave, a analogia com relacionamentos, que a pessoa fecha a porta da casa. Tem aquela coisa dos três porquinhos com o lobo mau: pode soprar, que eu não abro. Aí, tem a casa de palha, a casa de madeira, vai soprando, vai soprando e tal, mas não abre a porta.”

7. “GOING CRAZY”

ZÉ DARCY (bateria): “Surgiu a partir de um instrumental que eu tinha composto e gravado há muitos anos. A letra fala de alguém que pode ser um(a) namorado(a), amigo(a) ou em qualquer outra relação, e que acaba vendo sua vida desmoronar por causa de seus ‘crimes’: inveja, talvez, e, principalmente, ‘loucura’. A base é um reggae meio esquisito com refrão pesado, destacando-se aí os scratchs com ‘Fast as a Shark’, do Accept, e ‘Loco En el Coco”, do Cypress Hill. A intro, que depois se repete no meio e no final, tem uma linha de teclado ‘fantasmagórica’ com inspiração em Zé Ramalho. Por fim, cabe destacar os vocais, compartilhados entre Tonho e eu.”

8. “HEDONISTAS HEDIONDOS”

TONHO CROCCO: “Mais um daqueles hardcores da Ultramen, que segue a linha já feita em ‘Padres Pedófilos’ e ‘Porcos do Inferno’, só que dessa vez, falando do hedonismo, essa coisa de ter prazer e fodam-se os outros. Então, a gente fala de diamante, por exemplo, porque todo mundo gosta de usar, mas não sabe sobre todo o sangue derramado na África para a sua extração. Essas coisas que a gente até sabe de onde vêm, mas parece fingir ou não querer saber.”

9. “BOOM CLACK”

TONHO CROCCO: “É uma música do Pedro, e rolou quando a gente estava participando do Miss Rio Grande do Sul, tocando ao vivo durante o concurso. Convidamos as meninas da Zhammp e a Negra Jaque para fazer um som na ocasião e acabamos gravando essa música depois do evento.”

10. “ROBOT BABY”

TONHO CROCCO: “Música e letra minhas, também com influência do Zapp. Foi a primeira música que a gente fez depois da pausa da banda, e eu fiquei muito feliz que a gente voltou com uma coisa nova. A gente já tinha usado discretamente o talk box em algumas músicas do passado, e nesse disco a gente usou mais intensamente esse efeito de voz. Então, é legal a banda voltar de uma parada de cinco anos com sonoridades diferentes, inclusive sonoridades de vocal diferentes. E a letra é uma brincadeira com essa robotização de tudo. Robot Baby é a garota robô.”

11. “O FUTURO É AMANHÔ

TONHO CROCCO: “Também com pegada Zapp, Funkadelic, Parliament. E a letra não tem muito o que explicar, porque fala dessa questão do tempo, do passado, presente e futuro, porque o futuro é amanhã, e o despertador toca na hora que a gente tem que acordar pro presente e pro futuro também. É uma letra curtíssima, o que é uma característica do Zapp também, que tem uma economia de letras. Menos é mais.”

12. “A HUMANIDADE”

TONHO CROCCO: “É uma música do Leo. Ele apresentou no ensaio, e eu achei linda a harmonia. Ele não sugeriu nenhuma melodia, fomos fazendo ali do jeito que fluía. A criação foi bem conjunta e tem um clima Beastie Boys, que eu vejo em outras músicas também. Tem uma grande participação do DJ Anderson. Acredito que seja bem especial pra ele, porque os toca-discos, por vezes, assumem o papel da bateria. Tem uma atuação muito grande do Anderson nessa música, que é também bem diferente do que a Ultramen estava acostumada a fazer e fala sobre o fato de a humanidade não estar legal. Trata um pouco sobre relacionamentos também, talvez uma metáfora, porque às vezes, nosso relacionamento não está legal, nossa vida não está legal, nosso emprego não está legal, o amor não está legal.”

LEONARDO BOFF: “Como o Tonho falou, parece ser uma das músicas que mais soam diferentes do perfil da Ultramen. Tem um refrão com uma progressão harmônica que pode remeter à alguma harmonia do Stevie Wonder, ou até mesmo do Tom Jobim. Coisa mais ligada ao jazz, talvez. Nada muito comum à Ultramen. Esse foi o impulso inicial da música. No entanto, toda a estrofe veio de uma ideia muito ‘groovada’ de um riff de baixo que veio do Pedro. ‘A Humanidade’ é o resultado da junção dessas duas partes bem distintas, que foram unidas nos nossos ensaios.”

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